Marcelo: “Alterar voo da TAP por minha causa? Que ideia estúpida e egoísta”

Pedro Sarmento Costa / Lusa

Marcelo Rebelo de Sousa durante protesto de professores

Presidente não pediu alterações à empresa. Marcelo criticou reunião do Governo com gestão da TAP mas afasta mudanças imediatas no Governo.

O Presidente da República criticou hoje a reunião entre elementos de Governo, PS e gestão da TAP em véspera de audição parlamentar, mas afastou novamente um cenário de dissolução invocando a conjuntura e falta de alternativa política.

Em resposta aos jornalistas, em Murça, distrito de Vila Real, o chefe de Estado defendeu que “não faz sentido neste ambiente falar periodicamente de dissolução”, referindo-se à guerra na Ucrânia, à conjuntura de crise financeira económica com inflação alta e também à execução em curso dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Marcelo Rebelo de Sousa argumentou ainda que “neste momento não há uma alternativa óbvia em termos políticos” e desafiou a oposição a “transformar aquilo que é somatório dos números” nas sondagens numa alternativa política que seja uma realidade suficientemente forte para os portugueses dizerem: no futuro temos esta alternativa”.

O Presidente da República considerou que “não saiu bem aos olhos dos portugueses uma iniciativa reunindo deputados, Governo e gestão da TAP para preparar o que seria a intervenção parlamentar”, em janeiro, que comparou a “um professor fazer uma preparação um exame com os alunos que vai examinar”.

“Isso eu penso que foi um desgaste para as intuições desnecessário, eu acho que desnecessário. E aquilo que é legítimo pedir ao Governo é não só que faça por governar mais rápido e melhor – eu tenho insistido nisso, melhor e mais rápido – e que esteja atento a estas situações que têm um desgaste muito superior aos factos em termos de imagem”, disse.

Nestas declarações aos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que “do mesmo modo que a oposição não pode dar por garantido que o Presidente empurrado, empurrado, empurrado há de um dia dar a dissolução – é melhor não dar isso como garantido, Presidente não é refém da oposição –, mas também o Governo também não pode por garantido que porque tem maioria absoluta isso é o seguro de vida para não haver dissolução”.

“O Presidente não está nem no bolso da oposição nem no bolso do Governo. Está no bolso dele, e é livre e independente”, reforçou.

Presidente não pediu mudança de voo

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, classificou hoje como uma ideia simultaneamente “estúpida e egoísta” o pedido de alteração do voo em março de 2022 que teria precisamente como passageiro o Chefe de Estado.

Nunca me passou pela cabeça essa ideia que seria simultaneamente estúpida e egoísta. Estúpida porque só um político muito estúpido ia sacrificar 200 pessoas por causa de partir um dia mais cedo ou um dia mais tarde numa visita que se reajusta facilmente”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente acrescentou que seria também uma ideia egoísta e que, por causa disso, a Presidência da República “nunca contactou ninguém sobre isso”.

Marcelo Rebelo de Sousa falava aos jornalistas na aldeia de Valongo de Milhais, concelho de Murça, depois de questionado sobre o teor do polémico email do ex-secretário de Estado das Infraestruturas, que se tornou público na comissão parlamentar de inquérito sobre a gestão da TAP.

O Chefe de Estado frisou ainda que, quando a questão foi colocada ao Chefe da Casa Civil no dia 11 de fevereiro do ano passado, foi explicado “que era um disparate”.

Já na quarta-feira, a Presidência da República afirmou, numa nota escrita, que nunca contactou a TAP nem nenhum membro do Governo para uma mudança de um voo de regresso de Moçambique em março de 2022.

“A Presidência da República nunca contactou a TAP, nem nenhum membro do Governo sobre tal assunto. A Presidência da República nunca solicitou a alteração do voo da TAP, se tal aconteceu terá sido por iniciativa da agência de viagens“, lê-se na nota, enviada à agência Lusa.

Na mesma nota, a Presidência da República referiu que “o Presidente da República deslocou-se a Moçambique em março de 2022” e que “a viagem foi tratada pela agência de viagens habitual, que terá feito várias diligencias e acabou por encontrar uma alternativa com a TAAG, via Luanda, no dia 23, mas o regresso de Moçambique acabou por se verificar a 21 de março de 2022, num voo regular da TAP (TP182)”.

Na terça-feira, na comissão parlamentar de inquérito sobre a TAP, o deputado da Iniciativa Liberal Bernardo Blanco confrontou Christine Ourmières-Widener com uma troca de emails com o então secretário de Estado das Infraestruturas, Hugo Mendes, sobre uma eventual mudança de data de um voo que tinha como passageiro o chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa e que não chegou a acontecer.

Nesse email que dirigiu à presidente executiva da TAP, o ex-secretário de Estado das Infraestruturas Hugo Mendes argumentava que era importante manter o apoio político de Marcelo Rebelo de Sousa, considerando que era o “principal aliado” do Governo mas que poderia tornar-se o “pior pesadelo”.

Já hoje o primeiro-ministro, em declarações à agência Lusa, considerou gravíssimo o email que o ex-secretário de Estado Hugo Mendes enviou à presidente executiva da TAP sobre o chefe de Estado e afirmou que teria obrigado à sua demissão na hora.

// Lusa

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