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“Passo maior que a perna”: Inapa falhou e vai para insolvência

Inapa Packaging Lda / Facebook

Inapa era líder no setor

Cerca de 200 trabalhadores com futuro incerto à medida que se confirma a insolvência como próximo passo da distribuidora de papel.

A insolvência é oficialmente o próximo passo da Inapa. Após meses de tentativas de negociação para viabilizar a empresa, o administrador judicial Bruno Costa Pereira anunciou o encerramento do período de negociações, reconhecendo a impossibilidade de revitalizar a companhia — uma decisão que deixa cerca de 200 trabalhadores com futuro incerto.

A distribuidora de papel, líder no setor em Portugal, já enfrentava dificuldades, agravadas por problemas de financiamento na sua subsidiária alemã e pela recusa do Governo em conceder um apoio financeiro de 12 milhões de euros. Em julho, a distribuidora de papel anunciou que iria pedir insolvência devido a uma “carência de tesouraria de curto prazo” da sua subsidiária alemã Inapa Deutschland GmbH nesse montante, para a qual não foi encontrada solução.

O desfecho é ainda marcado por uma troca de acusações entre antigos responsáveis da Inapa e o ex-presidente da Parpública, entidade que detinha 45% da distribuidora.

Durante audição esta terça-feira na Comissão de Orçamento e Finanças, Frederico Lupi, ex-CEO da Inapa, criticou a falta de ação da Parpública face às dificuldades da empresa, alegando que houve uma estreita comunicação com a entidade estatal, mas que esta não tomou medidas concretas para evitar o colapso.

“Passo maior que a perna”

Em resposta a Lupi, o antigo presidente da Parpública José Realinho de Matos disse no parlamento que o problema da Inapa é “mais estrutural do que conjuntural”, e que a distribuidora de papel “deu um passo maior do que a perna”.

“Desde 2020 que a Inapa tinha vindo a solicitar apoios públicos direcionados ao acionista Parpública”, começou por destacar o gestor durante a audição pedida pelo Chega.

O antigo responsável da gestora das participações estatais foi demitido pelo Governo em agosto de 2024 com a restante administração, A saída foi justificada com a existência de uma postura mais reativa do que preventiva da administração, bem como com a falta de prestação de informação atempada ao ministério, segundo o Jornal de Negócios.

Agora, lembrou a complicada situação financeira que a empresa já vinha a relatar e as quebras de cerca de 20% do mercado nos últimos anos. Nesse sentido, considera que a “empresa deu um passo maior que a perna”, nomeadamente na expansão na Alemanha.

“O relatório [de contas] do exercício de 2023 da Inapa tem 26 páginas sobre riscos. A empresa estava, de facto, com uma situação de endividamento e riscos variados”, apontou José Realinho de Matos.

Durante a audição, o responsável revelou ainda que a venda da participação da Parpública na Inapa “chegou a ser equacionada a nível nacional e falou-se se com algumas empresas do setor do papel”.

Perdas superiores a 8 milhões de euros

No relatório, divulgado no ano passado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a Parpública deu conta de uma imparidade na Inapa superior a 8,7 milhões de euros.

Segundo a entidade, “a cotação da ação com referência a 31 de dezembro de 2023 ainda não refletia a expectativa de perda por parte dos investidores, consubstanciando-se a necessidade de reforçar a imparidade relativa à participação que a Parpública detém no capital social da Inapa IPG”.

Além disso, nas contas da Parpública está refletido que o custo de aquisição de ações da empresa, de quase 19 milhões de euros, tem como quantia escriturada ‘zero’.

ZAP // Lusa

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