Líder do PS mostrou claramente que não está disponível para negociar o Orçamento do Estado. Pode correr muito bem…ou muito mal.
A reunião entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos era a mais esperada, no que diz respeito a negociações sobre o Orçamento do Estado para 2025.
Mas o encontro de sexta-feira, em vez de aproximar o primeiro-ministro e o líder da oposição, aparentemente até afastou mais os dois políticos.
O PS continua a discordar das mexidas no IRS Jovem e no IRC, propondo por exemplo um aumento extra nas pensões, como alternativa.
Montenegro acha que a proposta que Pedro Nuno apresentou é “radical e inflexível”; Rui Rocha reagiu no mesmo dia, falando de uma “declaração de guerra” apresentada pelo secretário-geral dos socialistas.
Mas o discurso mais forte terá sido mesmo do próprio Pedro Nuno Santos, ao fim da tarde.
O líder do PS repetiu que não aceita as medidas sobre os dois impostos já mencionados, mas foi mais longe: o PS não aceita “nem as medidas que entraram na Assembleia da República, nem nenhuma modelação. Estas medidas são erradas, más e não há nenhuma modelação que as torne boas”.
Sobre o tema das “cedências e do meio caminho”, Pedro Nuno Santos deixou claro que nunca foi intenção do PS “chegar a meio caminho” na elaboração do documento.
Ou seja, Pedro Nuno Santos deixou uma ideia clara: não quer negociar. Ou até: não quer aprovar o Orçamento do Estado.
Já no domingo, alegou que o PS até só quer duas alterações, no meio de centenas de páginas. No resto, está pronto para concordar ou ceder – mas “não vai capitular perante o Governo”.
No entanto, as duas medidas referidas não são um pormenor no meio do Orçamento do Estado. São pontos centrais: impostos…
“Génio ou estúpido”
Esta postura (aparentemente) inflexível pode correr muito bem – ou muito mal.
Ao analisar esta decisão de Pedro Nuno Santos, o comentador Bruno Vieira Amaral lembrou-se do filme Perigo Público (1998), mais concretamente da cena que partilhámos no início deste artigo.
A certa altura, perante uma ideia louca, Gene Hackman diz a Will Smith: “Ou és incrivelmente inteligente, ou incrivelmente estúpido”.
Avançando 26 anos e estabelecendo uma relação com a política em Portugal, Bruno Vieira Amaral acha que esta “jogada” do líder socialista “pode ser genial, ou incrivelmente estúpida”.
Ou com algumas possíveis nuances pelo meio: “Pode ser um génio que é tomado por estúpido, ou alguém que está a fazer coisas aparentemente estúpidas mas que têm um plano ali por trás”, descreveu na rádio Observador.
Bruno considera que o PS poderia ter dito outra perspectiva desde o início: abstenção. Anunciava logo que se ia abster e ficaria fora das negociações. Assim ficava fora desta “novela”.
Mas a ideia, apesar de negada por Pedro Nuno, pode passar por “empurrar” o Governo para o lado do Chega.
Além disso, uma abstenção deste PS poderia ser vista como uma “humilhação” para Pedro Nuno – que quer fazer frente, combate político. Não abdica das suas convicções, como o próprio avisou.
João Miguel Tavares também acha que Pedro Nuno Santos se colocou numa posição “radical”, sem abertura para negociações ou cedências.
E mais: “O detalhe que ele colocou nas medidas que apresentou dá um ar de que ele é que quer ser primeiro-ministro. Quer ser o primeiro-ministro do primeiro-ministro. Isso é bizarro”, analisou, na SIC Notícias.