António Cotrim / LUSA

Luís Montenegro fala ao país
Montenegro “cometeu um erro brutal” ao apresentar moção de confiança? Que perguntas deixou por responder? Quem sai a ganhar com as eleições antecipadas?
Portugal deve ir a eleições antecipadas mais uma vez e, no centro da controvérsia, em todas as bocas está um nome em comum: Luís Montenegro.
O primeiro-ministro surpreendeu esta quarta-feira ao dizer que eleições antecipadas são “um mal necessário” e ao anunciar a moção de confiança, que o Executivo já aprovou em Conselho de Ministros eletrónico esta quinta-feira e que deverá ser rejeitada pelo PS e levar o país às urnas, provavelmente “entre 11 e 18 de maio”, segundo Marcelo Rebelo de Sousa.
“Era desejável” que não existisse “uma perturbação política” no país, mas insistiu que o parlamento tem de esclarecer se tem dúvidas quanto à legitimidade do Governo, disse Montenegro esta quinta-feira.
Preferiu, assim, apostar em eleições em vez de responder a algumas perguntas sobre a empresa que vendeu à mulher, Spinumviva, que até agora ficaram sem resposta.
Uma delas, talvez a mais simples, é “quem são os clientes da Spinumviva?”.
Montenegro nunca deu uma resposta clara a esta pergunta. Inicialmente justificou que o segredo comercial o impedia de revelar os detalhes sobre as empresas com as quais mantinha contratos. Disse que a Cofina constava na lista de clientes, recorda a Visão, mas a Cofina não estava na lista que a sociedade fundada por Montenegro divulgou.
A compra de dois apartamentos em Lisboa, que, segundo a TVI/CNN, foi feita com uma combinação de três contas, levanta outra questão: alguma delas é a conta caucionada de 200 mil euros que Montenegro disse ter?
O primeiro-ministro estava a fazer obras para unir dois apartamentos, um dos quais pertence aos seus filhos. Estas obras foram feitas com o objetivo de criar uma residência de apoio à família ou se os apartamentos foram adquiridos com o intuito de investimento?
O gabinete do primeiro-ministro não respondeu sobre a razão pela qual Montenegro terá optado por uma conta caucionada (geralmente usada por empresas para gerir questões de tesouraria, não sendo prática comum em transações pessoais, como a compra de uma casa) com uma taxa de juro anual de 12,183%, em vez de recorrer a um crédito à habitação, que teria taxas muito mais baixas, entre 2% e 4%.
E essa conta caucionada está em nome de quem ou de que empresa? Mais uma questão da Visão ao gabinete que ficou por responder.
A opção de Montenegro pernoitar num hotel de luxo no centro de Lisboa — onde o custo por noite pode ultrapassar os 200 euros — enquanto as obras nos apartamentos que adquiriu decorrem, também força a perguntar como é que o seu rendimento líquido é de cerca de 4.500 euros pode suportar tal custo: poderia utilizar as instalações da residência oficial de São Bento, onde o próprio António Costa, o atual primeiro-ministro, se instalou durante o confinamento da pandemia de COVID-19. Afinal, desde quando está Montenegro hospedado no hotel de luxo? Está sozinho ou com os seguranças? Qual o valor exato pago por noite?
O líder do PSD afirmou que era ele quem pagava pela sua estadia, mas nunca foi apresentada uma explicação clara sobre a natureza dessa despesa ou se algum custo relacionado à sua segurança está a ser assumido pelo Estado.
Montenegro “cometeu erro brutal”
O que é certo é que Montenegro não quis responder a algumas perguntas e optou por arriscar com um pedido de moção de confiança. Já na altura da votação do Orçamento, Montenegro ameaçava uma ida às urnas em eleições antecipadas. Mas “está a brincar com o fogo?”
“Montenegro achou que esta crise lhe podia render numa ida às urnas. Acho que está enganado e a brincar com o fogo (…) cometeu um erro brutal ao não ter esclarecido isto desde o início, ao não ter marcado uma entrevista”, acredita o diretor de informação da SIC bernardo Ferrão.
“Diz que não tem tempo para dar esclarecimentos. Já se sabia que não gostava de falar aos jornalistas, agora também se sabe que não gosta de responder aos deputados. Se tivesse respondido, se calhar esta crise ter-se-ia evitado. (…) talvez achasse que não tinha de dar explicações a ninguém”, acredita.
Quem tem maior vantagem para as eleições antecipadas?
Para Montenegro, esta “vai ser uma campanha muito difícil”, acredita Ferrão: o primeiro-ministro vai tentar mostrar o que fez até agora, mas “a campanha vai ser centrada neste caso e no seu caráter”, e “isso vai levantar muitos problemas e fazer com que a campanha seja suja“.
Este “pode ser um bom momento tanto para o PSD como para o PS irem a eleições”, diz o politólogo João Pacheco à CNN Portugal,que acredita, no entanto, que “o Chega pode ser o principal beneficiário de uma crise política”.
Para o politólogo José Filipe Pinto, no entanto, é o “PSD aquele que neste momento tem mais vantagem”, acredita: “claro que o Chega também vai cavalgar a onda porque vai continuar a falar na corrupção, nas suas bandeiras, mas todos nós percebemos também que o Chega conseguiu um resultado tão elevado nas últimas eleições que dificilmente vai continuar a ter margem para progressão ou uma progressão acentuada.”
Isto acontece quando se entrega a política aos advogados
Depois de responder a estas seguiam-se outras…
E mesmo que volte a ganhar, o fado vai manter-se.
A política no seu pior!