A agência de notação financeira norte-americana Moody’s subiu este sábado a perspetiva da dívida pública portuguesa de ‘estável’ para ‘positiva’, mas manteve o ‘rating’ em ‘Baa3’, um nível acima do ‘lixo’, foi divulgado.
Em comunicado, a Moody’s assinala que a revisão em alta da perspetiva se deve a dois fatores: o “contínuo declínio do fardo da dívida pública” e “a perspetiva de melhorias sustentadas na saúde do setor bancário português”.
“A Moody’s espera também que o rácio da dívida pública face ao PIB desça abaixo de 110% em 2022”, pode ler-se no comunicado, que afirma que, “apesar das projeções da Moody’s serem mais conservadoras do que as do Governo, a agência de ‘rating’ espera agora que o rácio da dívida seja de 108% em 2022, o que compara com 114% à data da última avaliação”. A Moody’s crê que “maiores descidas são prováveis nos próximos 3-4 anos”.
“As pressões políticas para aumentar os salários do setor público e os gastos na saúde vão continuar”, afirma a agência, que acredita que “o Governo conseguirá resistir o suficiente a essas pressões para manter um défice orçamental muito baixo, que fique abaixo de 1% nos próximos anos”.
O défice “em 2018 (…) caiu para 0,5% do PIB, melhor que o objetivo de 0,7%. O Governo tem, de alguma forma, resistido a sucessivas pressões para gastos apesar das próximas eleições”, o que para a Moody’s, “em combinação com uma forte arrecadação de impostos, crescimento do emprego, descida do custo dos juros e contenção nos gastos resultará na queda do défice de 2019 para o objetivo do Governo de 0,2% do PIB”.
Relativamente às taxas de juro, a agência de notação financeira assinala que, apesar de a um “ritmo menor”, os custos com juros irão manter a sua trajetória descendente”, já que “a dívida mais cara continuará a ser substituída com emissões a mais baixo custo”.
Apesar da subida da perspetiva de ‘estável’ para ‘positiva’, a manutenção do ‘rating’ em ‘Baa3’, um nível acima do ‘lixo’, reflete “o fardo da dívida, que é um dos maiores do universo de ‘ratings’ da Moody’s e vai continuar a ser um constrangimento no ‘rating’ nos próximos anos apesar do seu declínio progressivo”, destaca a agência.
“A manutenção também equilibra a relativa riqueza e diversificação da economia do país com perspetivas de crescimento modestas e constrangimentos económicos estruturais”, afirma a Moody’s, além de o ‘rating’ refletir “as instituições fortes do país e baixas vulnerabilidades externas”, algo que contrasta com o que permanece dos “desafios que o setor bancário encontra, apesar de melhorias progressivas”.
Centeno espera futuras subidas no ‘rating’
O ministro das Finanças, Mário Centeno, espera que a subida da perspetiva do ‘rating’ de Portugal por parte da Moody’s, de estável para positiva, traga, no futuro, “novos movimentos de melhoria da classificação da dívida”, disse este sábado à Lusa.
“Esta melhoria decorre daquilo que nós temos vindo a observar em termos da evolução da economia portuguesa, do seu mercado de trabalho e da credibilidade das políticas económicas, e em particular orçamental, em Portugal”, Mário Centeno em reação à subida da perspetiva do ‘rating’ de Portugal de ‘estável’ para ‘positiva’.
“Isto quer dizer que esperamos, nos próximos meses, nas próximas avaliações, novos movimentos de melhoria da classificação da dívida”, acrescentou. O também presidente do Eurogrupo lembrou que “é a décima vez desde setembro de 2017, nos últimos dois anos, que houve uma melhoria na classificação, na notação, da dívida portuguesa”.
Questionado pela Lusa sobre se a melhoria da perspetiva poderá sobreviver às turbulências do contexto económico internacional, Centeno disse que essas “tensões” são “testes sucessivos à resiliência da recuperação económica que Portugal e outros países, a generalidade dos países, na verdade, têm observado”.
“A verdade é que Portugal tem tido nesse campo um desempenho particularmente excecional. A palavra pode parecer demasiado elogiosa para o desempenho da economia e da sociedade portuguesa mas não o é, porque nós vimos uma redução, uma compressão enormíssima dos diferenciais de taxa de juro face aos nossos parceiros europeus”, destacou o também presidente do Eurogrupo.
No entanto, o ministro das Finanças afirmou que é necessário o país estar atento “a riscos e a incertezas que se avolumam por esse mundo fora”, uma vez que “a economia portuguesa é cada vez mais uma economia aberta e sujeita também a esses choques”, mas apelou para uma concentração “naquilo que são, e são muitos, os sinais positivos em Portugal”.
ZAP // Lusa