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MP deixa tripulantes da avioneta em liberdade. Piloto teve 90 segundos para decidir

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André Kosters / Lusa

O piloto e o instruendo da avioneta que aterrou de emergência, na quarta-feira, na praia de São João da Caparica, em Almada, “incorrem na eventual prática de crime de homicídio por negligência”, anunciou esta quinta-feira a PGR.

“Concluídos os interrogatórios, que foram conduzidos pelo Ministério Público, os arguidos ficaram sujeitos à medida de coação de termo de identidade e residência. As investigações prosseguem, estando em causa a eventual prática de crime de homicídio por negligência”, refere uma nota da Procuradoria-Geral da República.

Os dois tripulantes do avião ligeiro, que colheu mortalmente duas pessoas na praia de São João – uma criança de 8 anos e um homem de 56 – durante uma aterragem de emergência na tarde de quarta-feira, ficaram mais uma vez sujeitos à medida de coação de termo de identidade e residência, depois de ouvidos esta quinta-feira pelo MP.

O inquérito está a cargo da secção de Almada do Departamento de Investigação e Acão Penal de Lisboa, sendo o Ministério Público coadjuvado na investigação do acidente pela PJ, em colaboração com o Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Acidentes Ferroviários (GPIAAF).

De acordo com o Público, a Polícia Judiciária só foi chamada a investigar esta quinta-feira. Nas quase 24 horas que se seguiram ao acidente, o MP manteve as primeiras diligências relacionadas com o processo nas mãos da Polícia Marítima. No entanto, fonte ligada ao processo adianta que a chamada tardia não terá comprometido a investigação porque a maioria das provas existentes não são suscetíveis de alteração com o passar das horas.

Mesmo assim, a PJ deslocou por iniciativa própria uma equipa para a praia logo depois do acidente, que não só foi ouvindo o que ia sendo dito por quem estava no areal como chegou a alargar o perímetro de segurança à volta da avioneta, escreve o diário.

90 segundos para decidir

Ontem, foi divulgado um vídeo com os primeiros instantes da aeronave Cessna 152 a aterrar na praia, que estava repleta de banhistas. As imagens foram captadas pelas câmaras do Surfline, um site que mostra em direto as ondas nas praias portuguesas.

Segundo o Jornal de Notícias, o piloto teve, desde que o motor falhou até embater no areal, 90 segundos para decidir o que iria fazer, ou seja, escolher entre uma amaragem (com cerca de 20% de hipóteses de sobrevivência) ou aterrar na praia.

O jornal adianta que a peritagem à aeronave está a ser realizada em Viseu e que vai demorar ainda duas semanas.

Em declarações ao Diário de Notícias, o dono da aeronave e presidente do Aeroclube de Torres Vedras, João Carlos Francisco, aponta várias causas possíveis para o acidente: “falha dos tripulantes, combustível contaminado, gelo no carburador ou um problema técnico”.

“Já aconteceu, há muita humanidade no ar, e o combustível como é volátil pode condensar e causar problemas no motor do aparelho”, aponta. Também pode dar-se o caso de a humidade ter ajudado à formação de gelo no carburador, acrescenta o comandante.

O sargento da Força Aérea teclista e a menina bailarina

Esta sexta-feira, o Observador dá mais detalhes sobre as duas vítimas: José Lima, de 56 anos, natural de Viseu, e Sofia Baptista António, de oito anos, de Odivelas.

Há quatro anos na reserva, o sargento da Força Aérea é considerado por um dos melhores amigos como um “um excelente profissional”, mas também como um “brincalhão”, “uma pessoa bastante positiva” e “com uma paixão louca pela família”.

A música era uma das suas grandes paixões. “Adorava música. Tocava órgão e levava-o sempre para todo o lado. Era muitas vezes contratado para animar casamentos e batizados”, explica o amigo Manuel.

João Pedro Lemos, companheiro de banda, recorda José como alguém “extremamente divertido”, “alegre” e “talentoso”, mesmo não tendo formação musical.

Sofia “era uma criança muito interessada, amiga do amigo e que gostava muito de partilhar o dia-a-dia com os seus colegas de catequese”, contou a catequista Sofia Antunes ao jornal online. Descrita como uma menina “assídua” e que “praticava dança”, planeava fazer a primeira comunhão, a profissão de fé e o crisma para o ano.

