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Nota artística: um clássico que valia 14 pontos

Chegámos.  

Chegámos ao grande jogo do campeonato. Desta vez aparece no calendário só a meio de Janeiro, mas cá está ele. O grande jogo.

“Ai não! Há Sporting, há Boavista, há Braga!”. O Sporting e o Boavista foram campeões há uns anos. Foram. Mas os últimos 18 campeonatos foram ganhos, ou por Futebol Clube do Porto, ou por Sport Lisboa e Benfica. Todos. E, nas últimas 38 edições, 35 foram conquistadas por um destes dois clubes.

Este é o grande jogo.

Estes são os campeões.

Farrokh Bulsara: é o nome que constava no bilhete de identidade do artístico Freddie Mercury.

Mercury protagonizou um dueto famoso com Montserrat Caballé, uma das mulheres mais famosas de sempre de Barcelona.

Barcelona: a cidade que viu crescer, parcialmente, o autor do primeiro golo deste encontro. Belo toque de Seferovic e bela finalização de Grimaldo, que veio de uma bela cidade.

Que horizonte tão bonito para o Benfica…que durou pouco.

Na sequência de nova bonita combinação ofensiva, o FC Porto igualou. A dupla mais ofensiva esteve nesse momento. A quem deve ser atribuído o golo? Taremi ou Marega? Ficou a dúvida para toda a gente. A equipa portista é que não ficou com dúvidas de que tinha marcado e celebrou.

Quem estava com pouca conversa e muita ação era o Benfica. O total de 18 faltas na meia hora inicial era sobretudo resultado de uma intensidade maior dos lisboetas do que na maioria dos jogos anteriores. E – a maior surpresa – resultado de uma intensidade maior do que a do campeão. Os apóstolos estavam a lutar, positivamente, pelo direito de disputar a vitória. E pelo campeonato.

Apesar dessa luta, dessa intensidade, a primeira parte nunca foi interrompida. Daquelas interrupções longas, por causa de lesões, confusões… Nada.

A primeira paragem prolongada surgiu após uma falta dura de Nuno Tavares, já na segunda parte, que deixou Corona lesionado. Corona esteve a mostrar as marcas. Olha este… Tu é que tens deixado marcas no mundo, que pode virar uma selva.

A dureza prolongou-se, os protestos também, até que foi mostrado um cartão vermelho, depois de o árbitro ter ouvido música nos auscultadores. E ainda foi ver o teledisco ao YouTube antes da decisão. Foi sem querer, mas Taremi justificou a expulsão. Depois do encontro, Pepe também aceitou a expulsão mas queria o mesmo desfecho para Pizzi. “Inaceitável!” – disse.

FC Porto com 10 jogadores contra um Benfica com 11. Tenho a impressão de ter visto isto há pouco tempo.

Antes, cartão vermelho para um banco, mais tarde novas paragens, cartão amarelo para os dois bancos… E andámos nisto.

O primeiro tempo não tinha deixado essa sensação mas, ao longo da segunda parte, realmente houve sensação de clássico habitual: muitas faltas, muitos protestos; agora cometo esta falta, agora mais uma; depois vou protestar com o árbitro, depois vou protestar com o banco adversário…

Só novidades.

O resultado também não mudou desde o intervalo. Na fase final (tal como na maioria do tempo), o Benfica procurou mais a baliza contrária, atacou mais vezes e rematou mais vezes. Durante os últimos minutos quis acelerar o jogo, enquanto o FC Porto quis e conseguiu acalmar o ritmo. E também criou momentos de sobressalto lá na frente.
Mas a igualdade manteve-se. Jogo duro, faltas, pouco espaço.

O que também não mudou foi a classificação. O Sporting havia empatado com o Rio Ave, horas antes. Um ponto para o Sporting, um ponto para o Porto, um ponto para o Benfica… Ai não. As contas do filho de Deus são outras: o Benfica perdeu dois pontos no Dragão. “Perdemos dois pontos. Perdemos dois pontos. Perdemos dois pontos”. Analisando a quantidade de vezes que Jesus deixou esta ideia, após o clássico, fiquei a pensar: afinal, este jogo valia para aí uns 14 pontos.

Depois de empates ou depois de vitórias, a peculiaridade do discurso do filho de Deus nunca se altera.

Nuno Teixeira, ZAP //

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