“Círculos mágicos”, rituais e orações de bruxas russas apoiam e engrandecem Putin

Reunidas em círculo, mulheres de capuz e túnicas pretos, com um símbolo místico vermelho nas costas, baixam a cabeça e fazem um momento de silêncio. A líder vai ao centro e começa a entoar orações misturadas com slogans políticos.

“Que venha com grandeza, o poder da Rússia, que guie o caminho de Vladimir Putin de forma correta por meio da minha reza. Respire, Mãe Terra, abraçando a Rússia por todos os lados”, diz a auto-proclamada chefe do grupo, Alyona Polyn.

Enquanto as outras mulheres fazem gestos de concordância, prossegue: “Oh, poder primordial, regressem ao abismo aqueles que odeiam a Rússia. Que a Rússia se levante e se afaste da penúria e da pobreza e que os próximos dias abram as portas da felicidade”.

Estas mulheres fazem parte do “Império das Bruxas Mais Poderosas”, um grupo ocultista de feiticeiras russas que realiza com frequência “círculos mágicos de poder” para demonstrar o seu apoio ao país e ao seu presidente.

O último encontro ocorreu na terça-feira na região central da capital russa, Moscovo. As invocações patrióticas e a favor de Putin que permearam a cerimónia foram noticiadas por diversos meios de comunicação.

“Uma pessoa deve apoiar o governo e a Vladimir Putin antes e acima de tudo”, disse uma das bruxas, chamada Yulia.

Outra integrante do grupo disse à agência de notícias Reuters: “O nosso país enfrenta tempos difíceis e gostaríamos de apoiar o presidente com a ajuda dos nossos poderes. Queremos que os vilões fiquem em silêncio“.

A sua líder, Polyn, autodefine-se como a bruxa principal do grupo, fundadora do Império e herdeira de uma sabedoria ancestral. Ela contou a meios de comunicação russos que as suas cerimónias têm manifestações de apoio ao país e ao presidente, “já que ele é o rosto da Rússia”. Também afirmou que uma bruxa nunca deve falar mal de Putin.

O evento e a sua divulgação na imprensa geraram críticas de setores da oposição, porque, no mesmo dia, autoridades do país condenaram a seis anos de prisão um dinamarquês que é Testemunha de Jeová, denominação religiosa considerada uma organização “extremista” e proibida na Rússia desde 2017.

Quem são as bruxas do Império?

Jüri Maloverjan, correspondente do serviço russo da BBC, explica que o grupo é formado por dezenas de integrantes, na sua maioria mulheres, que partilham a crença nos rituais criados por Polyn, considerada por meios de comunicação do país como a “bruxa mais proeminente de Moscovo”.

Segundo ela própria, os seus conhecimentos foram herdados da sua família e usados como base para a criação do “maior grupo de feiticeiros do país”. Os seus membros costumam apresentar-se com outros nomes ou usam apelidos que aludem a elementos mágicos ou ingredientes tradicionais de magia, como Christina Mandrágora.

Ainda que seja incerto o número total de membros, o grupo autodefine-se como a “única organização para todos os envolvidos com magia e feitiçaria” a nível mundial e oferece serviços que vão de leitura de cartas de tarot a remédios contra maldições ou feitiços para atrair o amor. Os preços rondam entre os 70 e os 130 euros.

Maloverjan diz que o ocultismo e tudo que é vinculado a horóscopos e bruxaria são práticas bastante populares na Rússia e muito presente no seu folclore, ainda que fossem mal vistos e até mesmo proibidos durante a era soviética.

De acordo com dados do Ministério da Saúde russo, citadas pelo jornal The Moscow Times, mais de 800 mil russos prestavam serviços como curandeiros, médiuns, videntes, entre outras atividades do género, em 2017.