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O que pensa o primeiro-ministro sobre o SNS? Costa respondeu (mais ou menos)

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José Sena Goulão / Lusa

O primeiro-ministro, António Costa

António Costa foi desafiado a responder a seis questões acerca do atual estado do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Terá deixado os portugueses esclarecidos?

Na passada sexta-feira, no jornal Público, o médico António Sarmento escreveu uma carta a António Costa, desafiando-o a responder a seis questões que “milhões de portugueses gostariam de ver esclarecidas”, sobre o SNS.

O primeiro-ministro aceitou o desafio, mas talvez não o tenha conseguido cumprir…

Logo na primeira pergunta, o chefe de Serviço de Doenças Infecciosas do Centro Hospitalar Universitário de São João (Porto) perguntou a António Costa se achava que “a abertura recente de dezenas de hospitais privados, já em número superior ao dos públicos, se deveu à falta de resposta do setor público ou ao contributo do Estado para a viabilização destes investimentos ou a ambas as coisas”.

Na resposta de António Costa, esta segunda-feira, não houve nenhuma referência direta sobre a relação “cada vez menos respostas no setor público” e “cada vez mais hospitais privados”.

Relativamente à pergunta “acha que o SNS estará, de forma suicida, a reforçar os seus próprios concorrentes, nomeadamente pagando 10 euros líquidos por hora a um especialista graduado com um horário de 40 horas e vários anos de experiência, em vez de melhorar as condições para não os perder?”, António Costa voltou a não responder de forma direta.

O primeiro-ministro argumentou, apenas, que a nova regulamentação da dedicação plena dos médicos, pode vir a assegurar “ganhos remuneratórios e melhoria da organização do seu tempo de trabalho”, bem como “a garantia de mais e melhores cuidados aos cidadãos”.

À terceira foi de vez

Na parte final da carta de António Costa, pôde constatar-se, finalmente, uma resposta (um bocadinho) mais objetiva.

“Quais são os planos para, se por impossibilidade de concorrer com o setor privado, o SNS ficar cada vez mais depauperado de médicos, e as suas instituições sem qualidade científica, formativa, clínica e humana, sabendo-se que milhões de portugueses não têm alternativas?”, questionou António Sarmento.

Apesar de ter insistido em a desviar-se do tema dos “privados”, aqui, efetivamente, o primeiro-ministro falou em planos e reconheceu a necessidade de uma revolução no SNS, que passa por “reforçar recursos, organizar gestão da capacidade, otimizar o modelo de prestação de cuidados e qualificar instalações e equipamentos”.

Mas a objetividade de Costa foi como o sol – e o SNS – em novembro

Nas quarta e quinta questões, o professor catedrático na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) perguntou se estaríamos a caminho de “um sistema para pobres, com o que resta do SNS, e outro para ricos?” e do fim do setor público da saúde, entregando-se aos privados a saúde dos portugueses e “livrando-se [o Estado] de um sistema que é uma fonte de despesas e preocupações?”. António Costa voltou a evitar a razão objetiva destas perguntas.

O Chefe do Governo argumentou, apenas, que “o SNS tem assegurado aos portugueses enormes ganhos em saúde, colocando Portugal nos lugares cimeiros em indicadores de saúde. Sucesso que não foi colocado em causa mesmo no maior teste que teve na sua existência, com a resposta à pandemia, onde Portugal se destacou de forma inquestionável”.

António Costa continuou a escrever (só) os números positivos do SNS – “até setembro o SNS tinha assegurado 25 milhões de consultas nos cuidados de saúde primários, 9,9 milhões de consultas hospitalares, 617.000 cirurgias e atendido 4,6 milhões de episódios de urgência. Tudo valores acima de 2015: + 12,2% de consultas nos cuidados de saúde primários, + 11,7% de consultas hospitalares, + 27,9% de cirurgias e + 2,1% de atendimentos de episódios de urgência” -, ficando, então, a ideia de que os serviços estão saudáveis.

Costa está ciente ou não?

Na derradeira questão, António Sarmento perguntou a Costa se estava “ciente de que estamos na iminência de uma catástrofe que pode causar a perda de muitas vidas”, mas, mais uma vez, não houve resposta clara.

O primeiro-ministro preferiu responder apenas à questão geral “o que pensa sobre o SNS?”, sublinhando que, realmente, o fez.

De acordo com o quarto parágrafo da carta, António Costa pensa o seguinte: “A aprovação em 2019 de uma nova Lei de Bases da Saúde foi uma afirmação clara e inequívoca do SNS público, universal e tendencialmente gratuito como a coluna vertebral do sistema de saúde, e penso que isso responde à sua interpelação direta sobre aquilo que penso do SNS“… Esclarecidos?

Concluindo: António Costa acabou por não conseguir responder, diretamente, às questões/”preocupações” que se propôs abordar.

Será que os “milhões de portugueses” ficaram a saber se o primeiro-ministro está ou não ciente de que Portugal está na iminência de uma catástrofe “que pode causar a perda de muitas vidas”?

“Senhor primeiro-ministro, acredite que lhe desejo uma boa e longa saúde, mas as possibilidades de a manter começam a diminuir a partir na nossa idade”, escreveu António Sarmento, no final da sua carta.

“Não permita que este património humano e de saber acumulado seja desbaratado”, concluiu.

Miguel Esteves, ZAP //

3 Comments

  1. Para quê, ouvir o coveiro do SNS e que já demonstrou toda a sua incompetência ao longo destes 8 anos. Só diz “balelas” e não assume a sua responsabilidade. Está há 8 anos a governar e em todo este tempo não viu /ouviu os sinais que o sistema dava de rotura e onde pára a sua gestão previsional?

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