Numa noite quente de agosto, um bando alforrecas bloqueou uma central gigante da energia nuclear — e encerrou 10% da capacidade de produção de França. Mas este foi um “incidente não-nuclear”, garante a empresa estatal que opera a central.
No passado domingo, um bando de alforrecas entupiu os filtros de água de refrigeração em Gravelines, uma central de seis reatores na costa do Mar do Norte de França. Quatro unidades encerraram automaticamente.
Aconteceu numa má altura, já que dois outros reatores já estavam desligados para manutenção, deixando o local temporariamente silencioso.
Segundo a revista europeia especializada em energia Montel News, o incidente basicamente eliminou 10% da capacidade nuclear do país.
O sistema, que retira água do mar de um canal ligado ao Mar do Norte, foi concebido para impedir a entrada de detritos.
Mas as alforrecas são flexíveis e escorregadias e passaram através das primeiras redes — acabando por ficar presas nos filtros secundários. O bloqueio daí resultante cortou o fluxo de água e desencadeou um encerramento automático.
A EDF, empresa estatal que opera a instalação, sublinha que não houve perigo e que este foi um incidente “não-nuclear”. Não houve danos nos reatores, nenhum risco para os trabalhadores ou para o público, e nenhuma perturbação significativa na rede nacional, disse a empresa.
Mas este tipo de problema está a tornar-se surpreendentemente comum, e as alterações climáticas só o estão a piorar, nota o ZME Science.
Embora tenha havido uma quebra de produção de energia, as consequências do episódio são definitivamente melhores do que outros resultados potenciais.
Aparentemente, os sistemas de segurança funcionaram como previsto e não houve qualquer risco real de danos nos reatores nucleares da central afetada — cujos funcionários estão agora a limpar os filtros. Assim que as alforrecas rebeldes sejam removidas, a central retomará a sua operação normal..
Os biólogos marinhos dizem que águas mais quentes prolongaram a época de reprodução das alforrecas no Mar do Norte.
“As alforrecas reproduzem-se mais rapidamente quando a água está mais quente, e como as áreas como o Mar do Norte estão a ficar mais quentes, a janela reprodutiva está a alargar cada vez mais“, disse à Reuters o biólogo marinho Derek Wright, consultor da Agência Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos, NOAA.
“As alforrecas também podem viajar em navios petroleiros, entrando nos tanques de lastro dos navios num porto e sendo frequentemente bombeadas para águas a meio caminho pelo globo”, acrescentou Wright.