Dezenas de ensaios que testaram medicamentos GLP-1 como o semaglutide (o medicamento do Ozempic e do Wegovy) sugerem que este tipo de tratamentos são capazes de reduzir significativamente o risco de demência.
Um estudo publicado esta segunda-feira no JAMA Neurology revelou que o Ozempic e o Wegovy podem reduzir significativamente o risco de demência.
Os medicamentos utilizados para a diabetes e a perda de peso, conhecidos como agonistas do GLP-1, já tinham sido associados a uma ligeira redução do risco de demência, mas, até agora, as conclusões eram baseadas em estudos observacionais que analisaram apenas os registos de saúde.
Agora, o novo estudo combinou os resultados de 26 ensaios clínicos com mais de 160.000 participantes, em que uma série de medicamentos GLP-1 foi administrada a pessoas com diabetes de tipo 2 que ainda não tinham sido diagnosticadas com demência ou défice cognitivo, testadas contra um placebo.
Os investigadores concluíram que a toma destes medicamentos parece reduzir significativamente o risco de desenvolvimento de demência ou de deficiência cognitiva durante os períodos mínimos de acompanhamento de seis meses dos ensaios.
Como nota a New Scientist, a diabetes pode ser um fator de risco para a demência, pelo que tem sido sugerido que o simples controlo dos níveis de açúcar no sangue produz este efeito protetor. Mas o novo estudo sugere que os efeitos protetores dos medicamentos GLP-1 vão além do controlo do açúcar no sangue.
Embora o mecanismo exato não seja claro, estes medicamentos têm sido associados a uma redução da inflamação, sendo a neuroinflamação cada vez mais reconhecida como uma causa de demência.
Ao reduzir a inflamação crónica, estes medicamentos podem retardar a morte celular no cérebro, explciou, à New Scientist, Catriona Reddin, da Universidade de Galway, na Irlanda, que fez parte da investigação.
Os fármacos GLP-1 também podem proteger contra problemas cardiovasculares, como a acumulação de placas nas artérias e a hipertensão arterial, que, de outro modo, poderiam causar demência.
Reddin admite, no entanto, que o período mínimo de acompanhamento de seis meses da análise foi relativamente curto e afirma que “devem ser realizados grandes ensaios para estudar especificamente o efeito da terapia de redução da glicose na demência e no declínio cognitivo”.
Como refere a New Scientist, dois ensaios clínicos que investigam o semaglutide como terapia para a doença de Alzheimer precoce deverão ser concluídos ainda este ano.