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Novembro dramático: hospitais de norte a sul à beira da rotura. Médicos recusam horas extra

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Mário Cruz / Lusa

Não há médicos para assegurar as escalas. Cerca de 40 hospitais estão condicionados e 90% dos seus serviços de urgência estão indisponíveis. Obstetrícia, Pediatria, Cardiologia e Medicina Interna são os mais afetados.

E confirma-se: com mais de 40 hospitais do país condicionados, novembro prepara-se mesmo para ser um mês “dramático”, tal como o diretor executivo do SNS, Fernando Araújo havia avisado.

Cerca de 90% dos seus serviços de urgência encontram-se indisponíveis devido à falta de médicos para assegurar as escalas, segundo os mais recentes dados divulgados esta quarta-feira pelo movimento “Médicos em Luta”. O problema já afeta a totalidade dos 101 hospitais públicos do continente inclusive as maiores unidades de Lisboa e Porto, avança o Correio da Manhã.

A lista online mostra as unidades hospitalares e as especialidades que estão mais afetadas: Garcia de Orta (Almada), Amadora – Sintra, Aveiro, Barcelos, Barreiro, Braga, Bragança, Castelo Branco, Caldas da Rainha e Torres Vedras, Coimbra, Leiria, Covilhã, Évora, Famalicão e Santo Tirso, Faro, Figueira da Foz, Vila Nova de Gaia, Guimarães, Guarda, Leiria, Centro Hospitalar de Lisboa Central, Santa Maria (Lisboa), São Francisco Xavier (Lisboa), Beatriz Ângelo – Loures, Matosinhos, Penafiel, Portalegre e Elvas, Portimão, São João (Porto), Santo António (Porto), Póvoa de Varzim, Santa Maria da Feira, Santarém, Setúbal, Viana do Castelo e Ponte de Lima, Vila Franca de Xira, Vila Real-Chaves-Lamego e Viseu serão os mais afetados.

Foram contabilizados 19 serviços em que 100% dos médicos pediram escusa, como – entre outros – os casos das unidades hospitalares de Santa Maria da Feira, em ortopedia, Viana do Castelo e Ponte de Lima, em cirurgia geral, Garcia de Orta, em Pediatria e Neurologia, Guimarães, em obstetrícia, e Barcelos e Caldas da Rainha, em cirurgia geral.

Também 25 de 55 agrupamentos de centros de saúde (ACES) estão a sentir os efeitos do protesto às horas extraordinárias. Na zona Norte estarão a ser afetados 15 ACES, enquanto no Centro três e no Alentejo um. Em Lisboa, serão seis os ACES a sofrer com o impacto da falta de médicos.

Os serviços de urgência de Obstetrícia, Pediatria, Cardiologia e Medicina Interna são os mais afetados. A maioria dos hospitais justifica os encerramentos com a necessidade de concentrar médicos em outros hospitais para aumentar a eficácia na resposta.

Vila Real

A urgência ortopédica do Hospital de Chaves vai fechar durante o mês de novembro devido à necessidade de concentrar os recursos médicos de ortopedia na unidade hospitalar de Vila Real.

O CHTMAD solicita a todos os utentes que, antes de se deslocarem a um serviço de urgência, façam um contacto prévio com a Linha SNS 24 — 808242424 — que disponibilizará aconselhamento e encaminhamento, em situações de doença e medicação. Pede ainda que, em situações urgentes ou emergentes, seja contactado o 112 e que se aguardem indicações por parte do operador.

No sábado, centenas de populares e autarcas do Alto Tâmega vestiram camisolas pretas e protestaram contra o fecho de serviços no hospital de Chaves previsto para o mês novembro devido à indisponibilidade dos médicos para realizar mais horas extraordinárias além das 150 previstas na lei.

Para além do fecho da urgência de ortopedia, pode ainda estar em causa o fecho de outros serviços como a urgência médico-cirúrgica e ainda a urgência pediátrica, tendo esta última encerrado em vários períodos, desde a Páscoa, com o atendimento aos utentes em idade pediátrica a fazer-se na sede social do CHTMAD, em Vila Real.

