O secretário-geral da NATO anunciou, esta quarta-feira, que as tropas da Aliança irão começar a sair do Afeganistão a 1 de maio, prevendo a retirada total do país nos meses que se seguirão.
“Tendo em conta a decisão dos Estados Unidos de sair [do Afeganistão], os ministros dos Negócios Estrangeiros e de Defesa da NATO discutiram, esta quarta-feira, o caminho a seguir e decidiram que iremos começar a retirada das forças da missão ‘Resolute Support’ da NATO a 1 de maio”, anunciou Jens Stoltenberg.
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) falava em conferência de imprensa em Bruxelas, junto do secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, e do secretário de Defesa, Lloyd Austin, após uma sessão do Conselho do Atlântico Norte, convocada com urgência pelos Estados Unidos e em que participaram os ministros dos Negócios Estrangeiros e de Defesa da Aliança.
Numa declaração quase sincronizada com a do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que anunciou poucos minutos antes que os soldados norte-americanos se retirarão do Afeganistão até 11 de setembro, Stoltenberg indicou que a saída das tropas será feita de maneira “ordenada, coordenada e deliberada”.
“Contamos concluir a retirada de todas as nossas tropas no espaço de alguns meses. Qualquer ataque dos talibãs às nossas forças durante esse período conhecerá uma resposta vigorosa”, apontou Stoltenberg.
O secretário-geral da Aliança frisou também que a saída das tropas da Aliança se prende com a decisão de que a NATO foi para o Afeganistão “junta, ajustou a postura de maneira conjunta e vai sair junta”.
Stoltenberg reconheceu, no entanto, que sair do Afeganistão não foi “uma escolha fácil” e “cria riscos”, mas ressalvou que não se trata do “fim da relação” da NATO com o país, mas antes o início “de um novo capítulo”.
“Os aliados e parceiros da NATO irão manter-se ao lado do povo afegão. Mas agora ao cabe ao povo construir uma paz sustentável, que põe fim à violência, salvaguarda os direitos humanos de todos os afegãos – em particular, as mulheres, as crianças e as minorias – respeita o Estado de direito, e assegura que o Afeganistão não volta a tornar-se num porto seguro para terroristas”, sublinhou.
Joe Biden anunciou, esta quarta-feira, que as tropas norte-americanas vão sair do Afeganistão até 11 de setembro, antes do vigésimo aniversário dos ataques nos Estados Unidos que motivaram esta intervenção.
“Está na hora de encerrar a mais longa guerra norte-americana. Está na hora de os soldados norte-americanos voltarem para casa”, disse o chefe de Estado a partir da Casa Branca, citado pela Deutsche Welle.
“Um ataque terrível há 20 anos (…) não pode explicar porque é que deveríamos continuar ali em 2021. (…) Não podemos continuar o ciclo de estender ou expandir a nossa presença militar no Afeganistão na esperança de criar as condições ideais para a nossa retirada, tendo em vista um resultado diferente”, disse ainda.
“Sou o quarto Presidente norte-americano a presidir enquanto as tropas norte-americanas se mantêm no Afeganistão. Dois republicanos. Dois democratas. Não vou passar essa responsabilidade a um quinto Presidente”, concluiu.
A decisão foi aplaudida por várias figuras da política norte-americana, mas também houve quem considerasse que esta decisão pode incentivar insurgências dos jihadistas, acrescenta a DW.
Apesar de retirarem as tropas do Afeganistão, tal como a antiga Administração Trump tinha acordado em fevereiro de 2020 com os talibãs, os Estados Unidos não cumprem a data estipulada nesse entendimento, que ditava que a retirada de tropas teria de ocorrer até ao dia 1 de maio.
Em resposta, os talibãs já ameaçaram boicotar todas as negociações de paz com o Governo afegão – que ocorrem em Doha – e retomar os ataques às tropas internacionais se os Estados Unidos não cumprirem o acordado.
Segundo o jornal Público, atualmente, Portugal tem 118 militares integrados na 6.ª Força Nacional Destacada para o Afeganistão, que, no âmbito da missão ‘Resolute Support’, tem a responsabilidade pela segurança do Aeroporto Internacional Hamid Karzai, em Cabul.
A participação portuguesa nesta missão da Aliança teve início em 2002, tendo estado no Afeganistão mais de 4500 militares portugueses.
“Com esta retirada, conclui-se um importante e prolongado contributo português na luta contra o terrorismo. Registaram-se no Afeganistão importantes progressos em termos de estabilidade e segurança, bem como em termos de desenvolvimento social, incluindo em particular os direitos de mulheres e o acesso à educação para as raparigas”, lê-se no comunicado conjunto dos ministérios da Defesa e dos Negócios Estrangeiros, citado pelo Jornal Económico.
A NATO envolveu-se no Afeganistão em 2001, após os Aliados terem invocado, a 12 de setembro e pela primeira vez na história da Aliança, o artigo 5.º do tratado do Atlântico Norte – o princípio de defesa coletiva, que determina que um ataque contra um ou mais dos membros da NATO é considerado um ataque contra todos.
Em agosto de 2003, a Aliança assumiu o comando de uma missão militar intitulada Força Internacional de Assistência para Segurança (ISAF), mandatada pela ONU. Dirigida pela NATO até ao final de 2014, tornou-se na mais longa missão da história da Aliança e mobilizou, no seu pico, 130 mil militares no terreno.
Desde o início da guerra no Afeganistão, estima-se que morreram cerca de 3500 militares da NATO, dos quais 2400 eram norte-americanos.
ZAP // Lusa