Kremlin garante que a Rússia não entrou em incumprimento

“Estas alegações sobre um incumprimento russo são completamente ilegítimas”, garantiu Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin.

Peskov assegurou ainda que “este pagamento foi feito em maio, em moeda estrangeira” e que não há “qualquer razão” para falar em incumprimento.

O porta-voz do Kremlin veio desmentir o incumprimento por parte da Rússia, anunciado por alguns meios de comunicação, depois de detentores de obrigações russas não terem recebido os juros até à data limite.

A Rússia entrou em ‘default’ ao falhar o prazo de pagamento de 100 milhões de dólares em juros a detentores de dívida, pela primeira vez desde 1918, avançou a Bloomberg, consequência das sanções ocidentais cada vez mais duras.

“Não há razão para chamar a isto um incumprimento“, afirmou Peskov aos repórteres. “Este pagamento foi feito em maio, em moeda estrangeira”, garantiu.

A Rússia assegurou que tinha pago juros sobre duas dívidas de 71,25 milhões de dólares e de 26,5 milhões de euros a 20 de maio, sete dias antes da data prevista para evitar que estes pagamentos fossem bloqueados por sanções em vigor a partir de 25 de maio, de acordo com a Lusa.

Se os credores não recebessem o valor dos juros até 26 de junho, a Rússia estaria em situação de incumprimento.

“Isto não é um incumprimento do nosso país, mas sim o colapso artificial e deliberado do sistema internacional de compensações”, insistiu Ria Novosti Konstantin Kosachev, vice-presidente da câmara alta do parlamento, à agência russa.

O porta-voz do Kremlin alertou ainda que haveria consequências para qualquer tentativa do Ocidente de se apropriar das reservas financeiras russas no estrangeiro, sob pretexto de incumprimento.

As reservas encontram-se neste momento congeladas, como parte das sanções ocidentais contra Moscovo, devido à invasão russa da Ucrânia.

As reservas estão “ilegitimamente congeladas e qualquer tentativa de as utilizar será também ilegítima, será praticamente um roubo“, sublinhou Peskov.

Anton Siluanov, o ministro das Finanças russo, afirmou na semana passada que a Rússia tinha efetuado pagamentos de juros em rublos da dívida emitida em dólares, negando que o país estivesse em risco de incumprimento.

Acusou ainda as “contrapartes estrangeiras” de se recusarem a fazer pagamentos em moeda estrangeira, criando assim as condições para um incumprimento artificial. De acordo com Siluanov, a situação é uma “farsa”.

O reembolso numa moeda diferente daquela em que uma dívida é denominada expõe o devedor ao incumprimento da sua dívida.

Tendo em conta que as três principais agências internacionais de notação financeira já não classificam a Rússia, cabe agora à Credit Derivatives Determinations Committees — uma organização dos principais bancos internacionais  — avaliar se a Rússia está ou não a falhar os pagamentos aos credores.

Segundo a Bloomberg, a Rússia encontra-se em incumprimento, sendo que a situação é considerada um evento de suspensão de pagamentos.

A agência acrescenta ainda que é o “culminar das sanções ocidentais cada vez mais severas que têm bloqueado os canais de pagamento aos credores estrangeiros”.

“É um sinal sombrio da rápida conversão do país (Rússia) num pária económico, financeiro e político”, conclui a Bloomberg.