Noite memorável, que entra para a história do futebol. Nove golos, lances estranhos, decisões duvidosas e incerteza – literalmente – até ao último segundo.
“O que é que se passa em Lisboa…?”
Ao espreitar diversos meios de comunicação social europeus, ainda durante o jogo ou logo após o apito final, era fácil encontrar perguntas do género. A Europa estava fascinada com o Benfica 4-5 Barcelona.
Não é preciso sair do universo benfiquista para nos lembrarmos de um 4-4 em Leverkusen contra o Bayer, ou de um 6-3 em Alvalade contra o Sporting; curiosamente na mesma época.
Ou, saltando uns anos, e para o século XXI, uma famosa final da Liga dos Campeões entre AC Milan e Liverpool (3-3), um ainda mais famoso Barcelona 6-1 PSG, ou mais recentemente a final do Mundial 2022 entre Argentina e França (3-3).
Provavelmente, nenhum chega a este nível.
Talvez porque envolve uma equipa portuguesa e toca-nos mais, talvez porque era contra o Barcelona, talvez porque o jogo teve praticamente de tudo, talvez porque a muita chuva deu outro ambiente, talvez porque foi mais emocionante do que quase todos os outros – excepção só para o Barcelona-PSG.
Quando, praticamente aos 90 segundos, Pavlidis marcou o primeiro, já estava a dar o sinal do que iria acontecer na Luz. Depois Pavlidis, depois Pavlidis. Pelo meio, Lewandowski reduziu. 3-1 ao intervalo. Na segunda parte, Raphinha marcou, Ronald Araújo também mas na própria baliza. 4-2 a um quarto de hora do fim. Tudo controlado? Não. Mais uma grande penalidade (já lá vamos) marcada por Lewandowski, Eric García empatou e no último ataque do jogo Raphinha outra vez e 4-5 fechado.
Resta dizer que, pouco antes deste último golo, Di María esteve sozinho em frente à baliza, mas não conseguiu marcar. O desfecho teria sido outro.
Já tinha havido momentos estranhos, sobretudo protagonizado pelos guarda-redes: Szczęsny esteve mal em dois dos golos (também já lá vamos) e Trubin praticamente ofereceu a Raphinha o primeiro golo do brasileiro.
As duas manchas
Mas qual foi o real elemento estranho durante este jogo histórico? O árbitro.
Danny Makkelie veio dos Países Baixos para manchar momentos decisivos. Não esteve ao nível do jogo.
E não vamos fazer de conta que não ajudou o Benfica, num primeiro momento: aquela grande penalidade devido a alegada falta de Szczęsny sobre Aktürkoğlu… Após várias repetições, repete-se a ideia: o guarda-redes do Barcelona nem tocou no jogador do Benfica. Claro que também se pode ter outra perspectiva: se o turco não saltasse, teria sido derrubado.
Mas o pior foi na segunda parte.
Primeiro, a grande penalidade devido a alegada falta (de quem?) sobre Yamal. Carreras coloca a mão no ombro do compatriota e até lhe puxa ligeiramente a camisola; a queda do jovem do Barcelona foi o teatro que faltava para convencer o árbitro. Mas o cartão amarelo foi na direcção de… Otamendi. Sabemos que, oficialmente, o amarelo ficou registado para Carreras. Mas o leitor pode ir ver as repetições inúmeras vezes: o árbitro está de frente para Otamendi e olha para Otamendi quando mostra o cartão amarelo. Ninguém percebeu.
E, mesmo no final, a grande confusão. Qual foi a diferença entre a queda de Yamal e a queda de Barreiro? Há contacto bem visível, nas contas do médio do Benfica, dentro da área. Nada assinalado. E destaca-se outro aspecto: na grande penalidade a favor do Barcelona, o árbitro não teve dúvida de que era falta e por isso nem foi ao VAR; na alegada grande penalidade a favor do Benfica, o árbitro não teve dúvida de que não era falta e por isso nem foi ao VAR. Interessante.
Mas ainda há mais: nessa jogada de Barreiro, quando o Barcelona conseguiu tirar a bola da área, já passava dos descontos. Danny Makkelie poderia ter apitado e terminado o jogo quando a bola saiu da área, pelo ar; e apitaria ainda antes do alívio/passe de Ferrán. Mas não quis. E o resto, Raphinha que conte.
A segunda mancha já decorreu depois da partida. O Mundo Deportivo relata que jogadores do Benfica insultaram Raphinha, os ânimos aqueceram mesmo no túnel de acesso aos balneários e que foi a polícia a intervir, a separar os jogadores, para evitar outras cenas.
Raphinha contou à Movistar+ que foi insultado e admitiu que devolveu os insultos: “Depois, todos ficámos mais quentes”, resumiu, sem entrar em mais detalhes.
Um momento dispensável depois do melhor jogo de futebol de sempre? Bem, no mínimo, foi dos mais emocionantes que os portugueses já viram, de certeza. Impróprio para cardíacos, como se costuma dizer. Só esperamos que ninguém tenha passado mesmo por problemas de saúde, tal como aconteceu no Bayer 4-4 Benfica, quando os médicos tiveram de socorrer… Eusébio.
Arbitragem escandalosa!