O novo surto de coronavírus (Covid-19) está espalhar-se rapidamente, mas a um ritmo diferente nos vários países. Uma variedade de respostas de emergência e estratégias políticas foram implementadas com diferentes resultados até agora.
Os países e territórios asiáticos que foram atingidos pela primeira vez pelo surto basearam-se em respostas a epidemias anteriores, como a SARS. Outros países estão a aprender com isso, mas também a adotar as suas próprias estratégias.
É possível que não exista uma estratégia ideal que funcione para todos, pois as medidas terão resultados distintos em países com diferentes sistemas políticos e de saúde, normas sociais ou procedimentos operacionais. Também parece haver uma falta de consenso entre vários especialistas e governos sobre o que funcionará melhor, em parte graças às evidências limitadas. No entanto, houve uma série de novos estudos que nos dão algumas indicações.
Uma das primeiras medidas que muitos países estão a implementar para impedir a chegada do vírus, mas também para limitar a sua propagação, é proibir as viagens. Um estudo sobre restrições na Itália mostrou que reduziram as viagens em 50% nas regiões afetadas após três semanas.
Uma análise global que modelou como as restrições de viagens afetaram a transmissão revelou que a proibição de viagens em Wuhan atrasou a inevitável progressão da epidemia em apenas três a cinco dias na China continental. Contudo, as restrições de viagens foram eficazes na redução da transmissão internacional em quase 80%, sugerindo que essas proibições podem ser eficazes quando combinadas com outras intervenções.
Distanciamento social
Uma estratégia que parece ser eficaz para interromper a transmissão do vírus é o distanciamento social, minimizando o contacto social, limitando os ajuntamentos públicos e levando as pessoas a ficar nas suas casas, a menos que necessário. Vimos evidências disso na desaceleração de novos casos na China e na Coreia do Sul, bem como no número relativamente baixo de casos em Hong Kong, Singapura e Taiwan.
Os países europeus aprenderam as lições difíceis com a rápida disseminação do vírus em Itália e estão a implementar medidas de distanciamento social nos primeiros estágios do surto. Mas há debates em andamento sobre se o distanciamento social deve ser incentivado ou imposto, e se o isolamento social deve ser aplicado a toda a população ou só aos grupos de maior risco.
Estas opções refletem duas abordagens principais: mitigação e supressão. Estas foram modeladas num relatório pelos cientistas do Imperial College de Londres, aconselhando o Governo do Reino Unido na sua abordagem. O objetivo da mitigação é atrasar a propagação da infeção para evitar um grande pico na procura de assistência médica que possa sobrecarregar o sistema de saúde.
A supressão, por sua vez, consiste em interromper a progressão da pandemia num período mais curto, mantendo o número total de casos muito baixo. Envolve um distanciamento social mais extenso, mesmo entre aqueles com baixo risco da doença, proibindo ajuntamentos públicos e potencialmente fechando escolas e outros locais públicos. Isto pode ser feito de forma voluntária ou com uma quarentena forçada, como foi implementado em partes da China com um resultado positivo.
Mas há outros fatores a serem tidos em consideração além do efeito sobre a propagação da doença. As mulheres podem ser mais vulneráveis à infeção, uma vez que compõem a maior parte da força de trabalho na saúde. O fecho das escolas pode forçar os profissionais de saúde e outro pessoal essencial a ficar em casa para cuidar dos seus filhos. Filhos de famílias de baixos rendimentos não terão os mesmos recursos.
As quarentenas podem desencadear ou agravar problemas de saúde mental. Pessoas que vivem com depressão e ansiedade vão sofrer com a falta do contacto social e da psicoterapia. Os agregados familiares idosos vão ser isolados. As vítimas de violência doméstica vão ser confinadas ao mesmo espaço que os seus agressores.
Evidências da China sugerem que a supressão é possível a curto prazo sem um aumento maciço de casos após o levantamento das medidas. Resta saber qual deve ser a duração ideal da quarentena e se é possível que as medidas de supressão funcionem de forma consistente.
É possível seguir uma estratégia combinada de distanciamento social intermitente, guiada por mudanças na propagação da doença. Isto envolve acalmar as restrições por períodos curtos e observar o efeito. Se o número de casos recuperar, é necessário reintroduzir as medidas de supressão.
Isto poderia ajudar a impedir que as pessoas fiquem tão psicologicamente cansadas pelas restrições que começam a ignorá-las, embora os cientistas comportamentais tenham argumentado que não há evidências que sustentem este problema.
Testar
Um elemento final sugerido pelo sucesso da Coreia do Sul em limitar a propagação da doença é o teste de casos suspeitos. As evidências de um dos grupos iniciais de Covid-19 em Itália apoiam a ideia de que testes generalizados, juntamente com pacientes em quarentena, podem reduzir significativamente o número de pessoas infetadas e interromper a progressão da doença.
Sem descobrir quem tem a doença e garantir que eles se isolem, é muito mais difícil quebrar a cadeia de infeção. A Organização Mundial da Saúde está a incentivar testes generalizados, mas muitos cientistas discordam, porque testar todos é desnecessário, pode induzir pânico e levanta a questão de como aconselhar os pacientes sobre os seus resultados.
Também há escassez de kits de teste nalguns países e as capacidades de triagem estão no limite em países com muitos casos. Isto não apenas dificulta a interrupção da propagação da doença, mas também significa evidências menos precisas sobre se as medidas estão a funcionar.
ZAP // The Conversation