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A princesa Latifa preferia morrer a voltar ao Dubai. Continua desaparecida

BBC

Latifa Mohamed

A princesa Latifa Mohamed, filha do primeiro-ministro dos Emirados Árabes Unidos e governador Dubai, orquestrou durante sete anos um plano de fuga do país, tentando escapar às restrições que lhe eram impostas. O plano falhou, a princesa foi capturada e, desde então, ninguém sabe do seu paradeiro. 

Em março passado, a princesa partilhou um vídeo, no qual anunciava a sua decisão, explicando que ia fugir da “prisão dourada”, comparando a sua vida à de um prisioneiro. “Este pode ser o meu último vídeo”, afirmou Latifa.

“Eu faço este vídeo porque pode ser o último, em breve vou fugir, de uma forma ou de outra”, afirmou a princesa, explicando que a sua vida estava ameaçada devido ao seu pai: “A única coisa com que o meu pai se importa é a sua reputação, mataria para defendê-la. O meu pai só se preocupa com ele e com o seu ego”, disse há mais de oito meses.

A organização ativista Detained in Dubai informou no mesmo mês que a princesa tinha deixado o país com a ajuda de alguns amigos a bordo de um iate que foi capturado por comandos das forças especiais dos Emirados Árabes a 4 de março a 80 quilómetros de distância da costa da Índia.

Surgiram depois rumores de que Latifa, de 32 anos, tinha sido encontrada mas, desde então, não há notícias sobre o seu paradeiro – está desaparecida desde março.

A forma como a fuga de Latifa foi pensada vai ser revelada no documentário da BBC “Escape from Dubai: The mystery of de missing princess” nesta quinta-feira, contando com entrevistas de um antigo espião francês, bem como com relatos de uma professora finlandesa que garante ter ajudado a planear a fuga, revela o The Guardian.

De acordo com Hervé Jaubert, a princesa entrou contactou-o pela primeira vez em 2011 e, desde então, trocavam correspondência a cada dois ou três dias. Segundo o espião, estas comunicações serviram para planear a fuga. Além disso, contou, Latifa foi revelando alguns pormenores da sua vida pessoal, dando conta que tinha economizado 400 mil dólares para levar a operação a cabo.

“Fui maltratada e oprimido durante toda a minha vida“, escreveu Latifa num dos emails revelados por Jaubert. “As mulheres são tratadas como seres subumanas, o meu pai (…) não pode continuar a fazer o que tem feito com todos nós”, acrescentou.

Em 2014, a princesa conheceu Tiina Jauhiainen, instrutora de capoeira brasileira que lecionou aulas numa das residências reais. Jauhiainen tornou-se numa das suas melhores amiga e chegou a conhecer Jaubert, tendo-se reunido várias vezes com a antiga espia para detalhar a operação de fuga.

O caminho para a “liberdade”

No dia da fuga, revelou Jauhiainen, a princesa trocou de roupa e usou óculos escuros, e ambas cruzaram a fronteira para Omã para depois continua a travessia pelo mar.

De acordo com o seu relato, tiveram de navegar 40 quilómetros num barco insuflável e jet ski, até chegarem a águas internacionais, onde se encontrariam com Jaubert, que estava num iate, para rumarem para Goa.

Durante a viagem, a princesa contactou a organização internacional Detained in Dubai, bem como os média na esperança de que, se tornasse o seu caso público, estaria mais protegida. “Latifa estava a mandar emails para jornalistas mas ninguém respondeu, ninguém parecia acreditar nela, o que a deixou triste e desesperada”, revelou Jauhiainen.

Apesar da tentativa de fuga, o plano não correu bem. O iate acabou por ser intercetado por forças especiais dos Emirados Árabes, tendo a princesa sido capturada e levada num helicóptero, tal como descreveu o antigo espião à BBC.

Desde então, Latifa não foi vista novamente, nem foi possível contactá-la.”[Latifa] disse que preferia ser morta no navio do que voltar para Dubai”, disse Jaubert. “Eu nem sei onde onde ela está, estou muito preocupado”.

Num vídeo que gravou, para ser publicado caso a fuga falhasse, a princesa disse estar preparada para uma punição severa se fosse capturada. “Se está a ver este vídeo, não é bom, ou estou morta ou então estou numa situação muito, muito, muito má”, disse.

Em maio passado, uma fonte próxima ao governo de Abu Dhabi disse à agência Reuters que “Latifa está segura e perto da sua família“, recusando-se a tecer mais comentários sobre o assunto, alegando questões legais.

O Governo do Dubai não comentou o documentário da BBC, nem respondeu ao pedido do The Guardian para comentar o assunto.

ZAP // RT

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