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Ventura quer dar “pancada política” à esquerda. Portas lamenta democracia transformada em “gritaria”

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Tiago Petinga / Lusa

O ex-primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, com o líder do Chega, André Ventura

O líder do Chega lembrou, esta quarta-feira, que o seu partido “nasceu para governar” e reafirmou que “não haverá Governos à direita” sem a presença desta força política.

No segundo dia de trabalhos da convenção do Movimento Europa e Liberdade (MEL), o líder do Chega, André Ventura, encerrou a manhã, tendo afirmado perante a sua plateia que “não haverá Governos à direita” sem o seu partido, numa clara pressão ao PSD.

Assumindo-se como representante da “nova direita”, em contraponto com a “direita clássica”, o deputado reafirmou que o “Chega não nasceu como um partido de protesto, nasceu para governar”, cita o jornal Público.

“É tempo de apresentar aos portugueses uma solução para governar, independentemente de o líder do PSD ser o doutor Rui Rio ou outro”, acrescentou, deixando a questão: “Para onde queremos ir enquanto direita? Queremos ir para o Governo ou ficar para trás a limpar a espuma da História?”.

“A culpa de a direita não estar no poder é nossa. Nós é que falhámos”, atirou ainda o deputado.

Ventura disse ainda para não contarem com o Chega para ser “mole” e a “direita fofinha” e criticou Rio porque “não tem conseguido fazer o seu papel de oposição à direita”.

Lançando duras críticas à esquerda e ao Governo, Ventura considerou ainda que o nosso país tem a “esquerda mais hipócrita da Europa” e que, neste caso, “não se dão bombons, dá-se pancada política“, cita também o Jornal de Notícias.

“Não digo que tenhamos todos de sair a dar as mãos, cantarmos todos juntos e a fazer uma oração, mas é tempo de os vencer, de os ultrapassar”, apelou o político, relembrando que os sociais-democratas precisam do seu partido.

“Não haverá um Governo de direita sem o Chega – nunca mais vai acontecer e isso será uma grande transformação”, afirmou, lembrando as últimas sondagens e dizendo: “Isto não é nenhum auto-elogio, são factos”.

“Pode ou não a direita clássica sonhar regressar ao poder sem a nova direita? Essa é que é a questão. (…) Podem conversar à vontade. Mas de que interessa conversar se não tiverem maioria para fazer Governo? As sondagens são muito claras: não há uma que não coloque o Chega em terceiro ou quarto lugar”, declarou.

Democracia “está transformada numa gritaria”

Coube ao ex-líder do CDS-PP, Paulo Portas, abrir este segundo e último dia de trabalhos da convenção, com uma intervenção com o mote “O mundo pós-covid: riscos e oportunidades”.

O também antigo vice-primeiro-ministro considerou que a democracia “está transformada numa gritaria” e que atualmente se governa “dependente da gritaria das redes” sociais.

“A democracia está, em certo sentido, transformada numa gritaria, onde não há nem longo prazo nem passado, é tudo um instante. Uma indignação e uma emoção, apenas a última antes da próxima”, afirmou o centrista, numa intervenção de cerca de 40 minutos.

“Hoje em dia governa-se para os likes, não se governa para o sentido comum e para o interesse geral. Hoje em dia governa-se dependente da gritaria nas redes, isso prejudica a capacidade de convivência de uma democracia e perverte o essencial da convicção democrática”, criticou o antigo governante, apontando que este “é essencialmente um fenómeno americano e um fenómeno europeu”.

Na ótica de Portas, “as organizações das vanguardas nas redes sociais no plano estritamente político levam ao triunfo das opções mais extremas e à rarefação da moderação, porque ninguém tem likes por ser moderado e ninguém é aplaudido por procurar um compromisso”.

“Eu não sei onde é que isto nos levará, mas certamente não é à democracia representativa como nós a conhecemos”, alertou igualmente.

Na sua intervenção, o ex-governante vincou ainda que “esta crise provou que os Governos direta ou indiretamente populistas não sabem gerir situações complexas” e argumentou que, dos “12 piores casos do mundo” no que toca a contágios e mortes pela pandemia, em números proporcionais à população, “nove têm ou tiveram durante o ano de 2020 e a caminho de 2021 Governos populistas ou Governos de coligação com populistas à esquerda e à direita”.

