Morreu hoje, aos 81 anos, Adolfo Suárez, primeiro presidente do Governo espanhol depois da ditadura franquista e considerado um dos pais da reforma que pôs fim à ditadura e permitiu a transição política em Espanha.
Adolfo Suárez entrou jovem na administração e na política, como protegido de Fernando Herrero Tejedor, um dos mais reformistas do regime de Franco a quem acabou por suceder, em 1975, como ministro secretário do Movimento, no primeiro Governo da monarquia.
Nasido em Ávila em 1932, Suárez esteve quase 10 anos ligado à Televisão Espanhola – chegou a diretor em 1973 – entrando depois firmemente na vida política.
Em julho de 1976 foi nomeado presidente do Governo, tornando-se em homem de confiança de Juan Carlos e iniciando a reforma que permitiria o fim da ditadura e os primeiros passos da transição.
‘Pai’ da Lei de Reforma Política, avançou depois com a primeira reforma militar e com a legalização do Partido Comunista e dos sindicatos.
Vencedor das eleições de junho de 1977 – à frente da União do Centro Democrático – formou o terceiro Governo da monarquia e o primeiro da democracia, assinado no mesmo ano os denominados “Pactos da Moncloa”, apoiados por patrões e sindicatos.
Foram anos cruciais para a formação do ‘esqueleto’ da democracia espanhola, com a aprovação de estatutos de autonomia na Catalunha, País Basco e Galiza e, posteriormente, a redação da constituição que foi aprovada em dezembro de 1978.
Venceu as eleições de 1979, tornando-se no primeiro presidente do Governo constitucional, e enfrentou-se a uma dura realidade económica, com inflação e desemprego elevados, num ambiente agravado pelo terrorismo, então bastante ativo.
Aguentou uma moção de censura socialista (1980) mas acabou, sob forte pressão dentro e fora do seu partido, por se demitir em janeiro de 1981.
Um período intenso mas curto de governação: quatro anos e sete meses com cinco elencos diferentes, várias remodelações e quase 60 ministros diferentes.
É sob o seu Governo que Espanha vive também um dos momentos mais intensos do período da jovem democracia, com a tentativa de golpe de fevereiro de 1981.
Suarez cria em 1982 um novo partido, o Centro Democrático Social, que conseguiu dois lugares nas eleições seguintes, passando a ser a terceira força política quatro anos depois.
Em 1991 Suárez demite-se da presidência do CDS, abandona a política e dedica-se à família.
Apareceu publicamente pela última vez em maio de 2003 num comício de apresentação do filho, Adolfo Suárez Illana, como candidato á presidência de Castela La Mancha pelo PP.
Perdeu a mulher em 2001 e a filha em 2004 e para pagar os gastos das doenças de ambas hipotecou a casa que tinha em Ávila e, em 1995, perdeu-a por não conseguir pagar a hipoteca.
Sempre se negou a receber qualquer remuneração pela sua condição de ex-presidente do Governo e apenas tinha receitas do seu pequeno escritório de advogado.
Recebeu inúmeras condecorações espanholas e estrangeiras, incluindo a Grã Cruz da Ordem da Liberdade de Portugal.
/Lusa