A investigadora grega Christina Laskaridis afirma no livro “Europa à beira do abismo” que a austeridade imposta à Grécia está a empurrar o país para uma situação só comparável aos Estados que se encontram em guerra.
“O que as políticas da troika ajudaram a produzir foi um desemprego geral de 27% e mais de 25% de perdas cumulativas no produto nacional desde o pico que antecedeu a crise, o que corresponde a um recorde histórico para países em tempo de paz. Mesmo passados três anos, o fundo desta depressão grega ainda não está à vista”, escreve Christina Laskaridis, investigadora da Corporate Watch formada na Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres.
Laskaridis é autora do capítulo “Grécia: a pior história de sucesso da Europa” incluído no livro “A Europa à beira do abismo – a crise das dívidas soberanas – memorando da periferia”, coordenado pelo investigador e jornalista financeiro irlandês Tony Phillips.
O livro, que vai ser lançado este sábado em Portugal, incluiu um capítulo de Joseph Stiglitz, prémio Nobel da Economia, e uma secção dedicada ao caso português assinada pela economista Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda.
De acordo com Laskaridis, a Grécia foi sujeita a um rápido empobrecimento em virtude das medidas impostas pela troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e União Europeia), o que faz com que o país tenha nesta altura maior percentagem de população em risco de pobreza depois da Bulgária, da Roménia, da Letónia e da Lituânia.
Consequências da austeridade
A autora refere-se igualmente às consequências diretas que as medidas de austeridade impostas pela troika estão a provocar na sociedade grega, a todos os níveis.
“Desde 2009, as taxas de suicídio anuais aumentaram substancialmente, com uma subida de 137% entre 2009 e 2011 (…) milhares de pessoas dependem dos caixotes do lixo como primeira fonte de alimentação“, escreve Christina Laskaridis, referindo que “o número de sem abrigo atingiu os 40 mil e que 30 por cento das crianças gregas vivem em condições de pobreza ou exclusão social”.
Para Laskaridis, os “direitos dos credores” estão a sobrepor-se à democracia criando uma “pobreza modernizada” num contexto em que até os meios de comunicação social “se recusam” a abordar as verdadeiras questões tal como se mantêm escondidos os impactos das decisões económicas e financeiras tomadas no passado e as consequências das medidas impostas atualmente, afirma.
“Os investidores privados foram salvos pela despesa pública, tanto pelos contribuintes gregos, como pelos dos outros países europeus. A posição do Fundo Monetário Internacional quanto ao programa grego já não pode esconder a sua insustentabilidade”, refere a investigadora grega.
Christina Laskaridis sublinha que, na Grécia, a implementação das reformas só tem sido possível através do uso alargado da “força e da repressão” e que passados três anos desde o início do programa de resgate ao país o fim da recessão ainda não está à vista e a coesão social tornou-se cada vez mais vulnerável.
O livro tem 343 páginas e é lançado em Portugal pela Editora Bertrand, devendo ser apresentado em Lisboa pelo coordenador, Tony Phillips, no final do mês.
/Lusa