Braga

O Hospital de Braga teve de encerrar 12 camas de cuidados intensivos, devido à falta de médicos.

Segundo o Público, o serviço de urgência de Ginecologia e Obstetrícia e Bloco de Partos estão encerrados desde as 8h desta quarta-feira e assim permanecerão até sexta-feira, vindo a abrir no sábado, dia 4, às 8h.

Porto

O Hospital de São João, no Porto, já tem de receber doentes para cirurgia de outros seis hospitais.

O Hospital de Santo António, no Porto, “está a funcionar em pleno”, disse o assessor António Barros, informando, contudo, que “a partir de 6 de Novembro os serviços de Medicina Intensiva vão ter uma redução de 46 para 36 camas” no internamento.

Aveiro

A urgência de cirurgia do Hospital de Aveiro está encerrada e vai permanecer fechada até às 8h00 de quinta-feira.

A urgência de Ortopedia/Traumotalogia do Hospital de Santa Maria da Feira encerra de noite, entre as 20h00 e as 8h00, sendo os utentes aconselhados a recorrer ao Hospital de Gaia.

O Centro Hospitalar do Baixo Vouga dá conta de que a urgência de Cirurgia Geral encerra por 24 horas entre as 8h de dia 1 e as 8h de dia 2 de Novembro e solicita aos utentes que se dirijam às “unidades hospitalares mais próximas”.

Viseu

As urgências de Cirurgia e Ortopedia do Centro Hospitalar Tondela-Viseu fecham em novembro das 19h00 às 8h30, com os doentes a serem encaminhados pelo CODU para o Hospital de Coimbra.

A via verde coronária estará inativa por 12 dias, avisou a administração daquela unidade, que ativou o plano de contingência.

Guarda

A situação no Hospital da Guarda é a que concentra mais problemas: as urgências de Cirurgia Geral estarão encerradas todo o mês; o serviço de Urgência vai estar sem atendimento em medicina interna e cirurgia geral no feriado desta quarta-feira e em todas sextas, sábados e domingos durante o mês de novembro.

O hospital da Guarda está integrado na ULS da Guarda que abrange 13 concelhos, com um total de 150 mil habitantes.

No Hospital Sousa Martins — Unidade Local de Saúde da Guarda —, não haverá serviço de urgência da Ortopedia aos sábados e domingos, durante todo o mês.

Nos primeiros dias de outubro, a diretora da Urgência avisou que a situação pode vir a ser catastrófica, segundo as suas próprias palavras, tendo em conta que o Hospital da Guarda se encontra num território com “um número de médicos muito limitado” e com um grande volume de doentes institucionalizados a necessitar de cuidados.

Leiria

A Urgência Ginecológica/Obstétrica do Centro Hospitalar de Leiria (CHL) está fechada até segunda-feira por falta de médicos. A unidade de saúde pede às utentes para em situações urgentes se dirigirem às maternidades de Coimbra.

Em publicação, o CHL recomendou a todas a grávidas ou utentes com problemas urgentes do foro ginecológico que contactem a Linha SNS 24 (808242424), que “poderá dar todo o apoio especializado e encaminhamento para a unidade de saúde mais apropriada”.

“Em situações urgentes, as utentes poderão dirigir-se à Maternidade Dr. Bissaya Barreto ou à Maternidade Dr. Daniel de Matos”, ambas em Coimbra, adiantou o CHL.\

“Os constrangimentos em causa afetarão unicamente o funcionamento da Urgência de Ginecologia/Obstetrícia e do Bloco de Partos”, precisou o CHL.

Barreiro-Montijo

O Centro Hospitalar Barreiro-Montijo tem de encerrar a urgência pediátrica em novembro entre quinta-feira e segunda-feira.

Antes de se dirigirem ao hospital, os utentes devem contactar o SNS 24 (808242424) ou em situações de emergência o 112. Se necessário, podem recorrer à urgência do Hospital de São Bernardo, em Setúbal, e do Hospital Garcia de Orta, em Almada.

