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MEL das direitas não chegou para o consenso (e a aparição de Passos Coelho não passou despercebida)

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João Relvas / Lusa

O antigo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho (D), conversa com Luís Mira Amaral (E)

A convenção do Movimento Europa e Liberdade (MEL), que arrancou esta terça-feira, não uniu os partidos da direita. O primeiro dia de trabalhos pôs em evidência as divergências e contou com a presença do antigo primeiro-ministro Pedro Passos Coelho.

Os protagonistas do centro-direita reuniram-se esta terça-feira na III convenção do Movimento Europa e Liberdade (MEL) para discutir uma forma de criar uma alternativa ao socialismo em Portugal.

Francisco Rodrigues dos Santos, atual líder do CDS-PP, defendeu que, para combater a esquerda, que ocupa o trono há quase 25 anos, é preciso uma “direita forte”.

“Não precisamos de uma obsessão pelo centro, que a desvirtua por ser uma ideologia de fachada e que faz fretes ao PS. Querer ser apenas do centro é querer ser tudo e o seu contrário, tudo ao mesmo tempo e, no final de contas, não é ser coisa nenhuma”, disse, defendendo que esse posicionamento permite “à esquerda continuar no poder”.

Segundo o Público, o recado era para Rui Rio, presidente do PSD, que tem tentado posicionar-se ao centro. Sem referir alianças, criticou a governação socialista e apelou à construção de uma alternativa de poder.

“Vou ligar a direita às pessoas, a todas as pessoas que nos vão dar de novo maiorias absolutas para governar Portugal”, afirmou.

De manhã, o líder do Iniciativa Liberal, João Cotrim de Figueiredo, já tinha lançado críticas a Rio por se aliar ao PS em questões como o fim dos debates quinzenais e por fazer aquilo que chamou o “discurso do PCP”, ao defender a nacionalização do Novo Banco.

Não contem connosco para visões divisionistas” ou “visões não liberais da sociedade”, afirmou, citado pelo Expresso, garantindo que o IL continuará a estar presente tanto no 25 de Abril como no 25 de Novembro.

Mas as divergências não ficaram por aqui. Tornaram-se ainda mais evidentes durante o painel intitulado “A necessidade de convergência à direita e ao centro: o país em primeiro lugar”, no qual outros protagonistas do centro-direita assumiram a vontade de confluir, mas assombrados pelo fantasma da diferença.

Miguel Pinto Luz, ex-candidato à liderança social-democrata, assumiu que a fragmentação se deve à “orfandade” de Pedro Passos Coelho, que estava sentado na primeira fila, a assistir à convenção.

“Se hoje estamos a falar de um conjunto alargado de partido e movimentos é porque Pedro Passos Coelho deixou de ser líder do PSD”, disse, acrescentando que a atual liderança do PSD não mobiliza. “Rui Rio era melhor primeiro-ministro que António Costa, mas a verdade é que não tem adesão popular. É um problema que a democracia interna dos partidos tem de resolver e vai resolver em breve.”

Miguel Morgado, crítico de Rui Rio, não quis falar nem do atual, nem do anterior líder do partido, apesar de ter concordado com a ideia de que há “lideranças que motivam os portugueses”.

Presente no mesmo painel, Cecília Meireles, do CDS-PP, defendeu que a direita precisa de “sair muito rapidamente do divã e começar a discutir o país”. Para a centrista, o debate em torno de “quem é a direita mais fofinha ou menos fofinha é o maior frete ao PS”.

Nuno Afonso, vice-presidente do Chega que considera convergência à direita inevitável, contrapôs: “Fazer frete ao PS é fazer uma cerca sanitária ao partido que tem 8% nas sondagens”.

Ouvir “o presidente do Iniciativa Liberal e do PSD a dizer que não fazem Governos com o Chega é alimentar um sapo que mais tarde vão ter de engolir”, atirou, sublinhando que o Chega tem ocupado “um espaço de direita, não de extrema-direita”.

A presença discreta de Pedro Passos Coelho

Haja ou não convergência, Marcelo Rebelo de Sousa acha que o encontro das direitas vale a pena: “É uma expressão de vitalidade política e democrática importante.”

“A vitalidade faz-se nos partidos, nas associações políticas, nos movimentos cívicos e nos encontros políticos”, afirmou o Presidente da República à saída de uma exposição sobre D. Maria II, em Lisboa. “Tem havido congressos, há encontros mais amplos, acho isso tudo muito positivo para a democracia portuguesa.”

Questionado sobre a presença discreta de Pedro Passos Coelho, e se esta deve ser lida como um sinal de que o antigo primeiro-ministro está pronto para voltar à política, Marcelo disse ver possíveis motivos para uma “análise”. Mas não a quis partilhar.

Eu não posso fazer comentários dessa natureza. Posso analisar para mim mesmo. Mas não posso comentar”, afirmou, citado pelo Expresso.

A assistir à convenção, na primeira fila, Passos Coelho falou aos jornalistas, mas apenas para dizer que tinha todo o interesse em “ouvir” os oradores, incluindo Rui Rio.

“Vim assistir com muito interesse a esta convenção, como de resto fiz nas duas anteriores. Julgo que há um espaço de debate e de liberdade que é muito importante de estimular e promover no país, sobretudo quando as nossas tarefas de natureza política, económica e social são tão desafiantes, agravadas com as circunstâncias que vivemos nesta crise pandémica”, declarou.

Esta quarta-feira, o líder social-democrata estreia-se na convenção do MEL e fará o encerramento à hora de jantar. O encerramento da parte da manhã ficará a cargo do líder do Chega, André Ventura.

Liliana Malainho, ZAP //

4 Comments

  1. Viva o Centro e viva Rui Rio. A extrema-direita e os neoliberais que sigam caminho sem o PSD.

    O que gente como o líder do CDS propõe é meter interesse eleitoralista à frente de princípios ideológicos e Rui Rio é recto demais para esses zigue-zagues. Mas tendo em conta a crescentemente fraca expressão do CDS a nível nacional, é natural que queiram aliados. Mas se é aliar-se ao PSD que querem então o CDS é que vai ter de se deslocar mais pra Centro. Aliás já não falta tudo. Já tem o nome: Centro Democrata Social.

    • Já não adianta muito ao CDS deslocar-se porque desde a actual liderança que é um partido náufrago, como lhe chamou, e bem, o Cabrita.
      Longe vão os tempos de Freitas do Amaral, Adelino Amaro da Costa, Francisco Lucas Pires ou Adriano Moreira.
      Era gente de outro calibre.
      Como foi possível o CDS chegar a este ponto. Que líder é este?
      É ainda um rapazola com idade para andar nas “docas”, por isso, não pensa…

      • Foi possível devido ao Paulo Portas; o jornalista que nunca iria ser político porque “nos partidos é só gente medíocre e, quem vai para os partidos é para fazer negócios”… depois foi, esteve 20 anos à frente do CDS, andou a fazer estragos em 2 governos e, é ver onde ele está agora…

  2. Será que o líder do IL também acha que o governo britânico segue a política do PCP quando resgatou o Lloyd’s Bank que estava à beira da falência na sequência da crise financeira de 2008?
    Injectou no Banco muitos milhares de milhões de libras e ficou com a maioria do capital. Quando o Banco ficou sólido reprivatizou-o logicamente.
    Foi também assim que os EUA fizeram com o City Bank. E outros governos europeus.

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