A ministra da Justiça israelita, Ayelet Shaked, líder do partido Nova Direita, protagonizou um invulgar e provocador vídeo de campanha que está a confundir os israelitas, a cerca de duas semanas de o país ir a eleições.
Ayelet Shaked é a protagonista de um vídeo provocador que imita o anúncio de um perfume. Aqui, a preto e branco, a ministra da Justiça aparece de forma sensual a promover um perfume chamado “Fascismo”.
Ao fundo, uma narradora sussurra em hebraico frases como “revolução judicial”, “separação de poderes”, “limitar os poderes do supremo tribunal” e “redução do ativismo”. “A mim, cheira-me a democracia”, acaba por dizer a ministra, diretamente para a câmara, dando a entender no final do anúncio que o frasco do perfume foi mal denominado.
O objetivo deste anúncio era promover as reformas judiciais que a ministra defende e, de forma original, responder com ironia àqueles que a acusam de ser fascista. Mas o resultado, contudo, confundiu ainda mais os israelitas, que vão a votos a 09 de abril.
Aqueles que não dominam o hebraico interpretaram o anúncio de forma literal (a única palavra em inglês é mesmo o nome do perfume) — uma ministra da Justiça a perfumar-se com fascismo. Outros consideraram que a piada estava demasiado próxima da verdade, salientando que a mesma defende políticas ultra nacionalistas e autoritárias.
Segundo o New York Times, os anúncios políticos israelitas fazem com que até mesmo os americanos pareçam “mais estáveis”: perto da dia da votação, as redes sociais dos eleitores foram fustigadas por anúncios, incluindo um que mostra um carro a explodir, causando a morte de Ahmed Jabari, membro do Hamas.
“Talvez fosse apenas uma questão de tempo até que alguém transformasse fascismo no nome de um perfume” – inspirado em Ayelet Shaked, “cuja combinação de atratividade juvenil e zelo para conter a influência do poder judiciário liberal” fez da própria o “legislador que a esquerda israelita mais ama odiar”, lê-se no jornal norte-americano.
Na verdade, continua o artigo, tal anúncio teria feito sentido vindo da esquerda ou de um programa de televisão satírico, como “Saturday Night Live”, que, certa vez, criou um anúncio com uma falsa Ivanka Trump, a publicitar um perfume designado “Complicit”. No anúncio, a personagem de Ivanka Trump era interpretado pela atriz Scarlett Johansson.
Com o tempo a esgotar-se antes das eleições, alguns analistas, como Anshel Pfeffer – colunista do jornal Haaretz – acreditam que o anúncio tenha sido criado justamente para ganhar atenção para a Nova Direita, que estava a cair nas sondagens. “Pelas reações, está a funcionar”, afirmou, numa publicação no Twitter.
Já Barak Ravid, correspondente diplomático da Channel 13, escreveu no Twitter: “Este é um dos anúncios eleitorais mais bizarros que já se viu… Viktor Orban em esteróides”, numa referência ao primeiro-ministro da Hungria, que é da extrema-direita.
Em dezembro, Viktor Orban aprovou na Hungria uma lei que visa criar tribunais supervisionados pelo ministro da Justiça, uma medida que, segundo os críticos, permite a interferência política em questões judiciais.
Ayelet Shaked, de 42 anos, é membro do partido Nova Direita, um grupo nacionalista, religioso e secular, que lidera em conjunto com o ministro da Educação, Naftali Bennett. O partido, que tem vindo a recuar nas sondagens – segundo as quais conquistará seis lugares em 120 -, é parte do governo de coligação de direita de Benjamin Netanyahu.
Naftali Bennett rejeita a criação de um estado palestiniano independente e quer anexar a Cisjordânia já ocupada. Os membros do grupo têm vindo a tentar suprimir organizações de direitos humanos e a reduzir a possibilidade de os tribunais julgarem soldados acusados de abusos.
Os tribunais israelitas, sobretudo o Supremo Tribunal, têm sido vistos pela direita como demasiado liberais e intervencionistas — e, portanto, uma barreira às reformas judiciais que Ayelet Shaked defende, indica o artigo do Sapo.
No domingo, o maior tribunal do país afastou da corrida eleitoral um político judeu racista e permitiu a candidatura de um partido árabe. Ayelet Shaked considerou a decisão “uma interferência crassa e equivocada, no coração da democracia israelita”.
E a ministra está lá ou puseram-na lá?