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“Acalmar os ânimos.” Justiça brasileira impede exibição do especial de Natal da Porta dos Fundos

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Netflix

“A primeira tentação de Cristo”, Porta dos Fundos

Um juiz do Tribunal de Justiça do estado brasileiro do Rio de Janeiro determinou esta quarta-feira que a Porta dos Fundos e a Netflix deixem de exibir o especial de Natal “A Primeira Tentação de Cristo”.

A decisão provisória responde a um pedido da Associação Centro Dom Bosco de Fé e Cultura e foi tomada pelo magistrado Benedicto Abicair.

Depois de apresentar argumentos e a linha jurídica que adotou, o juiz que deferiu o pedido contra o grupo humorístico considerou “mais adequado e benéfico, não só para a comunidade cristã, mas para a sociedade brasileira, majoritariamente cristã”, que o conteúdo seja retirado “até que se julgue o mérito”, recorrendo-se, assim, “à cautela, para acalmar ânimos”.

A três de dezembro, a produtora do grupo Porta dos Fundos lançou o especial de Natal “A Primeira Tentação de Cristo” no qual Jesus é representado como um jovem que terá tido uma experiência homossexual e também insinua que o casal bíblico Maria e José viveram um triângulo amoroso com Deus.

A sátira, de 46 minutos, protagonizado pelos humoristas brasileiros Gregorio Duvivier e Fábio Porchat, não agradou a grupos religiosos, que criticaram a temática. Foi também lançada uma petição contra o filme, com mais de dois milhões de assinaturas de pessoas que consideram que a obra “ofende gravemente os cristãos”.

Na madrugada de 24 de dezembro, na véspera de Natal, a sede da Porta dos Fundos, no Rio de Janeiro, foi alvo de um atentado que não provocou vítimas. Numa nota, a produtora condenou “todos os atos de violência” e afirmou esperar que “os responsáveis por este ataque sejam encontrados e punidos”.

O incidente foi filmado pelas câmaras de vigilância, tendo as imagens sido entregues às autoridades. Eduardo Fauzi Richard Cerquise, um dos suspeitos de participar do ataque à produtora do Porta dos Fundos, já foi identificado pelas autoridades brasileiras embora se encontre na Rússia.

O suspeito fazia parte da Frente Integralista Brasileira (FIB), um dos principais grupos nacionalistas e de extrema-direita do Brasil, e que se define como defensora dos valores cristãos, da propriedade privada e da família.

ZAP // Lusa

7 Comments

    • E que tal respeitar a liberdade religiosa e religião dos outros? Eu nasci e fui criado na religião católica, hoje não me revejo na maioria do que prega a religião católica e muito menos qualquer outra religião mas tenho a obrigação de respeitar as crenças dos outros. Muito do terrorismo que acontece pelo mundo tem como base a intolerância e descriminação religiosa, e o desrespeito. Não obstante o fanatismo religioso é, tal como disse Karl Marx, o ópio do povo.
      Liberdade não é o mesmo que libertinagem, ora vejamos, eu posso chamá-la de algo muito ofensivo, mas isso vai além dos limites da liberdade e entra não só na libertinagem como também no desrespeito, ofensa, injúria e até crime. Mas se eu fosse frívolo fá-lo-ia e quando você me chamasse à atenção por isso eu simplesmente dir-lhe-ia que estava no meu direito como cidadão e era livre de o fazer, e se o zap me bloqueasse o comentário queixar-me-ia que estava a ser vítima de censura! A sua liberdade termina quando se sobrepõe ou fere de qualquer modo a liberdade de outros, o respeito é bom e todo mundo gosta.

      • Já pensou que se calhar também é um desrespeito pela liberdade das pessoas envolvidas na Porta dos Fundos não lhes permitir expressarem-se livremente? Essa questão da liberdade dos outros só é relevante quando alguém impede ou prejudica efetivamente outro. Os cristãos podem alegremente seguir a sua vida ignorando completamente a Porta dos Fundos, pois a sua liberdade não foi afetada em nenhum sentido prático.

      • “E que tal respeitar a liberdade religiosa e religião dos outros?”

        Mas em que é que a sua liberdade religiosa foi desrespeitada? Não continua a ser livre de ter e praticar a sua religião? Os humoristas e todos os apreciadores desta arte, esses sim vão ser desrespeitados através de um ato medieval de censura.

        “…mas tenho a obrigação de respeitar as crenças dos outros.”

        Mas porque é que tem a obrigação de respeitar as crenças dos outros?
        Especialmente quando essas crenças são fundadas em superstições milenares que atrasaram e continuam a atrasar o progresso civilizacional.

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