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Ocidente deve aliar-se à China, Índia e Brasil. Putin mudou a “cena internacional” com “guerra inútil” e de “um homem só”

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Andrey Gorshkov / Sputnik

O Presidente russo, Vladimir Putin.

O Presidente russo, Vladimir Putin.

O ex-embaixador português na ONU, António Monteiro, acredita que mesmo que Kiev caia haverá sempre “um conflito latente” e é impensável que a Rússia consiga dominar totalmente a Ucrânia.

Em entrevista à TSF e ao DN, António Monteiro considera que, neste momento Putin é “imparável”. O antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros e ex-embaixador português na ONU acredita ainda que o líder russo não alcançaria os seus objetivos na Ucrânia “utilizando a via negocial”, mas acha que a guerra é “inútil”.

O diplomata confessa que não achava que a guerra fosse acontecer, dado o estatuto da Rússia como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. “Penso que, nesse sentido, Putin nos enganou, mas talvez também nos tenhamos enganado a nós próprios”, afirma.

Biden já afirmou que acha que Putin quer restabelecer a União Soviética, mas António Monteiro duvida, considerando que o chefe de Estado, ao contrário de Lenine ou Estaline, que tinham “alguma contenção e algum filtro provocado pela estrutura do partido”, está “completamente isolado”. Esta é uma “guerra de um homem só“.

O ex-Ministro acredita que a ameaça de Putin “uniu a Europa”. “Deixámos de ter aquelas decisões que têm de ser tomadas depois de grandes consultas burocráticas e discussões? Não, as decisões aqui eram políticas, não eram burocráticas, e foram políticas e foram tomadas”, afirma.

Mesmo com as pesadas sanções, Putin não tem sido dissuadido, algo que “angustia” António Monteiro, que não vê outras saídas. “Devemos não estar apenas num confronto entre Rússia e Ocidente, mas arranjar mais parceiros – e sei que é difícil -, mas deveríamos estar em permanente contacto com países que não estão aliados connosco”, sugere, apontando para a China, a Índia ou o Brasil.

“A China tem, pelo menos em relação à Rússia, um aspeto positivo, não é uma potência agressiva, portanto, é trazê-los para o nosso lado, tal como deveríamos fazer com a Índia”, considera, lembrando que a Pequim sabe que a ordem internacional  “lhe tem sido favorável” e afirmando o gigante asiático “vê sempre na Rússia uma ameaça e uma ocupação da Sibéria e da Ásia”.

Monteiro descarta a possibilidade da China também avançar agora com uma intervenção militar em Taiwan. “É completamente diferente, o que está em causa relativamente a Taiwan é a questão da democracia, das liberdades, do sistema que é diferente. A China tem a famosa diplomacia da paciência e, portanto, não tem necessidade nenhuma de entrar nisso”, antecipa.

Mesmo que Kiev caia para as tropas russas, há ainda uma “incógnita enorme“. “Putin ocupa a Ucrânia e Kiev para quê? Alguém pensa que ele vai poder dominar um país como a Ucrânia? É impensável. Haverá sempre um governo no exílio e haverá sempre um conflito latente”, prevê.

O diplomata acredita que Putin já pôs em causa a “ordem internacional de forma deliberada”, já que um dos “países guardiões” das Nações Unidas, que eram o “garante de paz internacional”, destruiu os “princípios em que eles participaram depois da Segunda Guerra Mundial”.

A cena internacional “será completamente diferente“, com os EUA, a China, Índia e a UE a beneficiarem e serem potências “hard power”. O conflito já causou outras transformações com o corte de relações entre Moscovo e Berlim e a eventual adesão da Finlândia e da Suécia à NATO.

António Monteiro aplaude ainda postura do Governo, que está “muito integrada na Europa”, o que é uma “tradição da diplomacia portuguesa”. É uma avaliação positiva, não apenas para nós, mas é positivo para toda a Europa e para a NATO”, remata.

Adriana Peixoto, ZAP //

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