Fernando Alexandre admite que o corte de 90% no número de alunos sem aulas não é real. “Na prática mentiu”, acusa o BE.
Há precisamente uma semana, o ministro da Educação anunciou uma descida incrível no número de alunos sem aulas, neste ano lectivo.
Em Novembro havia somente 2.338 alunos sem professor, comparando com os – alegadamente – mais de 21.000 de há um ano. Seria uma descida de 90%.
Logo na altura, partilhámos que os números poderiam estar errados – e agora o próprio ministro confirma a confusão.
Perante as dúvidas, Fernando Alexandre pediu nova avaliação e afinal os dados não são fiáveis.
“Confrontado com dados contraditórios, o MECI [Ministério da Educação, Ciência e Inovação] considerou não existir fiabilidade na informação prestada pelos serviços sobre o ano lectivo de 2023/24, colocando em causa o rigor de todos os dados que têm vindo a público, incluindo o valor de referência escolhido pelo Governo para a avaliação do efeito das suas medidas, assim como os dados divulgados pelo ex-ministro João Costa”, anuncia o Ministério da Educação, no Expresso.
Havia muita confusão em relação ao número real de alunos sem aulas (sobretudo em relação ao ano passado) e, por isso, o Ministério da Educação pediu à Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE) a “revalidação dos dados, de modo a verificar a informação usada pela actual equipa do ministério referente a esse período”.
Estes novos dados da DGEstE mostram que, afinal, há um ano não havia 21.000 alunos sem aulas – havia 7.381.
“Confesso que já não acredito nestes números. Para mim deixaram de ter validade. Simplesmente não são credíveis”, admite o ministro da Educação, sublinhando que nas reuniões os dados nunca foram postos em causa pelos serviços.
“Lamento ter apresentado aquele dado. Obviamente que, se tivesse o conhecimento que tenho hoje das fragilidades dos sistemas de informação, não teria quantificado o objectivo [redução de 90%] por referência aos elementos do ano passado”, continua Fernando Alexandre.
Agora vai haver uma auditoria externa aos números relativos ao ano lectivo 2023/24. O director-geral dos Estabelecimentos Escolares, João Gonçalves, pode deixar o cargo em breve.
Apesar de lamentar a confusão, o ministro recusa pedir desculpas: “Não me parece que tenhamos de pedir desculpas, porque estamos completamente focados em reduzir o problema dos alunos sem professor e tomámos 17 medidas que estão a ter efeito e os diretores reconhecem. Estamos a trabalhar pela escola pública como há muito tempo não se trabalhava”.
E ainda aponta na direcção dos Governos do PS: “Em oito anos e meio tiveram tempo para montar um sistema de informação que permitisse medir este problema se o tivessem identificado como prioritário. Mas peço desculpa ao Expresso por ter apresentado um dado que, por aquilo que vemos agora, não devia ter sido usado”.
A oposição já foi reagindo. Entre críticas à “propaganda”, e na esperança de levar o assunto com urgência à Assembleia da República, Joana Mortágua (BE) atirou na TSF: “Na prática, o ministro mentiu. Respeito a sua honestidade mas é preciso explicar o que aconteceu”.