No domingo, vários antigos autarcas tentaram voltar às Câmaras que já dirigiram, mas os resultados foram apenas favoráveis a meia dúzia deles, com destaque para o regresso de Santana Lopes à Figueira da Foz e de Fernando Ruas a Viseu.
O regresso de autarcas aos municípios que presidiram depois de anos afastados, as trocas de concelho e o recurso a movimentos independentes têm acontecido sobretudo desde que, nas autárquicas de 2013, entrou em vigor a lei que limita a três os mandatos consecutivos permitidos para a eleição de um presidente pelo mesmo município.
À frente de um grupo de cidadãos, Pedro Santana Lopes venceu no regresso à Câmara da Figueira da Foz, onde já tinha sido presidente entre 1998 e 2001, altura em que deixou a Figueira para se candidatar e ganhar na Câmara de Lisboa.
O histórico autarca social-democrata Fernando Ruas foi eleito em Viseu, município onde já tinha sido presidente entre 1989 e 2013. Ruas, que ganhou com maioria, teve como principal adversário o socialista João Azevedo, que também não era um estreante, já que foi presidente de Mangualde entre 2009 e 2019, altura em que foi eleito deputado.
Fermelinda Carvalho (PSD) foi eleita em Portalegre, após cumprir o terceiro mandato como presidente de Arronches, onde está desde 2009, altura em que desalojou os socialistas da autarquia alentejana.
João Mourato (PSD/CDS-PP) é, desde domingo, o novo presidente da Mêda, mas é também o antigo presidente deste concelho do distrito da Guarda, cargo que assumiu entre 1985 e 2009.
Um grupo de cidadãos liderado pelo deputado socialista Raul Castro ganhou a Câmara da Batalha, onde Castro já foi presidente entre 1990 e 1997, na altura como independente numa lista do CDS-PP.
O movimento de Raul Castro, que foi também presidente da Câmara de Leiria entre 2009 e 2019, ganhou ainda a Assembleia Municipal, onde propôs como primeiro candidato um outro antigo presidente da Batalha, António Lucas (entre 1997 e 2013, primeiro pelo CDS-PP e depois pelo PSD).
Na Mealhada venceu um outro grupo de cidadãos constituído por antigos autarcas dissidentes do PS, que no domingo perdeu esta autarquia.
O novo presidente é António José Franco, ex-vereador socialista, e a número dois é Filomena Pinheiro, que foi vice-presidente da Mealhada quando esta era presidida por Carlos Cabral (presidente do município de 1999 a 2013), que encabeçou a lista vencedora à Assembleia Municipal.
No entanto, os votos não sorriram a muitos dos autarcas que pretendiam regressar.
Maria das Dores Meira (CDU) foi eleita em 2009 pela primeira vez presidente da Câmara de Setúbal e, no final do terceiro e último mandato na câmara sadina, candidatou-se este ano a Almada, não conseguindo recuperar esta câmara que os comunistas perderam em 2017 para a socialista Inês de Medeiros.
O comunista Carlos Humberto, que foi presidente do Barreiro entre 2005 e 2017, pretendia recuperar esta autarquia para a CDU, mas foi derrotado.
Luís Franco, presidente comunista em Alcochete, entre 2005 e 2017, também não conseguiu retirar esta autarquia aos socialistas.
Francisco Tavares, ex-presidente em Valpaços (Vila Real) durante 28 anos (1985–2013), foi o candidato do PSD à Câmara de Chaves nestas autárquicas, mas os eleitores preferiram o PS.
Em Vila Real de Santo António (Faro), a tentativa de regresso de Luís Gomes (PSD), que foi presidente da Câmara de 2005 a 2017, também não correu bem e quem ganhou foram os socialistas.
Também ainda não é desta que António Sebastião (PSD) volta como presidente à Câmara de Almodôvar, depois de ter sido presidido este município em 2001, 2005 e 2009 e de ter desempenhado, em diversos mandatos desde 1979, cargos de vereador na oposição, primeiro pela APU, depois pela CDU, como independente ou como filiado no PSD.
Sem o apoio dos partidos pelos quais desempenharam funções, há candidatos que optaram por constituir movimentos de cidadãos.
Desidério Silva, presidente da Câmara de Albufeira entre 2001 e 2012, altura em que suspendeu o mandato para presidir à Região de Turismo do Algarve, foi recandidato nestas autárquicas mas, como o PSD não lhe deu o apoio pedido, encabeçou um movimento de cidadãos. No entanto, a coligação encabeçada pelo PSD ganhou mesmo em Albufeira e o MIPA (Movimento Independente Por Albufeira) ficou em terceiro lugar, elegendo um vereador.
Luís Correia, presidente socialista da Câmara de Castelo Branco desde 2013, teve de interromper o mandato em 2020 por decisão do Tribunal Constitucional, na sequência de um processo de alegado favorecimento a uma empresa do pai.
Contudo, em fevereiro de 2021, o Tribunal de Castelo Branco absolveu-o num processo cível e Luís Correia, sem o apoio do PS, decidiu avançar com uma candidatura independente à Câmara, mas perdeu para os socialistas.
Francisco Martins foi presidente de Lagoa (Faro) pelo PS, de 2013 até 2019, quando abdicou por motivos de saúde. Quis voltar em 2021, mas, sem o apoio socialista, candidatou-se pelo Movimento Lagoa Primeiro, que não conseguiu ganhar ao PS.
Manuel Narra, presidente da Vidigueira eleito pela CDU por três mandatos até 2017, desvinculou-se do PCP em 2018 e candidatou-se este ano pelo movimento MaisCidadãos, mas não conseguiu roubar a Vidigueira ao PS.
O antigo autarca comunista Carlos Sousa, que se desfiliou do PCP em 2008, quis voltar à Câmara de Palmela à frente de um movimento independente, mas não conseguiu derrotar a CDU, nem ultrapassar o PS, tendo alcançado um terceiro lugar e um mandato de vereação.
Carlos Sousa foi presidente da Câmara de Palmela entre 1994 e 2001 e da Câmara de Setúbal de 2001 a 2006, altura em que saiu, em rotura com o PCP, tendo sido substituído na autarquia sadina por Maria das Dores Meira.
// Lusa