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O algoritmo das plataformas de streaming afeta o que vemos (e quem somos)

As plataformas de streaming usam um algoritmo que afeta aquilo que vemos e o que queremos ver, moldando a nossa personalidade.

Squid Game, o drama coreano distópico da Netflix, tornou-se a série mais vista lançada pela plataforma de streaming de sempre, com 111 milhões de espectadores a assistir a pelo menos dois minutos de um episódio.

Das milhares de séries disponíveis na Netflix a nível mundial, como é que tantas pessoas acabaram por ver o mesmo programa? A resposta fácil é: um algoritmo, um programa informático que nos oferece recomendações personalizadas baseada nos nossos dados e nos de outros utilizadores.

De acordo com o The Conversation, as plataformas de streaming — como a Netflix, o Spotify e a Amazon Prime — mudaram a forma como consumimos conteúdos, principalmente através da maior disponibilidade de filmes, música e séries para todos.

Mas como é que lidamos com tantas opções? Este tipo de serviços utiliza algoritmos para orientar a nossa atenção em determinadas direções, organizando conteúdos e mantendo-nos ativos na plataforma. Assim que abrimos a aplicação, os processos de personalização começam.

E estes algoritmos não respondem apenas aos nossos gostos, também os modelam e influenciam, fazendo-nos ver o mundo através de géneros, rótulos e categorias.

Embora há 50 anos existisse um punhado de géneros musicais, o surgimento do streaming provocou a classificação de género em grande escala — só o Spotify tem mais de cinco mil géneros musicais. À medida que consumimos música e filmes, somos constantemente bombardeados por novas etiquetas e categorias.

Graças a estas categorias, os nossos gostos podem ser mais específicos e ecléticos, e as nossas identidades mais fluidas e moldadas.

As categorias hiper específicas das plataformas de streaming são criadas e armazenadas em metadados e ajudam a decidir o que consumimos. Se pensarmos na Netflix como um vasto arquivo de séries e filmes, a forma como é organizado através de metadados decide o que é descoberto.

Na Netflix, as milhares de categorias vão desde os géneros de filmes ditos comuns — como terror, documentário e romance — até aos hiperespecíficos, por exemplo os “filmes estrangeiros dos anos 70”.

Enquanto o Squid Game é rotulado com os géneros “coreano, thrillers de TV e drama” para o público, existem milhares de categorias mais específicas nos metadados da Netflix que estão a moldar o nosso consumo.

A página inicial personalizada utiliza algoritmos para lhe oferecer certas categorias de género, bem como programas específicos. Como a maior parte está nos metadados, podemos não ter conhecimento das categorias que nos estão a ser servidas.

O sucesso de Squid Game é um exemplo de como os algoritmos podem reforçar o que já é popular; tal como nos meios de comunicação social, uma vez que uma tendência começa a ser detetada, os algoritmos podem dirigir ainda mais atenção para si.

As categorias da Netflix também o fazem, dizendo-nos quais os programas que têm tendência ou são populares na nossa área local.

A classificação da cultura pode excluir-nos de certas categorias, o que pode ser limitativo ou mesmo prejudicial, como é o caso da forma como a desinformação se propaga nos meios de comunicação social.

As nossas ligações sociais são também profundamente moldadas pela cultura que consumimos, pelo que estes rótulos podem, em última análise, afetar com quem interagimos.

No entanto, os aspetos positivos são óbvios: as recomendações personalizadas da Netflix e Spotify ajudam-nos a encontrar exatamente o que gostamos num número incompreensível de opções.

ZAP //

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