Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia / EPA

Volodymyr Zelenskyy e Donald Trump conversaram no funeral do Papa Francisco, no Vaticano
O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, disse que o Vaticano poderá ser local para conversações de paz entre Rússia e Ucrânia, depois de o Papa ter prometido “todos os esforços” para ajudar a acabar com a guerra.
Volodymyr Zelenskyy e Donald Trump deram o mote, no funeral do Papa Francisco, no dia 26 de abril, no Vaticano, quando conversaram durante vários minutos sobre a guerra na Ucrânia.
Com a ideia dada, três semanas depois, os EUA afirmaram que o Vaticano pode voltar a ser palco de conversações de paz, mas, desta vez, incluindo os russos também.
Em declarações aos jornalistas em Roma, antes de se encontrar com o cardeal Matteo Zuppi, atual presidente da Conferência Episcopal Italiana, Marco Rubio disse que iria discutir as possíveis formas de ajuda do Vaticano, “o estado das conversações, as atualizações (…) e o caminho a seguir”.
Questionado sobre se o Vaticano poderia ser um mediador de paz, Rubio respondeu: “Não lhe chamaria mediador, mas (…) é um sítio onde ambas as partes se sentiriam confortáveis em ir“.
“Portanto, falaremos sobre tudo isso e, obviamente, estaremos sempre gratos ao Vaticano pela sua disponibilidade para desempenhar este papel construtivo e positivo”, disse Rubio, na Embaixada dos Estados Unidos da América em Roma.
Neutralidade garantida no Vaticano
O Vaticano tem uma tradição de neutralidade diplomática e há muito que vinha a oferecer os seus serviços para tentar facilitar as conversações, mas viu-se marginalizado durante a guerra total, que começou em 24 de fevereiro de 2022.
O Papa Francisco, que muitas vezes irritou ambos os lados com os seus comentários, confiou a Zuppi um mandato para tentar encontrar caminhos de paz. Mas o mandato parecia restringir-se a ajudar a facilitar o regresso de crianças ucranianas levadas pela Rússia, embora a Santa Sé também tenha conseguido mediar algumas trocas de prisioneiros.
Leão XIV, que foi eleito o primeiro Papa americano da história no dia 8 de maio, retomou o apelo de Francisco à paz na Ucrânia na sua primeira bênção dominical como pontífice. Apelou a todas as partes para que façam tudo o que for possível para alcançar “uma paz autêntica, justa e duradoura”.
O Papa, que quando era bispo no Peru tinha chamado à guerra na Ucrânia uma “invasão imperialista”, prometeu esta semana pessoalmente “fazer todos os esforços para que a paz prevaleça”.
Num discurso dirigido aos católicos de rito oriental, incluindo a Igreja Greco-Católica da Ucrânia, Leão XIV implorou às partes em conflito que se reunissem e negociassem.
“A Santa Sé está sempre pronta a ajudar a reunir os inimigos, cara a cara, para falarem uns com os outros, para que os povos de todo o mundo possam voltar a encontrar esperança e recuperar a dignidade que merecem, a dignidade da paz“, afirmou.
Não era a primeira vez do Vaticano
O Vaticano conseguiu o que foi talvez o maior feito diplomático do pontificado de Francisco quando facilitou as conversações entre os Estados Unidos e Cuba, em 2014, que resultaram no reatamento das relações diplomáticas.
A Santa Sé também tem sido frequentemente anfitriã de iniciativas diplomáticas muito menos secretas, como quando reuniu os líderes rivais do Sudão do Sul, em 2019. O encontro ficou célebre com a imagem de Francisco a inclinar-se para beijar os pés dos líderes rivais, pedindo-lhes que fizessem a paz.
Talvez a iniciativa diplomática mais crítica da Santa Sé tenha ocorrido durante o auge da crise dos mísseis cubanos, quando, no outono de 1962, o primeiro-ministro soviético Nikita Khrushchev ordenou a instalação secreta de mísseis nucleares em Cuba, que foram rapidamente detetados por aviões espiões americanos.
Enquanto a administração Kennedy ponderava a sua reação, com a ameaça de uma guerra nuclear a pairar no ar, o Papa João XXIII apelou à paz num discurso público na rádio, num discurso aos embaixadores do Vaticano e escreveu em privado a Kennedy e a Khrushchev, apelando ao amor dos dois pelos seus povos.
Muitos historiadores consideram que os apelos de João XXIII ajudaram ambas as partes a afastarem-se da iminência de uma guerra nuclear.
ZAP // Lusa
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