A candidata presidencial pelo Bloco de Esquerda afirmou, este sábado, que “Portugal está aflito”, mas defendeu que a crise económica e social não começou com a pandemia e que o próximo Presidente não pode “ser um adorno”.
Numa apresentação formal da sua candidatura, em Lisboa, a eurodeputada e dirigente do BE, Marisa Matias, evocou por várias vezes Maria de Lourdes Pintasilgo, a única mulher primeira-ministra em Portugal, e recordou a sua candidatura a Belém de há cinco anos para lembrar outro cenário de crise.
“Esse fatalismo foi vencido e a política mudou em Portugal, mudou na proteção das reformas e pensões, na recuperação dos rendimentos, no desenvolvimento de serviços públicos, impedindo novas privatizações, o país ganhou com o reforço da esquerda e com a mobilização popular. Eu acredito profundamente que a minha candidatura fez parte dessa mudança que quebrou o ciclo da austeridade e que permitiu ao país respirar e recuperar”, defendeu.
Para as Presidenciais de janeiro de 2021, a bloquista considerou que a sua candidatura representará as pessoas que “à esquerda não baixam os braços e constroem soluções para o país”.
“Uma candidatura de quem, como Maria de Lourdes Pintasilgo, acredita na força do diálogo. De quem acredita que podemos ter uma política diferente. Mesmo diferente”, salientou.
“Como Pintasilgo, sei que as eleições Presidenciais não estão acima da política. Quem ocupar a Presidência não será um adorno nas escolhas decisivas que temos pela frente”, reforçou.
Na sua declaração, com cerca de 20 minutos, a candidata referiu-se ao atual contexto de crise sanitária, económica e social.
“Os seus efeitos recaem de forma desigual sobre a população, os mais pobres e os esquecidos são sempre as primeiras vítimas, o desemprego é uma praga, a vulnerabilidade cresceu. Em poucas palavras, Portugal está aflito“, avisou, salientando que “a pandemia acelerou a crise económica e social, mas não a inventou”.
“Não foi a covid-19 que empurrou dezenas de milhares de jovens para cima de bicicletas e motas para serviços de entrega porta a porta, sem contrato e sem direitos. Não foi a covid-19 que criou os lares clandestinos, onde são maltratados tantos idosos. Não foi a covid-19 que inventou a soberba dos patrões que fecham a porta, despedem as trabalhadoras e abrem nova empresa ao lado”, apontou.
A Marisa Matias juntam-se já outros sete pré-candidatos ao lugar de Marcelo Rebelo de Sousa, cujo mandato está a pouco menos de seis meses do fim.
São eles o deputado André Ventura (Chega), o advogado e fundador da Iniciativa Liberal Tiago Mayan Gonçalves, o líder do Partido Democrático Republicano (PDR) Bruno Fialho, a ex-eurodeputada e dirigente do PS Ana Gomes, Vitorino Silva (mais conhecido por Tino de Rans), o ex-militante do CDS Orlando Cruz e João Ferreira, do PCP.
ZAP // Lusa
Ó Senhora Marisa fica-lhe mal invocar a memória de tão distinta personalidade que foi Maria de Lourdes Pintassilgo. O próximo Presidente será tanto “um adorno” como é o Presidente actual. Para o Presidente deixar de ser um “adorno” teria que haver uma revisão constitucional a alterar alguns dos poderes do Presidente o que quer dizer dar mais poderes ao Presidente da República.