Historicamente neutros, a Finlândia e a Suécia ponderam aderir à NATO perante as ameaças de Putin

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Socialdemokraterna / Flickr

Primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson

Os dois países nórdicos já reafirmaram a sua soberania e direito de escolha de aderirem à NATO perante as ameaças de retaliação de Putin. Nas últimas semanas, as sondagens mostram que o apoio da população à adesão à aliança subiu para valores históricos.

Os dois países nórdicos sempre rejeitaram a ideia de entrarem na aliança atlântica devido à sua neutralidade militar. No entanto, perante o clima de insegurança que tomou conta da Europa depois da invasão das tropas russas à Ucrânia, a Suécia e a Finlândia estão a começar a aproximar-se à NATO.

Putin já deixou avisos aos dois países caso entrem na aliança, dizendo que essa decisão desencadearia “graves consequências militares e políticas“, isto depois destes terem quebrado a sua regra de não fornecerem armas a países em guerra e terem enviado armamento para a Ucrânia.

No caso sueco, foi a primeira vez que ofereceu ajuda militar desde 1939, tendo na altura apoiado precisamente a Finlândia no conflito com a União Soviética.

A ameaça do presidente russo foi desvalorizada tanto em Helsínquia como em Estocolmo. Do lado da Finlândia, que tem uma fronteira de 1340 quilómetros com a Rússia — a maior dos russos com um membro da União Europeia —, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Pekka Haavisto, afirmou que “já ouvimos isto antes”.

“Não pensamos que isso exija uma ameaça militar. Se a Finlândia fosse a fronteira externa da NATO, significa antes que a Rússia teria certamente isso em conta no seu próprio planeamento de defesa”, revelou numa entrevista à rádio finlandesa YLE.

Já a primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson, foi peremptória na resposta a Putin. “Quero ser extremamente clara: É a própria Suécia que decide, de forma independente, sobre a sua linha de política de segurança”, rematou.

Mas a postura histórica de não-alinhamento militar dos dois países pode ter os dias contados. Uma recente sondagem levada a cabo pela rádio YLE mostrou que a percepção pública da adesão à NATO mudou drasticamente nos últimos tempos. Na Finlândia, 53% dos inquiridos são a favor, 28% são contra e 19% não sabem.

“Para dar algum contexto, recentemente, apenas entre 24 e 28% têm sido a favor. Por isso termos agora uma maioria de 53% em poucas semanas é impressionante”, acrescenta o analista político finlândes Henri Vanhanen, à DW.

Na Suécia, uma sondagem da televisão pública SVT concluiu que 41% defendem a entrada na NATO, 35% afastam a ideia e 24% estão indecisos, sendo esta a primeira vez que há uma maioria dos inquiridos a favor da adesão à aliança.

Mesmo com este aumento no apoio público à ideia, nenhum dos países deve entrar na aliança brevemente, já que nenhum dos seus parlamentos tem uma maioria clara que defenda a adesão.

No entanto, esta mudança de paradigma está a alimentar a esperança dos defensores da entrada na aliança atlântica, com o antigo primeiro-ministro sueco Carl Bildt, que é adepto da ideia, a escrever no Twitter que o “impensável pode começar a tornar-se pensável”.

A aproximação ao Ocidente

Tanto a Suécia como a Finlândia abandonaram parcialmente a sua doutrina da neutralidade quando aderiram à União Europeia, mas a nível militar, essa postura manteve-se.

Mesmo sem serem membros da aliança atlântica, ambos os países cooperam com a NATO e permitem, por exemplo, que as suas tropas façam exercícios militares nos seus territórios. Helsínquia e Estocolmo também têm intensificado a sua cooperação bilateral nos últimos anos no plano da Defesa, e também se têm aproximado dos Estados Unidos, do Reino Unido e dos vizinhos noruegueses, que integram a NATO.

Para além desta aproximação ao Ocidente, há ainda um historial de guerras e conflitos entre a Rússia e a Finlândia que alimenta a tensão entre os dois países. Os finlandeses já participaram em dezenas de guerras contra os russos quando ainda integravam o reino sueco e já mais tarde como uma nação independente, tendo estado em guerra com a União Soviética entre 1939 e 1940 e 1941 e 1944.

No entanto, desde essa altura que a Finlândia tem tido relações comerciais e diplomáticas pragmáticas com Moscovo, agindo como um “tampão” militar neutro entre o Leste e o Ocidente.

Com o contexto actual e a escalada de tensão entre a Ucrânia e a Rússia desde Dezembro que culminou com o início da guerra na semana passada, o Presidente finlandês Sauli Niinisto voltou a reafirmar a soberania do país na sua mensagem de Ano Novo. “O direito de escolha da Finlândia também inclui a possibilidade de uma aliança militar e de uma candidatura à NATO, caso assim decidamos“, sublinhou.

Niinisto vai também encontrar-se esta sexta-feira com Joe Biden na Casa Branca para os dois chefes de Estado discutirem a guerra na Ucrânia e a cooperação bilateral entre a Finlândia e os EUA.

Recorde-se que o Presidente finlandês é um dos poucos líderes Ocidentais que têm mantido conversas diplomáticas regulares com Vladimir Putin desde a sua chegada ao poder em 2012, mas Niinisto tem também uma boa relação com Biden.

Em Dezembo, o Presidente dos EUA telefonou-lhe a agradecer a compra de equipamentos de aviação norte-americanos e abriu a porta à criação de mais laços militares entre os dois países.

A primeira-ministra finlandesa, Sanna Marin, também revelou esta semana que o seu Partido Social Democrata vai discutir a adesão à NATO em breve com outros partidos, afirmando que todos concordam que a situação na Ucrânia mudou o paradigma.

Já a NATO tem piscado o olho à Suécia e à Finlândia, especialmente dada a importância estratégia da localização dos dois países no Mar Báltico, onde a Rússia tem aumentado a presença militar na última década.

O secretário-geral da aliança, Jens Stoltenberg, revelou na semana passada que a eventual adesão dos dois países é uma “questão de auto-determinação e do direito soberano de escolherem os seus próprios caminhos”.

A Suécia e a Finlândia estão também entre os oito países aliados da NATO que tiveram acesso às informações de inteligência recolhidas pelos membros da aliança, devido às ameaças russas de que foram alvo.

Adriana Peixoto, ZAP //

3 Comments

  1. É o que Putin anda a fazer . Não queria a Nato à porta através da Ucrânia, agora vai ter a Nato á porta por outros lados. Ele está a agir propositadamente, a provocar os restantes países a irem para uma guerra. Gosta de provocar os outros países. O Putin com a idade que tem e o dinheiro milionário que tem, já podia estar a gozar a reforma numa ilha tropical em vez de andar para aí a destruir vidas. Dar lugar a alguém mais novo com capacidade para modernizar mais a rússia.

  2. A Suécia e a Finlândia pagam o seu Estado Social com o que não gastam em despesa militar. Espero que não estejam a aderir à NATO a contar com proteção militar sem terem que desembolsar a justa parte.

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