Ataque racista numa escola em Lisboa. Menino nepalês de 9 anos “vítima de linchamento”

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Uma criança nepalesa de 9 anos foi “vítima de linchamento”, num ataque racista e xenófobo, numa escola em Lisboa. O caso não foi denunciado às autoridades numa altura em que cresce o sentimento de “medo e de insegurança” entre os imigrantes.

A alegada agressão ao menino nepalês terá ocorrido há cerca de dois meses e é denunciada à Rádio Renascença pela directora executiva de uma instituição da Igreja, o Centro Padre Alves Correia (CEPAC), que acompanha a família da criança.

“Foi vítima de linchamento no contexto escolar por parte dos colegas”, relata a directora do CEPAC, Ana Mansoa, notando que foi tudo “filmado e divulgado nos grupos do WhatsApp das crianças”.

O ataque terá sido perpetrado por cinco colegas do menino que ficou com “hematomas pelo corpo todo” e “feridas abertas”, revela Ana Mansoa.

Estas lesões “acabaram por ser tratadas pela mãe porque teve medo e quis evitar ir a um hospital ou centro de saúde”, acrescenta.

Além das agressões físicas, terão também existido agressões verbais com termos racistas e frases como “vai para a tua terra”.

“Foi muito grave e com um impacto muito grande, não só no bem-estar físico, mas também emocional e psicológico desta família, que acabou por pedir transferência da escola” para “a segurança da criança”, revela ainda Ana Mansoa na Renascença.

Mas a mudança de escola não sarou as sequelas psicológicas. “O menino acorda de noite com pesadelos e a chorar, não quer ir para a escola”, refere a responsável do CEPAC.

Pais não denunciaram agressões por medo

Este caso foi tratado exclusivamente em ambiente escolar, com a suspensão de um dos alunos “por três dias”, segundo Ana Mansoa que sublinha que “foi muito insuficiente para a gravidade dos factos”.

“Foi uma abordagem muito conservadora. Foi um discurso que pôs o enfoque em serem crianças, não poderem valorizar estes comportamentos e que a mesma tinha sido uma situação isolada. A própria escola não denunciou o caso”, aponta ainda.

Os pais da criança trabalham na restauração, “estão integrados socialmente, têm rendimento fixo e a situação contributiva regularizada”, nota a directora do CEPAC. Não apresentaram queixa às autoridades por medo.

É preciso uma investigação “urgente”

O presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima, considera, também na Renascença, que “tendo em conta a gravidade da situação”, tem de ser investigada “urgentemente” pelas “autoridades competentes – que podem ser as CPCJ [Comissão de Protecção de Crianças e Jovens], ou o Ministério Público”.

Filinto Lima sublinha também a importância de estarmos “atentos” a estes casos. “Não podemos meter a cabeça debaixo da areia, fingindo que isto pode não existir”, alerta.

Este responsável nota o contributo do programa “Escola Segura” da PSP que também “realiza palestras ligadas a temas como racismo e a xenofobia”, e destaca os professores, “em contexto de sala de aula, no âmbito da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento“, também abordam estes temas.

Mas após a sensibilização dos alunos, “numa fase reactiva, depois das coisas acontecerem, temos a figura do processo disciplinar“, recorda.

Contudo, Filinto Lima realça que este mecanismo está “muito condicionado” pelo Estatuto do Aluno e Ética Escolar que tem “quase 12 anos e que deve ser urgentemente revisto” para ser reajustado à realidade actual.

“Tenho medo pelas minhas filhas”

Há cerca de 15 dias, um grupo de seis homens encapuzados, munidos de facas e bastões, invadiu uma casa no Porto, agredindo vários imigrantes argelinos.

Ana Mansoa repara na Renascença que, entre as famílias de imigrantes que o CEPAC acompanha, “tem havido um aumento dos relatos” e “um maior sentimento de medo e de insegurança“.

Esta responsável fala em situações de “agressões na via pública e nas escolas” devido à nacionalidade das pessoas.

Sou filha de imigrantes e nunca na minha infância ou na idade adulta tive medo de viver no meu país e, neste momento, em alguns contextos, tenho medo pelas minhas filhas“, salienta ainda Ana Mansoa, frisando que, em algus locais por onde passa, vê “frases escritas que não via, discursos que antes não eram proferidas de forma tão clara”.

ZAP //

12 Comments

  1. Esta gente que manda os outros “para a tua terra” é a mesma que, se vivessem nas colónias antes de 1974, diriam que estavam na sua terra e que os negros “terroristas” não tinham o direito à sua própria liberdade e independência. E também viveriam confortavelmente em qualquer país europeu.

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  2. No meu tempo de escola primária estes meninos agressores eram postos fora da escola e só se podiam inscrever a 30 ou 40km de distância . Os paizinhos percebiam logo porque tinham de ter mão nestes delinquentezitos.

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  3. …foi tudo “filmado e divulgado nos grupos do WhatsApp das crianças”.

    Na altura dos factos, o uso de WhatsApp por menores de 16 anos era proibido (actualmente menores de 13 anos). Porque não houve consequências e pedido de responsabilidade aos pais? Afinal existem as regras para quê? Acho que vamos ter que chegar a um ponto que as crianças e os jovens de hoje só poderão usar telemóvel a partir de determinada idade, e responsabilizar os pais no caso de incumprimento. As redes sociais, hoje em dia, só servem para degradar a vida social dos jovens actuais…

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  4. Fortes multas aos pais dos agressores e proibição dos jovens delinquentes de frequentar escolas públicas poderia contribuir para acabar com esta vergonha.

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  5. Ai se o filho (agredido) fosse meu…

    A gentinha que acha bem que se faça justiça popular que se prepare… para o reverso da medalha…

  6. Tenho muita pena mas, nesta situação, vou mesmo responsabilizar a actuação da escola. Então uma agressão com toda esta gravidade é punida apenas com três dias de suspensão das actividades lectivas?!!! Isso acabou por ser uma recompensa. O menino levantou-se à hora que quis, o mais provavel é ter ido almoçar ao Mac e, depois, passou o resto do tempo a enviar aos «amigos» do face book as horriveis imagens do seu indecoroso acto!! Não havia um serviço comunitário útil para a sociedade que ele pudesse executar dentro do espaço escolar? E a CPCJ não foi contactada porquê? SE não tomarmos medidas adequadas outros casos se sucederão! Era muito bom que o responsável- mor por estas ocorrências também tivesse um castigo merecido!!! Agora é ele que quer castigar o PR!!!

  7. Infelizmente tem aumentado os atos de agressões nas escolas. independentemente da raça, cor, sexo etc… E é isso que tem de ser combatido, disciplinando o aluno e respetivos pais, com sanções que afete ambos de forma exemplar. Limitar isto a atos de racismo ou a afirmações de alguns pacóvios que a culpa é do ventura é menosprezar atos inadmissíveis.

  8. O que é ainda mais surpreendente é a vítima ter tido que mudar de escola e os agressores manterem-se na mesma como se nada de grave tivessem feito. A punição caiu sobre a vítima. Fosse eu diretor de tal escola, esses meninos iam fazer as suas safadezas para outro lado!

  9. Sim! As manifestações anti- racismo e os videos xenófobos ,com que as nossas crianças são diariamente confrontadas ,só podem ter como consequência atos bárbaros como este! Ou duvidam?

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