Apontando que “o populismo, seja ele de esquerda ou de direita é sempre uma simplificação”, o antigo líder do CDS vincou que “uma pandemia não é simplificável, é um assunto complexo” e apontou “a impaciência de líderes populistas” como fator que ameaça a “proteção de vidas e economias”.

Portas indicou que “basta olhar para Espanha e Itália para ver populismos de esquerda, basta olhar para o continente americano para ver populismo de direita em ação perante uma situação complexa”.

No que toca ao impacto da pandemia nas economias mundiais, o centrista referiu que “a China perdeu meio ano, os Estados Unidos um ano” e “a União Europeia, e em particular a zona euro, perderá entre um ano e meio e dois anos em termos económicos”.

Já o “risco para Portugal e para alguns outros países é estar no grupo” dos países “que perdem mais e recuperam mais lentamente o que perderam”, risco que deve ser contrariado com recurso aos “instrumentos da globalização”.

Portas destacou ainda que, enquanto os Estados Unidos injetaram na economia “o equivalente a 50% do PIB” em programas de estímulos, e que os fundos não são direcionados, a Europa “pré determinou que praticamente grande parte dos fundos ou são digitais ou são verdes”.

O político assinalou ainda que, enquanto a China tem “um líder vitalício” a os americanos “um líder veterano, mas talvez o político mais experimentado”, a Europa “está a viver um ano em que a sua líder de referência vai deixar o poder” e “não se vê quem vá substituir por enquanto a autoridade que tinha a chanceler alemã no plano europeu”.

Passos recusa ser protagonista da convenção

A presença do ex-primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, na convenção não tem passado despercebida, mas o próprio já disse que não é sua intenção ser o protagonista.

Em declarações aos jornalistas à chegada ao Centro de Congressos de Lisboa, Passos Coelho disse que marcou presença para ouvir o seu antigo vice-primeiro-ministro e, quando questionado sobre um possível regresso à vida política ativa, foi taxativo: “Nada disso”, disse, mais do que uma vez.

Em declarações aos jornalistas esta terça-feira, o ex-líder do PSD afirmou que terá “muito gosto” em ouvir a intervenção do atual presidente do partido, Rui Rio, que encerra hoje a convenção com uma intervenção prevista para as 20h00.

ZAP // Lusa

3 Comments

  1. VENTURA – Ó Passos… arrumamos primeiro o Rio… e depois eu arrumo o resto do CDS e… e… depois eu faço… de Portas no próximo governo. O que achas?
    PASSOS – Bem… bem… eu estou aqui como observador… mas… se o Rio puser o seu lugar à disposição… poderei pensar nisso. Mas… tu vais continuar com essa treta dos ciganos e por aí fora? É que isso é um bocado mau… Já viste o PSD, um partido de bem, a ter de se coligar com um partido de extrema direita?!
    VENTURA – Se me deres o cargo de vice primeiro-ministro acumulado com o ministro dos negócios estrangeiros… e mais dois ou três ministérios… de peso… para o Chega… até mudo o nome do partido e nunca mais falo em ciganos. Até passo a ir às feiras… sabes, como o Portas ia…com o chapéu na cabeça?! Sabes? Eu até passo a apertar a mão a todos os ciganos que me apareçam à frente. Assim como uma mão ocupada… já só têm uma livre para me apertar o pescoço.
    PASSOS – Pois, pois… E depois também dizes que te vais… e não vais como ele fez? Aquela coisa do irredutível?
    VENTURA – Não, é para ficar de pedra e cal. E tu… vais fazer daqueles cursos… aqueles dos aviões… dos aeródromos sem aeródromos, nem aviões, nem formandos?
    PASSOS – Isso já lá vai. Agora os voos são outros. E nem o iletrado do Relvas meto no governo… O gajo vai estudar… para ser alguém na vida.
    VENTURA – Boa, pá… ele que faça como o 44. Que vá ao domingo que aquilo é mais rápido.

    Autor: Cidadão de direita, liberal (embora admitindo o Estado na economia em algumas situações específicas).
    Reconheço que, quer à esquerda quer à direita, as opções são todas muito aquém daquilo que o país necessita.

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