No entanto, o Hospital de Almada anunciou que a sua urgência pediátrica está igualmente encerrada desde quarta-feira no período noturno, entre as 20:00 e as 08:00 — também não consegue fazer escalas devido à recusa de mais horas extraordinárias para além do limite legalmente previsto.

Amadora-Sintra

O Amadora-Sintra terá a urgência da Pediatria a funcionar apenas 12 horas por dia, a partir desta quarta-feira, das 8h às 20h.

A urgência de Ginecologia e Obstetrícia passou a funcionar apenas ao fim-de-semana, quando antes encerrava apenas quinzenalmente aos sábados e domingos.

Lisboa e Vale do Tejo

Na zona de Lisboa e Vale do Tejo só cinco das 14 urgências de pediatria é que estão a funcionar em pleno, de acordo com a TSF: a do hospital de Santarém, Vila Franca de Xira, Cascais e, em Lisboa, as urgências pediátricas do Santa Maria e do Dona Estefânia.

Caso a afluência de utentes aumente, o Hospital de Santa Maria já tem preparado um plano de contingência para reforçar a capacidade de resposta numa altura em que os médicos recusam-se a fazer horas extraordinárias.

Évora

Em Évora, o Hospital do Espírito Santo (HESE) vai funcionar com uma equipa reduzida a dois médicos no período noturno da urgência pediátrica até sexta-feira.

Para serem atendidos neste serviço, desde hoje e até sexta-feira, no período noturno, entre as 21h00 e as 09h00, é necessário que os utentes “sejam referenciados pelo CODU/INEM, pela Linha de Saúde 24 ou por outros médicos”.

Haverá acordo na carga horária, mas não salarial

Ainda não há acordo entre Ministério da Saúde e sindicatos, que exigem aumentos de 30% enquanto o Governo não sobe acima dos 5%.

Nas recentes rondas de negociações, um compromisso em relação à redução do horário de trabalho das 40 para as 35 horas semanais e das horas de urgência das 18 para as 12 terá sido alcançado. O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) revelou esta quarta-feira que médicos e Governo não chegaram a acordo sobre os aumentos salariais, mas consolidaram os avanços negociais em outras matérias, como férias e tempo de trabalho no serviço de urgência.

No final da nova ronda negocial entre o Ministério da Saúde e o SIM e a Federação Nacional dos Médicos (Fnam), que começou na quarta-feira ao final da tarde e terminou pelas 00:00 de hoje, o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha, garantiu que “há uma grande vontade de chegar a acordo” sobre as questões salariais.

A ronda negocial que estava prevista para sexta-feira foi adiada para sábado, a pedido da Federação Nacional dos Médicos (Fnam), revelou o Ministério da Saúde esta quinta-feira.

Na terça-feira, no intervalo da última reunião com o Governo, os sindicatos médicos disseram estar ainda “muito longe” de um acordo, mas o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, diz estar “francamente otimista” para um acordo esta sexta-feira; os sindicatos dizem estar tudo nas mãos do Governo.

As negociações entre o Ministério da Saúde e o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e a Federação Nacional dos Médicos (Fnam) iniciaram-se em 2022, mas a falta de acordo tem agudizado a luta dos médicos, com greves e declarações de escusa ao trabalho extraordinário além das 150 horas anuais obrigatórias.

ZAP // Lusa

2 Comments

  1. Ainda gostava de perceber como não há médicos para as urgências, havendo para fazer consultas de rotina, para estarem nos internamentos ou a fazer cigic’s. Será que os médicos estão isentos de trabalhar, podem não fazer horas extras mas continuam a ter de trabalhar 40 horas por semana. Onde andam os gestores hospitalares??? quem fiscaliza os horários de trabalho e o seu cumprimento ??? Assim é fácil com tantas benesses nem sei como não pedem 50% de aumento e continuarem em teletrabalho como foi na Pandemia.

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