“Guerra” nas Malvinas. Argentina conta contagiados nas ilhas como próprios

No mais recente boletim diário, cinco dos 2.149 casos confirmados no país dizem respeito às Ilhas Malvinas, um território considerado como estando ilegalmente ocupado pelo Reino Unido.

O governo argentino começou a contabilizar os infetados por coronavírus nas Ilhas Malvinas dentro das suas estatísticas, como habitantes contagiados em território argentino ilegalmente ocupado pelo Reino Unido, segundo o Ministério da Saúde.

No mais recente boletim diário sobre contagiados por coronavírus, o Ministério da Saúde argentino esclarece que, dos 2.142 casos confirmados no país, 91 estão na província argentina da Terra do Fogo que inclui também a Antártida e as Ilhas do Atlântico Sul.

“Foram incluídos cinco casos existentes nas Ilhas Malvinas, segundo a informação da imprensa. Devido à ocupação ilegal por parte do Reino Unido, Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, não é possível contar com informação própria sobre o impacto da Covid-19 nessa parte do território argentino”, esclareceu o boletim diário do Ministério da Saúde argentino.

A última informação disponível por parte da administração britânica nas Malvinas (Falklands) indica que há cinco pessoas infetadas no arquipélago, todos homens e militares.

Como a população das Malvinas consiste em apenas 4.300 pessoas, sendo mil militares, a Argentina considera que essa parte do seu território é a mais afetada pelo coronavírus, já que a proporção é de um contagiado por cada 860 habitantes.

O secretário de Malvinas, Antártida e ilhas Atlântico Sul (onde se inserem as Malvinas), Daniel Filmus, explicou que, mesmo que não sejam argentinos, os residentes nas Malvinas estão em território argentino.

“De acordo com a Constituição e a legislação vigente, a Argentina deve incluir aqueles que estão nas Malvinas nas suas estatísticas porque estão em território nacional”, apontou Filmus.

A Disposição Transitória Primeira da Constituição diz que “a Argentina ratifica a sua legítima e imprescindível soberania sobre as Ilhas Malvinas, Geórgias do Sul e Sandwich do Sul, além dos espaços marítimos e insulares correspondentes por serem parte integrante do território nacional”.

“A recuperação de tais territórios e o exercício pleno da soberania, respeitando o modo de vida dos seus habitantes e conforme os princípios do Direito Internacional, constituem um objetivo permanente e irrenunciável do povo argentino”, acrescenta a Disposição constitucional sobre as ilhas, ocupadas pela Inglaterra em 1833.

A decisão de incorporar os doentes das Malvinas como próprios tem um forte significado simbólico e político para a Argentina, 38 anos depois da guerra que fez 255 vítimas britânicas e 649 argentinas.

Durante o último mês, o encerramento das fronteiras aéreas e marítimas isolaram as Malvinas. Tanto o Chile quanto Cabo Verde, que funcionam como base para os voos da força aérea britânica, fecharam os seus aeroportos, dificultando o abastecimento dos kelpers, como são denominados os habitantes do arquipélago.

Cabo Verde suspendeu todos os voos que interligam o país com a Europa, a não ser aqueles repatriem cabo-verdianos. A companhia aérea Latam suspendeu os dois únicos voos regulares e comerciais às Malvinas, um que partia do Chile; outro do Brasil.

No dia 23 de março, num gesto sem precedentes desde a Guerra das Malvinas em 1982, o governo argentino ofereceu-se para “colaborar com os habitantes através do envio de alimentos frescos, material médico e testes para covid-19, bem como dispôs os meios para realizar voos humanitários e lugares de atendimento em centros médicos do território continental argentino”, segundo uma nota do Ministério das Relações Exteriores.

A nota descrevia o conteúdo da proposta feita pelo secretário argentino, Daniel Filmus, ao embaixador do Reino Unido na Argentina, Mark Kent.

A administração britânica das Falklands (Malvinas) emitiu uma nota através do qual manifestou “ter um plano sólido para abordar a covid-19” e que “quando precisarem de ajuda adicional, vão trabalhar com o governo do Reino Unido”, mesmo quando a Argentina está a 787 quilómetros das ilhas enquanto o Reino Unido fica a 13 mil quilómetros.

“Continuamos com a nossa proposta e autorizaremos todos os voos humanitários que as Malvinas nos solicitarem”, afirma o secretário argentino, Daniel Filmus.

// Lusa

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