O navio que encalhou num recife nas Ilhas Maurícias, derramando cerca de 1.000 toneladas de óleo na costa, partiu-se em dois, anunciou este domingo a sociedade japonesa que explora o navio, Mitsui OSK Lines.
“Foi confirmado em 15 de agosto que o navio se partiu em dois”, disse a Mitsui OSK Lines, acrescentando que a informação veio do proprietário do navio, a Nagashiki Shipping.
O navio petroleiro encalhou em 25 de julho num recife em Pointe d’Esny, no sudeste das Ilhas Maurícias, com 3.800 toneladas de óleo combustível e 200 toneladas de diesel a bordo, e a sua quebra parecia inevitável há vários dias uma vez que as fissuras no casco se alargavam de dia para dia.
Entre 800 e 1.000 toneladas de óleo combustível foram derramadas na costa, nomeadamente em áreas protegidas com florestas de mangais e espécies ameaçadas.
As equipas de intervenção correram contra o tempo para bombear o resto do combustível, pois o barco ameaçava quebrar a qualquer momento. “Estima-se que uma quantidade não recuperada de combustível escapou do navio”, disse a Mitsui OSK Lines.
Segundo as autoridades, ainda havia cerca de 90 toneladas de combustível a bordo quando o barco se partiu em dois. A equipa de resgate pretende rebocar os dois terços dos destroços do navio que se soltaram do resto e afundá-los para evitar maiores danos, disse à agência France-Presse uma fonte policial em Port Louis, sob condição de anonimato.
O resto do barco ainda está preso no recife, segundo a mesma fonte.
Milhares de pessoas têm estado envolvidas nos trabalhos de limpeza, usando bombas improvisadas e folhas de cana de açúcar para tentar conter o petróleo.
França enviou um navio, aviões militares e técnicos desde a ilha vizinha de Reunião após um pedido de auxílio das Maurícias na semana passada. Especialistas japoneses estão a ajudar e as Nações Unidas enviaram peritos.
O capitão, de nacionalidade indiana, e a tripulação foram alvo de interrogatório policial. Uma das questões que se procura esclarecer é a razão pela qual o navio navegava tão perto das costas da Maurícia. Agora, as atenções estão focadas no que os investigadores sul-africanos conseguirem extrair da caixa negra do navio.
O governo de Jugnauth está a ser pressionado para explicar porque não tomou medidas para esvaziar o navio quando este encalhou e anunciou que pedirá uma indemnização ao armador e à seguradora pelos danos ambientais e pelos custos despesa na limpeza.
A Nagashiki Shipping disse estar “profundamente ciente das (suas) responsabilidades” e prometeu responder “sinceramente” aos pedidos de indemnização.
O pior desastre acidental nestas ilhas
Este derrame representa o pior desastre ecológico jamais sofrido por estas ilhas paradisíacas banhadas pelo oceano Índico. Segundo peritos e cientistas citados pela agência espanhola EFE, trata-se de uma catástrofe ambiental sem precedentes nestas ilhas de pouco mais de 1,2 milhões de habitantes, cujos manguezais, corais e espécies endémicas atraem anualmente mais de um milhão de turistas.
“O impacto deste derrame de petróleo vai durar muito tempo“, assegurou à agência espanhola EFE Mokshanand Sunil Dowarkasing, assessor ambiental nas Maurícias, defendendo a urgência de uma “avaliação independente” dos danos causados tanto na fauna e flora marinhas como na economia local.
Para Dowarkasing, será necessário “pelo menos um ano para conhecer o verdadeiro impacto” desta catástrofe e só então “se saberá se os manguezais serão ou não capazes de sobreviver a esta contaminação, se germinará ou não novo coral nas lagoas, etc”.
Esta degradação ambiental tem ainda um impacto direto no bem-estar dos cerca de 29.000 mauricianos dependentes do setor pesqueiro – dos quais 4% são mulheres, segundo dados de 2017 da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) – e do pujante setor de aquacultura.
“Preocupa-me não só o impacto ecológico deste desastre, mas também a repercussão que terá na forma de ganhar a vida das pessoas, em especial das mulheres que vivem da pesca o da manutenção dos barcos”, relatou por sua vez a ativista local Trisha Gukhool, que desde o primeiro dia está, juntamente com outros milhares de mauricianos, a limpar crude com as suas próprias mãos.
As Maurícias e os seus 13 milhões de habitantes dependem do mar para a alimentação e o turismo, crucial para a sua economia.
ZAP // Lusa