Segundo o Expresso, cada família das vítimas poderá receber entre 150 mil e 200 mil euros de indemnização. Juristas ouvidos pelo semanário explicam que não há um valor tabelado na lei mas que as indemnizações por danos não patrimoniais em caso de morte têm variado, na prática, entre estes valores.

O Observador adianta que o velório de José realiza-se, esta sexta, ao final da tarde, na Capela de Moselos, e o funeral será no mesmo sítio, amanhã, às 15h00. O funeral de Sofia terá lugar na Paróquia de Nossa Senhora do Amparo, em Benfica, no sábado, às 15h30.

ZAP // Lusa

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3 Comments

  1. Antes de mais penso que não existe “humanidade no ar” pelo menos neste caso.
    Em segundo, se ponderaram que teriam 20% de sobrevivência numa aterragem no mar, gostaria de saber que tipo de calculos, fizeram, ou com certeza também deve ter sido calculado por alguém neste mundo, para saber qual a percentagem de sobrevivência das pessoas que iria atingir ao optar por aterrar na praia.
    Em terceiro, uma situação claramente sem piada, uma pesso da força aérea morrer com um “avião em cima”.
    R.I.P aos dois.

  2. aqui tem as características do avião Cessna 152 e as velocidades
    http://www.purdueaviationllc.com/storage/app/media/Data%20Sheets/C152%20Data%20Sheet.pdf
    Speeds
    BEST GLIDE SPEED 60 KIAS
    Stall in landing configuration Vso 35 KIAS
    Stall in cruise configuration Vs1 40 KIAS
    Rotate Speed Vr 50 KIAS
    Best angle of climb Vx 55 KIAS
    Best rate of climb Vy 67 KIAS
    Maneuvering Speed 1670 lbs. Va 104 KIAS
    Flaps extended Vfe 85 KIAS
    Max. Structural Cruising Speed Vno 111 KIAS
    Enroute Climb Speed 70-80 KIAS
    Approach Speed Vapp 55-65 KIAS
    Never Exceed Vne 149 KIAS
    Demonstrated Crosswind Component 12 KTS

    Supostamente ele iria a (Stall in landing configuration Vso 35 KIAS;Stall in cruise configuration Vs1 40 KIAS)”Knots Indicated Air Speed to Miles Per Hour”

    Digamos que ele quando aterrou talvez andasse perto de 100 klm/p.
    90 segundos teve mais que tempo suficiente para decidir se aterrava na agua ou na praia.
    Não sei donde foram buscar esse ridículo numero de 20% de estatística de sobrevivência e essa do gelo no combustível também é hilariante num avião que não chegou a atingir altura suficiente para isso acontecer e muito menos na época de verão.
    Parece politicos a deitar areia nos olhos das pessoas

  3. O gelo se refere neste artigo, pode acontece no carburador quando a mistura ar/combustível passa por este, com maior risco em alguns regimes de potência, em particular nos mais elevados.
    Devido à depressão criada e à aceleração da mistura, pode haver formação de gelo no interior do carburador que pode, em casos mais extremos, levar o motor a parar. Daí estas aeronaves terem sistema de aquecimento do carburador “carburettor heat” que é normalmente activado durante a descida, para prevenir a formação de gelo em caso de necessidade de aumento de potência, por exemplo em situações de aborto e aterragem.
    A temperatura da mistura dentro do carburador pode cair até 20º C, daí que até em dias quentes possa haver o risco de formação de gelo, mais ainda em dias de elevada humidade no ar.
    Quanto ao tempo para decidir o que fazer, só estando na posição do piloto, se pode saber se é ou não tempo suficiente.
    Mas o Sr. lá terá as suas razões para assim pensar.
    Com isto não quero dizer que a decisão de aterrar na praia for a melhor ou pior. Não vivi a situação, nem tenho conhecimentos que me permitam julgar a decisão.
    Uma coisa digo, conhecimentos de Microsoft Flight Simulator são pouco relevantes neste caso. Sentados na cadeira, em frente ao computador, é relactivamente fácil tomar boas decisões.

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