A Câmara de Loures rejeitou “eventuais promiscuidades” nos contratos por ajuste direto celebrados entre a autarquia comunista liderada por Bernardino Soares e o genro do líder do PCP, Jerónimo de Sousa.
A Câmara reagiu assim à notícia avançada esta quinta-feira pela TVI, que descreve que o valor dos contratos em questão ultrapassa os 150 mil euros.
“A peça emitida não consegue apontar qualquer ilegalidade ou irregularidade em relação aos factos em análise, preferindo por isso centrar-se em especulações abusivas, com referência parcial e truncada das declarações do Presidente Câmara Municipal de Loures”, acusa o comunicado.
A reportagem conta que Jorge Bernardino, casado com Marília de Sousa, filha do secretário-geral do PCP, celebrou com a Câmara Municipal de Loures um total de seis contratos desde 2015 por serviço como limpezas de vidros, trocas de cartazes ou substituição de lâmpadas.
Todos somados, os contratos ter-lhe-ão valido mais de 150 mil euros. Os contratos foram celebrados depois de Jorge Bernardino ter estado desempregado cerca de três anos.
Nos últimos meses de 2018, refere ainda a reportagem, Jorge Bernardino chegou a faturar 11 mil euros por mês com serviços prestados à autarquia de Loures. Em outubro de 2018, terá recebido essa quantia por ter mudado oito lâmpadas e dois casquilhos. Em novembro do mesmo ano, também ganhou 11 mil euros, tendo efetuado a mudança de 10 lâmpadas e a substituição de 160 cartazes publicitários.
“O contrato visou assegurar a manutenção preventiva, reparação regular, limpeza, inspeção técnica incluindo da instalação elétrica, manutenção corretiva e substituição de publicidade institucional num total de 438 abrigos de paragem propriedade do Município e não concessionados”, lê-se no comunicado.
“Trata-se de um conjunto de funções de grande amplitude e extensão em nada comparáveis à referência acintosa da peça à mera mudança de lâmpadas e casquilhos. O número de abrigos é aliás cirurgicamente omitido em toda a peça”.
A Câmara de Loures assegura que este contrato substitui outros dois anteriores, com outras duas empresas, representando “uma poupança de cerca de 15%”.
A entidade liderada por Bernardino Soares acusa ainda a TVI de “despudorada manipulação” por “procurar comparar estes contratos a uma remuneração salarial, usando uma ardilosa comparação com o salário do presidente da Câmara”, ignorando os custos com a execução do serviço.
A terminar, repudia “a tentativa da peça da TVI de envolver o Município numa estratégia de generalização da atribuição de comportamentos ética e legalmente censuráveis à generalidade dos intervenientes políticos”.
Em entrevista à TVI, o presidente da Câmara Municipal de Loures, Bernardino Soares, tinha já justificado as quantias praticadas dizendo que estes “são os preços do mercado”. O líder do PCP disse apenas que “não se usa a família como arma de arremesso seja para quem for”.
Também o PCP, através de comunicado, reagiu à reportagem da TVI, escrevendo que o conteúdo divulgado constituiu “uma abjeta peça de anticomunismo sustentada na mentira, na calúnia e na difamação”, acusando aquele canal de televisão de sucumbir à “mercenarização do papel jornalístico”.
Para os comunistas, a TVI “parece ter adotado como critérios editoriais a opção pela especulação e insulto gratuito a par da conhecida promoção da extrema-direita e da reabilitação de Salazar e do regime fascista“, pode ler-se na nota do PCP.
“A insidiosa invocação da relação entre uma empresa e as relações familiares do Secretário-Geral do PCP só pode ser vista como uma gratuita provocação. (…) Aqueles que, como a TVI, pensam que com o silenciamento, a difamação e a perseguição podem calar o PCP estão profundamente enganados”, aponta ainda o partido.