Escolas por todo o país estão a manter as salas de aulas com as janelas e as portas abertas, e com os aquecimentos desligados, para evitar a propagação de covid-19. Uma situação que está a revoltar os pais quando os dias estão especialmente frios.
Bruno Nogueira é um dos pais que está indignado com algumas das medidas que estão a ser tomadas nas escolas, seguindo recomendações da Direcção Geral de Saúde (DGS), no sentido de evitar a propagação da covid-19.
O humorista partilha no seu perfil do Instagram a mensagem que diz ter recebido da escola de uma das suas filhas, indicando que “as salas de aulas da escola não estão aquecidas” e que a Junta de Freguesia do estabelecimento “determinou que a caldeira fosse bloqueada”.
“É absolutamente inaceitável num Inverno tão rigoroso, com temperaturas de 6 graus pela manhã, que as crianças tenham de passar por isto. Não quero imaginar o que será em zonas com temperaturas ainda mais baixas”, lamenta Bruno Nogueira no Instagram.
“Entendo que estamos numa situação nunca antes vivida e que a adaptação não é fácil, mas se deixa de reinar o bom senso, o vírus passamos a ser nós“, conclui o humorista.
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Em resposta à publicação de Bruno Nogueira, outros pais e professores reportam situações semelhantes pelo país.
“Sou do norte! Cá, para além de não deixarem ligar o aquecimento, mantêm as janelas abertas” e “os miúdos levam cobertores para as aulas”, aponta uma seguidora de Bruno Nogueira.
Wanda Stuart critica que a filha vai para “um frigorífico”
Outra famosa que usa as suas redes sociais para se indignar com as recomendações da DGS neste campo é a cantora Wanda Stuart que aponta, igualmente no Instagram, que a sua filha mais vai para um “frigorífico” do que para a escola.
“Os nossos miúdos sujeitam-se a apanhar pneumonia“, aponta a artista, salientando que “não adoecem com o vírus”, mas “adoecem com coisas piores”.
“Mas este vírus tirou a capacidade de raciocinar a esta gente que nos “des”governa?!”, pergunta Wanda Stuart, lamentando que a filha “está sentada junto a duas janelas abertas” e, portanto, “mesmo no meio da corrente de ar”. “Inadmissível”, sustenta.
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Um dos seguidores de Wanda Stuart que se apresenta como professor destaca que os seus alunos “não conseguem escrever” por causa do frio.
Outra mãe que segue a cantora, no Instagram, destaca que a filha de 11 anos “vai com duas mochilas” para a escola, sendo que numa delas vai “uma manta polar porque não aguenta o frio e as correntes de ar na escola”.
Mantas na sala de aula em Escola de Serpa
Pelas redes sociais corre também uma imagem que terá sido tirada numa Escola Secundária de Serpa, no Alentejo, com um aluno embrulhado numa manta e de capuz na cabeça em plena sala de aula.
O professor Vítor Brasão que lecciona naquela Secundária assegura, no seu perfil do Facebook, que “não é montagem”. “Esta imagem e outras semelhantes repetem-se, de segunda a sexta, em muitas das salas de aula do nosso estabelecimento de ensino/agrupamento”, realça o docente.
A Secundária de Serpa, que tem 44 anos, tem “vários problemas”, como infiltrações, que fazem com que “chova dentro das salas”, e está a precisar de obras de requalificação, como refere o director do Agrupamento a que pertence, Francisco Oliveira, em declarações à Lusa.
Além disso, também tem falta de isolamento térmico e “uma rede eléctrica antiga e que não comporta a climatização”, o que impede que muitas salas tenham ar condicionado, segundo refere Francisco Oliveira. Portanto, os problemas já se sentiam antes da pandemia.
Deste modo, tem sido “muito comum” os alunos usarem vários apetrechos para tentarem combater o frio e se aquecerem.
A situação já era “complicada”, mas “agravou-se” neste Inverno com as normas da DGS que determinam que se devem “arejar salas”, através da abertura de portas e janelas, como constata o director do agrupamento.
“Agora, devido ao frio intenso, fecham-se as portas e quase todas as janelas das salas, mas, nos intervalos, abrem-se de novo para permitir o arejamento e, assim, qualquer aquecimento conseguido durante a aula vai portas e janelas fora e volta-se à temperatura ambiente”, relata Francisco Oliveira na Lusa.
O frio afecta também os professores que “tentam circular nas salas e há alguns que nos intervalos das aulas vão ao carro e ligam a ‘chauffage’ para aquecerem as mãos”, conta Vítor Brasão à Lusa.
Culpa é do Ministério, acusa Sindicato
Também na Escola Secundária Manuel da Fonseca, em Santiago do Cacém, no distrito de Setúbal, há relatos de alunos que levam mantas “e alguns aconchegos” para se protegerem do frio, como nota à Lusa a presidente da Associação de Pais do Agrupamento de Escolas de Santiago do Cacém, Célia Lopes.
“Já no ano passado e nos anos anteriores, os alunos levavam mantas para a escola, o que é demasiado desconfortável. Este ano, esta situação agravou-se devido à covid-19, que obriga a ter portas e janelas abertas”, lamenta a representante dos pais.
O presidente do Sindicato dos Professores da Zona Sul (SPZS), Manuel Nobre, acusa o Ministério da Educação de ser responsável pela situação porque “não permitiu a redução do número de alunos por turma“.
“É natural que salas de aula com quase 30 alunos e pouca distância entre eles tenham de ter janelas e portas abertas para permitir o arejamento e uma melhor circulação de ar”, aponta Manuel Nobre em declarações à Lusa.
“Nada se fez e era expectável que acontecesse o que está a acontecer e que é uma situação preocupante e que prejudica o processo de ensino-aprendizagem, mas, por questões de saúde pública, naturalmente que os professores têm de ter portas e janelas abertas”, conclui o dirigente do Sindicato.
Costa não quer fechar escolas contra opinião de especialistas
António Costa já sublinhou que a intenção do Governo é manter as escolas abertas, mesmo que venham a ser agravadas as restrições devido ao aumento do número de novos casos de infecção.
O primeiro-ministro alertou que “há um grande consenso hoje entre os técnicos e os especialistas de que não se justifica afectar o funcionamento do ano lectivo“.
O secretário de Estado Adjunto, João Costa, veio notar que é preciso “prevenir outra pandemia”, ou seja, os efeitos negativos do ensino à distância “que é sempre um remendo”, considerou.
Também o secretário-geral da Federação Nacional de Professores (Fenprof), Mário Nogueira, defende o ensino presencial, alertando, contudo, que deveria estar a realizar-se em “condições que não estão a ser observadas”, nomeadamente quanto ao distanciamento social e à falta de rastreios.
Já o pneumologista Filipe Froes defende, em declarações ao Jornal de Notícias (JN), que “é necessário um encerramento progressivo da actividade presencial nos sectores não essenciais e nas escolas, com excepção das creches”.
O especialista Bernardo Gomes, do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, nota, por seu turno, que é preciso “ponderar a suspensão da actividade escolar presencial dos alunos mais velhos“, como cita o JN.
“Fechar as escolas 15 dias é uma solução para travar a velocidade de contágio” que está “galopante”, avisa, por seu lado, Carlos Antunes, da Faculdade de Ciências de Lisboa, também em declarações ao JN.
Susana Valente, ZAP // Lusa
Coronavírus / Covid-19
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