“O PS deveria ter um candidato” na corrida a Belém. Quem o diz é a antiga eurodeputada Ana Gomes que acredita, contudo, que Marcelo Rebelo de Sousa vai recandidatar-se à Presidência da República e acabará por ganhar.
“O Partido Socialista deveria ter um candidato próprio às eleições presidenciais. Acho que isso só dignifica o próprio debate presidencial, independentemente de quem vier a ser eleito. Não tenho dúvidas nenhumas de que o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa vai recandidatar-se e que ganhará. Mas considero que este é um momento de debate político”, começou por dizer Ana Gomes em entrevista à TSF.
“Não concordo com a tese construída, abstrusamente suponho, no tempo de Sócrates, de que o PS não tem de ter candidato às presidenciais. Bom, o resultado dessa tese foi pôr lá o professor Cavaco Silva e depois o professor Marcelo Rebelo de Sousa. Portanto, do meu ponto de vista, o PS deveria ter um candidato que conseguisse federar à esquerda. Reunir todos e pôr na agenda uma discussão que interesse à esquerda”.
Ana Gomes diz não aceitar que o PS, não manifestando posição “se preste a pôr-se a jeito para favorecer aquilo que inevitavelmente o professor Marcelo Rebelo de Sousa num segundo mandato quererá: favorecer o “centrão”, um entendimento do bloco central. E isso é altamente negativo para a democracia”.
“Mário Soares daria uma volta no túmulo”
A antiga eurodeputada socialista diz ainda que não irá entender se o PS não decidir tomar uma posição, defendendo que o partido tem alguma coisa a defender nestas eleições presidenciais, que se realizam em 2021.
“Esse é outro aspeto ainda mais perverso deste “não ter posição” ou apoiar frouxamente um ou outro candidato como aconteceu com o Sampaio da Nóvoa. E portanto o PS também tem alguma coisa a defender. O Dr. Mário Soares daria uma volta no túmulo se o PS nada fizesse e deixasse o professor Marcelo ultrapassar os tais 70% com que foi eleito Mário Soares em 1991 [risos]. Portanto, não me passa pela cabeça que o PS não tenha posição”.
Ana Gomes, que tem sido apontada por várias figuras como uma possível candidata às presidenciais, volta a dizer que não pretende entrar na corrida.
“Não [pretendo candidatar-me]. Estou farta de dizer que não penso candidatar-me. Vocês é que andam para aí a especular. Vocês, jornalistas (…) Eu sei muito bem onde estou, na minha pele, com toda a liberdade que hoje tenho, só limitada pela minha própria consciência. Naturalmente que me sinto lisonjeada e agradeço a todas as pessoas que têm expressado esse apoio (…) Mas o meu papel é precisamente falar desses temas, que são importantes e deviam estar na agenda diária, em vez estar a falar de coisas que a seu tempo trataremos. A questão das eleições presidenciais é daqui a quase um ano”, disse, antes de referir que não abre nem fecha a porta a nada.
“Eu nem a fecho nem a deixo aberta. Não estou aí. Estou a fazer o meu trabalho. O importante é discutir o que tem de ser discutido hoje e não o que se vai passar daqui a uns meses (…) Eu não sei o que é que se vai passar amanhã. Não sei se me acontece uma coisa qualquer. Nunca fiz projetos a longo prazo. Não tenho essa ambição. Tenho a ambição de intervir civicamente, utilizando todos os conhecimentos que tenho, as informações que muita gente de bem neste país me dá, e pondo o dedo nas feridas que muita gente quer ignorar mas que precisam de ser tratadas para salvarmos a democracia”.
Até ao momento, apenas o deputado único do Chega, André Ventura, anunciou que se vai candidatar à Presidência da República.