Ossos encontrados em Espanha mostram sinais de canibalismo antigo que dizimou família de 11 pessoas

IPHES-CERCA

Os investigadores encontraram sinais de canibalização em ossos humanos, incluindo o fémur deste bebé, que tem marcas de percussão para extração de medula

Centenas de pedaços de ossos datados de há 5700 anos têm indícios de terem sido processados e comidos por outros humanos, reforçando a ideia de que o canibalismo era comum no período Neolítico.

Um estudo publicado esta quinta-feira na Scientific Reports revelou os detalhes restos humanos esquartejados numa caverna no norte de Espanha.

Todos os ossos tinham sinais de que estes indivíduos tinham sido comidos por outros humanos.

Alguns tinham marcas de corte, indicando que a pele das pessoas tinha sido cortada com ferramentas de pedra, enquanto outros eram translúcidos com bordos ligeiramente arredondados, sugerindo que tinham sido cozidos.

Como detalha a New Scientist, alguns dos ossos mais compridos tinham sido partidos com pedras, provavelmente para extrair e comer a medula, enquanto os mais pequenos, como os metatarsos e as costelas, apresentavam marcas de dentes humanos.

O estudo acrescenta provas de que o canibalismo era mais comum do que se pensava ao longo da história da humanidade.

El Mirador – onde ocorreram as escavações – é, pelo menos, o quinto sítio com fortes indícios de canibalismo em Espanha no período Neolítico, quando as pessoas passaram da procura de alimentos para a agricultura.

A razão pela qual os humanos se comiam tanto é menos certa. Em alguns sítios, as provas, incluindo taças de crânio, sugerem que o canibalismo pode ter tido um objetivo cerimonial. Noutros, parece ter sido um meio de sobrevivência durante períodos de fome extrema.

Mas o novo estudo aponta mesmo para a guerra.

A abundância de restos de animais e a ausência de sinais de stress nutricional nos humanos indicam que esta comunidade agrícola primitiva não enfrentou a fome, dizem os investigadores. Além disso, não encontraram sinais de ritual, com os restos humanos misturados com ossos de animais.

Família de 11 pessoas dizimada

A idade dos indivíduos variava entre menos de 7 e mais de 50 anos, sugerindo que uma família inteira tinha sido dizimada num conflito.

A datação por radiocarbono revelou que as 11 pessoas foram mortas e comidas numa questão de dias.

Este período parece ter sido cada vez mais marcado pela instabilidade e pela violência, uma vez que as comunidades entraram em conflito com os vizinhos e/ou com os colonos recém-chegados por causa do território.

Estudos etnográficos de humanos que se comiam uns aos outros em guerras ao longo da história sugerem que o canibalismo era uma forma de “eliminação final”.

“Achamos que o facto de um grupo matar o outro grupo e depois consumi-lo é uma forma de o humilhar”, disse, à New Scientist, o líder da investigação, Francesc Marginedas, do Instituto Catalão de Paleoecologia Humana e Evolução Social (IPHES), em Tarragona, Espanha.

As práticas de canibalismo são muito mais antigas do que se julga. Uma descoberta recente – que também foi levada a cabo em Espanha – chocou a ciência ao revelar que há 800 mil anos os humanos arcaicos comiam as suas crianças.

ZAP //

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