Os Estados Unidos lançaram esta quinta-feira um novo robô para Marte, para recolher amostras de rocha que só vão ser enviadas para estudo para a Terra em 2031, dez anos depois de o engenho aterrar no “planeta vermelho”.
O Perseverance já enviou sinal a confirmar que está a caminho de Marte. “Isto significa que a rede para o espaço profundo do Laboratório de Propulsão a Jacto da NASA está agora ligada à nave”, disse Omar Baez, gestor do Programa de Serviços de Lançamento da agência norte-americana.
“Tudo parece estar a funcionar e hoje a contagem do lançamento correu lindamente”, acrescentou.
O lançamento foi feito, a bordo de um foguetão Atlas V, da base espacial norte-americana de Cabo Canaveral, na Florida, às 07:50 (hora local, 12:50 em Lisboa).
Trata-se da primeira missão que pretende recolher amostras de rocha, solo e poeira de Marte com destino à Terra, sendo liderada pela agência espacial norte-americana NASA, que já enviou outros robôs exploratórios para o planeta, mas com outros fins.
O robô Perseverance (Perseverança) tocará a superfície do “planeta vermelho” cerca de sete meses depois, em 18 de fevereiro de 2021, mais concretamente a cratera Jezero, onde terá existido um lago há 3,5 mil milhões de anos e um delta (foz de rio).
O local de aterragem é, por isso, considerado propício para a procura de sinais (bioquímicos) de vida microbiana passada em Marte, um dos objetivos da missão Mars 2020 Perseverance, uma vez que as moléculas orgânicas são muito bem preservadas por sedimentos de lagos e deltas.
Juntamente com o robô Perseverance, do tamanho de um carro, mas que tem seis rodas, um braço robótico, uma broca e vários instrumentos científicos, seguem os nomes de cerca de 11 milhões de pessoas de todo o mundo, registados em três ‘microchips’, e um engenho voador, semelhante a um minúsculo helicóptero, que irá testar um voo controlado noutro planeta.
O veículo robótico, que deve o seu nome a um estudante do Estado da Virgínia, tem na sua “bagagem” amostras de tecido dos fatos espaciais, que serão testadas aos efeitos da radiação, e instrumentos que permitem caracterizar o clima e a geologia do planeta e validar um método de produzir oxigénio a partir da sua atmosfera, rica em dióxido de carbono.
Para a NASA, a missão Mars 2020 Perseverance pode, assim, ajudar a desbravar o caminho para o envio de astronautas para a superfície de Marte, uma ambição que os Estados Unidos pretendem concretizar (e que o ex-Presidente Barack Obama chegou a admitir como sendo uma realidade na década de 2030) após conseguirem ter novamente astronautas na Lua (a primeira missão tripulada de regresso à Lua, depois da última em 1972, está prevista para 2024).
O robô Perseverance, equipado com câmaras e microfones, que permitem fornecer imagens e sons da sua aterragem e do seu trabalho em Marte, irá explorar o planeta durante aproximadamente dois anos, estando apto a recolher até 500 gramas de amostras de rocha, solo e poeira que se revelarem mais promissoras para a pesquisa de vestígios de vida.
As amostras serão acondicionadas pelo veículo em várias dezenas de tubos selados e “limpos” de contaminantes da Terra, podendo cada um guardar 15 gramas de sedimentos ou pedaços de rocha. Os tubos serão depois escondidos no solo marciano, em locais estrategicamente escolhidos.
Será preciso, no entanto, esperar por 2031 para que as amostras sejam enviadas para a Terra para serem analisadas pelos cientistas.
Uma nova missão, em que a NASA terá como parceira a Agência Espacial Europeia (ESA), tem início previsto para julho de 2026 com o lançamento para Marte de um segundo veículo robótico, que vai recuperar os tubos das amostras recolhidas pelo robô Perseverance.
A Mars 2020 Sample Return (Retorno de Amostra) é a missão que completa a Mars 2020 Perseverance e a mais complexa e demorada.
Depois de recuperadas pelo novo robô, que só chegará a Marte em agosto de 2028, mais tarde do que o tempo exigido para evitar as tempestades de poeira, as amostras terão de sair da superfície do planeta num recipiente transportado por um pequeno foguetão antes de serem capturadas por uma sonda colocada na órbita de Marte.
A viagem de regresso da sonda – de fabrico europeu, tal como o robô – à Terra está prevista apenas para 2031. Na aproximação ao ‘planeta azul’, o aparelho libertará uma cápsula que contém as amostras marcianas, que já aterrarão em solo americano em 2032, de acordo com os prazos estimados.
Na superfície de Marte funcionam atualmente dois objetos exploratórios, ambos operados pela NASA: o Curiosity, um veículo robótico com um laboratório que analisa localmente amostras de solo e rocha para aferir se Marte teve condições para albergar vida microbiana, e o InSight, uma sonda equipada com uma broca e um sismógrafo para estudar o interior do planeta.
Apesar de inóspito, Marte é considerado o planeta do Sistema Solar mais parecido com a Terra. Estruturas geológicas demonstram que, há muito tempo, água líquida, elemento fundamental para a vida tal como se conhece, abundava na superfície do ‘planeta vermelho’.
Segundo os cientistas, o planeta teve, no passado, um oceano maior do que o Ártico. Estudos apontam, com base em observações feitas em órbita e na superfície, para a presença de água líquida salgada e gelada em Marte.
O Japão planeia enviar, em menos tempo, uma missão robótica para Marte em 2024 para extrair amostras da superfície do planeta e transportá-las para a Terra em 2029.
ZAP // Lusa