Rhydian Evans

Os cientistas encontraram uma nova espécie de verme-pénis no Grand Canyon, que foi batizada Kraytdraco spectatus, numa referência ao dragão de Star Wars.
Em setembro de 2023, uma expedição científica ao Grand Canyon revelou um fóssil invulgar que está a intrigar paleontólogos. A equipa, liderada por Giovanni Mussini, doutorando em paleontologia na Universidade de Cambridge, explorava depósitos rochosos com 500 milhões de anos, do período Câmbrico, quando se deparou com dentes fossilizados pertencentes a um predador pré-histórico peculiar: um verme priapulídeo.
Estes vermes são conhecidos também por outro nome: “verme-pénis.” “Têm… uma forma peculiar”, explica Mussini.
As escavações foram agora detalhadas num estudo publicado na revista Science Advances, permitiram identificar dois tipos distintos de dentes minúsculos — um afiado e outro com protuberâncias semelhantes a penas. Surpreendentemente, ambos pertenciam à mesma espécie, batizada Kraytdraco spectatus, numa referência ao dragão subterrâneo da série The Mandalorian, de Star Wars.
O K. spectatus media entre 15 e 20 centímetros e possuía uma faringe retrátil armada com dentes dispostos em espiral. Diferente de outros priapulídeos conhecidos, esta espécie exibia, além dos dentes pontiagudos na borda da faringe, anéis concêntricos de dentes “emplumados” no interior — uma característica inédita no registo fóssil. Segundo Mussini, esta configuração poderá ter permitido ao animal raspar sedimentos e carcaças com os dentes externos, enquanto os internos filtravam partículas alimentares mais finas.
Com nome inspirado no deus romano da fertilidade, os priapulídeos são considerados dos primeiros predadores especializados da história da vida animal. No período Câmbrico, escavavam sedimentos, devoravam presas inteiras e desempenhavam um papel fundamental na engenharia dos ecossistemas marinhos. Vestígios destes vermes já foram encontrados em depósitos fossilíferos excecionais na China e nos famosos Xistos de Burgess, no Canadá, refere a National Geographic.
Atualmente, sobrevivem cerca de 20 espécies de priapulídeos, muito mais pequenas, medindo apenas alguns milímetros. Os cientistas acreditam que estas criaturas sofreram um processo de miniaturização ao longo de milhões de anos, mantendo, contudo, características anatómicas-chave que lhes permitiram atravessar 500 milhões de anos de evolução.
Para Mussini, a descoberta não só amplia o conhecimento sobre a diversidade e adaptações dos predadores do Câmbrico, como reforça a importância do Grand Canyon como local de estudo da vida primitiva. “Quanto mais olhamos para estes fósseis, mais percebemos que o passado estava cheio de criaturas extraordinárias que ainda têm muito para nos ensinar”, conclui.