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A luta feminista e racial para chegar à Casa Branca. Antes de Kamala Harris, outras mulheres lutaram por um lugar

Kamala Harris, a vice-presidente eleita dos Estados Unidos é filha de imigrantes jamaicanos e indianos e a primeira mulher a ocupar este cargo em toda a história. Porém, outras mulheres negras tentaram assumir um papel ativo na política norte-americana, mas sem sucesso.

Com a vitória democrata, Kamala Harris quebra três barreiras centenárias. Para além de se tornar na primeira mulher a ser vice-presidente dos EUA, é a primeira negra no cargo e é também descendente de indianos.

As mulheres negras, em particular, têm alcançado algumas conquistas nos últimos anos, mas estas nem sempre foram fáceis. Até 1920, tanto as mulheres como os negros não tinham direito ao voto. Mesmo em 1960, quando as mulheres negras ajudaram a organizar o movimento pelos direitos civis, foram mantidas fora dos cargos de liderança.

No entanto, a luta por direitos iguais sempre foi uma constante e ao longo dos anos algumas figuras femininas tentaram ascender a cargos de destaque no país. Kamala Harris não foi a primeira mulher negra aspirante a vice-presidente na história americana.

Atualmente, várias mulheres negras lideram grandes cidades dos EUA, incluindo Atlanta, Chicago e São Francisco. São também vistas em cargos como chefes de polícia, governadoras e congressitsas.

Kamala Harris destacou-se como procuradora-geral da Califórnia e mais tarde como senadora. Contudo, historicamente, a maioria das candidatas presidenciais negras concorreram como independentes.

Historicamente derrotadas

Em 1968, Charlene Mitchell, de Ohio, tornou-se a primeira mulher negra a concorrer à presidência como comunista. Como muitos outros afro-americanos nascidos na década de 1930, Mitchell ingressou no Partido Comunista devido à sua luta na igualdade racial e nos direitos de género.

A campanha presidencial de Mitchell, que se centrava nos direitos civis e na pobreza, provavelmente estava condenada desde o início. Em 1968, muitos estados não permitiam os comunistas nas urnas. Os meios de comunicação também discutiram a “inadequação” de Mitchell como candidata porque ela era negra e mulher. Na altura, Mitchell recebeu apenas 1075 votos.

Margaret Wright, que concorreu ao Partido do Povo em 1976 e Isabell Masters, uma professora que criou seu próprio partido, chamado Looking Back, concorreram também como candidatas presidenciais negras independentes.

Em 1988, a psicóloga Lenora Fulani foi a primeira mulher afro-americana a aparecer nas urnas em todos os 50 estados do país. A candidata independente bateu um recorde de votos nas eleições nos EUA.

Em 2008, o ano em que Barack Obama foi eleito presidente, Cynthia McKinney, uma ex-representante dos EUA na Geórgia, foi indicada pelo Partido Verde.

No entanto, apenas uma mulher negra conseguiu a indicação do partido republicano, sendo ela Angel Joy Charvis, uma conservadora religiosa da Florida, que queria usar a sua candidatura de 1999 para “recrutar uma nova raça de republicanos”.

A primeira mulher negra membro do Congresso, Shirley Chisholm, tinha anos de experiência em cargos públicos quando se tornou a primeira mulher negra a ter a indicação presidencial democrata em 1972.

A política tornou-se alvo de sexismo. Um artigo do New York Times de junho de 1972 descreveu a sua aparência da seguinte forma: “não é bonita. O seu rosto é ossudo e anguloso, o nariz largo e achatado, os olhos pequenos quase redondos, e o pescoço e membros esqueléticos”, revela o The Conversation.

Chisholm recebeu pouco apoio, tanto de eleitores negros como de mulheres, e não venceu uma única eleição primária.

As mulheres negras que seguiram os passos de Chisholm do Congresso às primárias presidenciais democratas, incluindo a senadora por Illinois Carol Moseley Braun e a própria Kamala Harris, também não tiverem muito mais sucesso.

De acordo com Sharon Austin, professora de Ciência Política na Universidade da Florida, as candidaturas não tiveram sucesso porque não eram levadas a sério pelos media, por isso as candidatas tinham dificuldade em passar as suas mensagens.

Historicamente, as candidatas presidenciais negras também não receberam apoio de nenhum segmento de eleitores americanos, incluindo afro-americanos e mulheres. Geralmente, as pessoas pensavam que as candidatas com este perfil não poderiam vencer.

Como um vice-presidente que teve um papel importante no governo do presidente Barack Obama, Joe Biden sabe o que o cargo implica. Em Kamala Harris, o democrata escolheu uma mulher que não só o ajudou a ganhar as eleições, mas que também está pronta para governar.

ZAP //

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