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Novembro vai ser “dramático” se não houver acordo com os médicos. “Lisboa vai arder”

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António Pedro Santos / Lusa

O ministro da Saúde, Manuel Pizarro

Lisboa vai ficar a arder e novembro poderá ser o pior mês dos últimos 44 anos no SNS. “Médicos têm razão”: aumento proposto do limite anual de horas extraordinárias não é justo.

O diretor executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS) avisa que se os médicos não chegarem a acordo com o Governo, novembro poderá ser o pior mês dos últimos 44 anos no SNS.

Em entrevista ao Público, Fernando Araújo revela que a reorganização das urgências estará pronta até final do ano e que, dentro de pouco tempo, só poderá ir às urgências quem for enviado pela linha SNS24, por um médico ou por outro hospital.

A poucos dias de uma nova reunião entre os sindicatos médicos e o Ministério da Saúde, o diretor executivo do SNS teme que novembro seja um mês “dramático” e deixa um apelo aos médicos: “Temos de reclamar direitos, mas de uma forma que seja eticamente irrepreensível”.

“Lisboa vai ficar a arder”

Em resposta, a presidente da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) Joana Bordalo e Sá acusa o ministro da Saúde de ser intransigente e responsabiliza o Governo de falta de ética.

“Onde há uma falta de ética é no facto de os médicos em Portugal não só estarem exaustos, mas também terem um dos salários mais baixos da Europa. Esta questão de estarem a colocar as escusas para não fazerem mais do que as 150 horas extraordinárias por ano, que é o seu limite legal, tem impacto nos serviços de urgência, que têm encerrado”, disse, de acordo com a TSF.

“Qualquer morte que aconteça será da inteira responsabilidade da equipa ministerial liderada pelo doutor Manuel Pizarro”, sublinhou.

“A Federação Nacional dos Médicos tem muitas propostas em cima da mesa, esperemos que o Governo nos ouça de uma vez por todas, porque, tal como na dança do tango são precisas duas partes, também têm que estar sincronizados na música”, refere.

Helena Terleira, do Movimento Médicos em Luta, recorda que os médicos já tinham avisado do “drama”.

“De facto, o mês de novembro vai ser dramático se não houver acordo, mas isto está previsto desde o início de setembro, quando apresentámos a nossa carta. Agora que se aproxima o momento em que as minutas dos hospitais de Lisboa vão entrar em vigor e que Lisboa vai ficar a arder é que está tudo muito preocupado”, lembra.

Aumento das horas extraordinárias? “Médicos têm razão”

Sobre o aumento proposto do limite anual de horas extraordinárias das atuais 150 para 250, que os sindicatos médicos têm recusado, Araújo diz que os médicos têm razão e sublinha que é preciso encontrar “modelos que reduzam a necessidade de horas extras, que se consiga pagar melhor aos médicos pela atividade normal programada”.

Em declarações ao jornal Público, o ministro da Saúde Manuel Pizarro disse compreender que as horas extraordinárias sejam muito penosas para os profissionais.

“Tenho consciência da insatisfação com que muitos médicos hoje vivem as condições de exercício da sua atividade profissional. E tenho consciência de que tenho que ser capaz de inverter essa situação em diálogo”, frisou o ministro.

“Mudança cultural significativa” nas urgências

O diretor executivo reconhece que a reorganização das urgências vai implicar alterar a rede e o mapa [de serviços de urgência], sublinhando: “Temos que ser muito objetivos relativamente à capacidade de resposta que temos. Não podemos ter urgências que estão um dia por semana abertos, outro dia fechados”.

Ainda sobre os serviços de urgência, adianta que estão já a ser reorganizados, mas que a questão das 150 horas extraordinárias dos médicos, que nas últimas semanas se recusam a ultrapassar o limite anual de trabalho suplementar, “acabou por mudar o foco do processo”.

Dá o exemplo de projetos-piloto que afirma estarem a funcionar bem, como o da Póvoa de Varzim-Vila do Conde, afirmando que, neste caso, conseguiu evitar-se muitas idas às urgências, explicando: “O SNS24 consegue ir à agenda [dos médicos de família] para marcar consultas para o dia seguinte, ou para o mesmo dia”.

“Agora, a urgência continua ainda a ser utilizada de forma indevida por alguns utentes, que, por falta de informação ou de confiança, acabam por optar por ir ao hospital sem ligar ao SNS24. Mas nesta segunda fase que vai agora avançar – estamos a trabalhar na questão jurídica e temos uma versão que acho que cumpre todos os requisitos – a urgência será realmente referenciada”, acrescentou.

Acrescenta que esta opção é possível do ponto de vista legal, desde que de tenha capacidade de resposta alternativa: “Não se pode dizer ao doente que não pode ser atendido, mas sim que a urgência não é o melhor local para ser atendido, e que tem uma consulta agendada no dia seguinte no centro de saúde, no seu médico de família, ou até no hospital”.

Recorde-se que em declarações ao jornal Público, Manuel Pizarro disse compreender que as horas extraordinárias sejam muito penosas para os profissionais.

