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Marrocos, onde “o futebol é o ópio do povo”. A visão de um marroquino antes do duelo com França

Jalal Morchidi/EPA

Festa nacional depois da vitória sobre Portugal. Uma ocasião única para o país. E se Karl Marx tivesse outra vida…

Ainda não se sabe que selecção vai ser campeã mundial mas, daqui a muitos anos, falar sobre Mundial 2022 continuará a ser sinónimo de falar sobre Marrocos. Venceu Bélgica, Espanha e Portugal. Chegou onde nunca África havia chegado: meia-final de um Mundial de futebol. E agora? Horas antes do duelo com França, o ZAP falou com um marroquino (sob anonimato), que descreveu o seu país por estes dias. Três perguntas, três respostas.

ZAP – Como é o ambiente nas ruas de Marrocos? Como é que as pessoas estão a reagir a este percurso no Mundial?
MARR – As ruas de Marrocos ficaram cheias. As pessoas expressaram o seu sentimento por esta ocasião única para todos os marroquinos, por isso centenas de marroquinos saíram para celebrar: buzinaram nos carros, nas motas, enquanto as mulheres entoavam canções patrióticas. Momentos que ficarão gravados em todos os nossos corações. Lágrimas de alegria e momentos que nunca tínhamos vivido. Na verdade, irá permanecer como um dia eterno na memória dos marroquinos em particular, e do mundo árabe e islâmico

ZAP – Alguém em Marrocos esperava ver a selecção nas meias-finais?
MARR – Ninguém esperava que a selecção marroquina, ou qualquer outra selecção árabe, islâmica ou africana, chegasse a esta fase. Esta fase estava reservada para os gigantes do futebol. Além disso, todos nós continuávamos a acreditar que só um grupo limitado de selecções consegue ser campeã mundial: da América do Sul o Brasil, a Argentina e o Uruguai, e da Europa a Alemanha, Itália, França, Portugal, Espanha e Inglaterra.

ZAP – O futebol une ou divide Marrocos? Como vêem/sentem o futebol aí?
MARR – Se Karl Marx tivesse outra vida, escolheria mudar a sua ideia “A religião é o ópio do povo”, para se tornar “O futebol é o ópio do povo”. É o ópio do povo da actualidade, tal como descrevem sociólogos e intelectuais (os que não gostam de desporto). Este jogo popular transformou-se num novo ópio para as pessoas de todo o mundo. Oriente e Ocidente, em países ricos e pobres, fala-se sobre futebol nas casas, nos escritórios, nos cafés e na rua, não deixando ninguém indiferente. O futebol é a bruxa que desencadeia todos os tipos de sentimentos de alegria e raiva, une nações e às vezes une e separa os povos, e às vezes até os antagoniza. É o jogo que alimenta as identidades nacionais quando a selecção nacional joga, quando todo o povo se une à volta dela, longe das diferenças políticas, sociais e culturais, para apoiar a selecção.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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