“Tenho consciência da insatisfação com que muitos médicos hoje vivem as condições de exercício da sua atividade profissional. E tenho consciência de que tenho que ser capaz de inverter essa situação em diálogo”, frisou o ministro.

Apesar da “consciência”, Pizarro deu a entender que – no seu ponto de vista – o (bom) funcionamento dos serviços de urgência é da responsabilidade da “deontologia” de cada médico.

Confio na altíssima diferenciação dos médicos e isto não pode chegar ao ponto de colocar em causa a vida e a saúde dos portugueses”, atirou.

Pizarro disse ainda que as urgências só funcionam porque há médicos dispostos a trabalhar mais do que o suposto: “foi sempre assim”.

“Nos últimos 44 anos, desde que existe Serviço Nacional de Saúde, só foi possível que as urgências funcionassem porque os médicos aceitaram fazer um número muito elevado de horas extraordinárias”, disse, citado pela agência Lusa.

O ministro acrescentou que tais serviços funcionaram sempre “na base da boa vontade dos médicos que aceitavam fazer horas extraordinárias em quantidades muito significativas e, desse ponto de vista, não há nenhuma mudança”.

Sublinha o diretor-executivo que está será “uma mudança cultural significativa, que tem que ser acompanhada de informação e de formação”. “Por um lado, terá que haver uma revisão do SNS24 e temos que criar nos cuidados de saúde primários uma capacidade de atendimento, entre as populações que estão a descoberto, de termos consultas todos os dias, também ao fim de semana e aos feriados, como acontece na Póvoa de Varzim”, explica.

Sobre a urgência pediátrica, admite que o caminho será a concentração de respostas, como já acontece no Norte do país. “Temos mesmo que replicar os modelos que todo o mundo usa e, portanto, que concentrar esta resposta de urgência com alguma coerência”, refere.

 

8 Comments

  1. Gosto desta questão dar urgências só passarem a aceitar doentes enviados pela Linha SNS…
    As pessoas se vão às urgências é porque precisam e como não encontram vaga nos centros de saúde a unica opção é as urgências… se à centros a marcar no inicio do mês as consultas para o mês todo como depois vão responder aos restantes utentes que adoecem a 1/2 do mês?
    Certo que muitos vão por coisas menores e outros dão 1 simples espirro e já querem ir ao médico mas teremos sempre destes casos e certamente serão n.º residuais…
    Basta ver no periodo das gripes que as urgências ficam com tempos de espera de 10, 12, 15 horas ou até mais… os centros de saúde vão ter capacidade de resposta??? claro que não…
    Mas vamos aguardar e ver no que a coisa dá…

  2. Isto é como tudo, não se esqueçam que a população Portuguesa em menos de 3 anos praticamente Duplicou e os serviços de saúde continuam com os mesmos Serviços ou menos, quando pensaram aceitar os emigrantes deviam se ter preparado antes tanto no serviço de saúde como em outros serviços.

  3. Já não há paciência para tantas “balelas” e incompetência.
    Ora, ontem a solução era isto, hoje outra coisa e amanhã será aquilo….
    Até se chega ao cúmulo do 1º Ministro sugerir ligar para a Saúde 24 antes de recorrer às urgências. Seria, assim, se houvesse resposta de 1ª linha, que todos sabemos que não há e o recurso às urgências, com todos os seus padecimentos à sua volta, é a única solução que resta a quem não tem outros recursos. Pobre país, cujos governantes, desde há 8 anos, estão a ser os coveiros do SNS, mas não têm a coragem de o assumir.

  4. Como é possivel isto não ser motivo para passar um atestado de incompetencia a estes politicos?
    e depois virem dizer que o problema foi dos anos 80 e 90!
    Gravidas que não sabem para onde ir, urgencias fechadas medicos de familia não há, Tudo de pantanas e a piorar de ano para ano! Se estes que lá estão há 8 anos nada fizeram se calhar é melhor desistirmos todos e entregarmos o pais á UE para ver se eles fazem algo.
    Ja estou a dar a dica para fazerem como fizeram com a crise da habitação que prontamente escreveram á UE para eles resolverem.
    Mas com um PR tão acertivo se calhar fica tudo na mesma mais dois anos e só depois é que isto implode.

  5. Nenhum Politico , irá sofrer de falta de Assistência Médica na Hora para não dizer no Minuto !……..a partir de esta verdade cada Um que tente perceber como é considerado o SNS do qual nós dependemos na grande maioria ! . Se uma hecatombe acontecer este inverno en particular por falta de assistência Medica atempada, como vamos qualificar os Óbitos ? …. Quem será responsabilizado ? .

  6. Se o problema é o excesso de horas extras e falta de médicos, por que razão se o ministro der aumentos de salários que os médicos pretendem esse problema desaparece… estranho !!! Gostava de ver um comparativo da produtividade dos nossos médicos em comparação com o resto da Europa.

  7. eles que passem no H.Cascais!! equipas a trabalhar como maluquinhos, mas mantendo um sorriso e compreensão com doentes e familiares. o SO tem dezenas de macas coladas umas às outras, ninguém se consegue mexer. Não há camas vagas nas enfermarias. Infelizmente a saúde em Portugal está a ser tratada por políticos ou incompetentes ou desprezíveis, ou ambos.

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