A juíza em causa ordenou que todos os documentos apreendidos na casa de Trump sejam revistos por um revisor independente e que os agentes do FBI não os possam consultar enquanto a revisão não estiver concluída. A decisão está a ser criticada e os analistas dizem que tem motivações políticas.
A juíza federal Aileen Cannon, que foi nomeada por Donald Trump, deu agora luz verde a um pedido do ex-Presidente, que quer uma revisão a todos os documentos que foram obtidos durante as buscas do FBI à sua casa em Mar-a-Lago e que estão agora nas mãos do Departamento de Justiça.
A magistrada decidiu que todos os 11 mil documentos e objectos que o FBI apreendeu têm de ser novamente analisados para se procurar informações que possam pôr em causa da conduta de Donald Trump.
A juíza vai nomear um revisor independente e este processo pode adiar a investigação durante mais de um ano. Os investigadores também não poderão consultar os documentos enquanto a revisão estiver em curso
A decisão está a ser criticada por vários especialistas em direito, que acusam a juíza de ter motivações políticas. Stephen I. Vladeck, professor de Direito na Universidade do Texas, revela ao The New York Times que a actuação da juíza como uma “interferência sem precedentes” numa investigação sobre a segurança nacional.
Já ao The Washinton Post, o ex-procurador federal Brandon Fox acusa a magistrada de tratar Trump de “forma especial” e acima da lei.
O próprio Bill Barr — ex-procurador-geral de Donald Trump que desde então se desentendeu com o ex-Presidente e que foi recentemente criticado por também o proteger no caso Russiagate — descreveu a decisão como “errada” em declarações à Fox News e considera que o Departamento de Justiça deve recorrer.
Quanto mais tempo o caso demorar, mais perto ficamos das eleições intercalares e das presidenciais de 2024, onde Trump planeia recandidatar-se, o que dá ao ex-Presidente um trunfo na campanha, podendo alegar que a investigação que está a decorrer é apenas uma tentativa de Joe Biden de derrubar um adversário político.
O atraso na investigação também beneficia Trump ao levar ao inevitável atraso da soa possível condenação. Caso seja condenado, o ex-chefe de Estado ainda não está livre de ser impedido de se recandidatar.
Esta sexta-feira, o Departamento de Justiça anunciou que vai recorrer da decisão, considerando que esta acarreta riscos de “danos irreparáveis à nossa inteligência e segurança nacional” ao sabotar os esforços dos responsáveis que estão a averiguar se houve possíveis fugas de informação e qual o nível de exposição dos documentos confidenciais que Trump escondeu.
A presença de documentos sobre armamento nuclear entre os ficheiros que o ex-Presidente levou consigo sem autorização está a preocupar os especialistas em segurança nacional, que acreditam que Mar-a-Lago foi um alvo para os espiões de países como a Rússia ou a China.
Os procuradores e os agentes do FBI querem assim continuar a ter permissão para consultar os documentos mesmo durante a elaboração da revisão ordenada pela juíza, explica a VOX.
O Departamento também se precaveu contra uma possível refutação da juíza ao dar a mão à palmatória numa das exigências de Trump, argumentando que a defesa do ex-Presidente terá acesso a cópias de todos os documentos não-confidenciais que foram recolhidos durante as buscas e que lhe serão devolvidos os seus ficheiros pessoais que tenham sido levados pela polícia e que não sejam relevantes.
Com este argumento, Cannon já não vai poder argumentar que o FBI privou Trump do acesso aos seus documentos pessoais. Desta forma, os procuradores também estão a reduzir o número de documentos que têm de ser revistos, o que ajuda a acelerar a conclusão da revisão e o avanço da investigação.
Comité de Trump sob investigação
Esta não é a única investigação que está a dar dores de cabeça aos advogados do ex-Presidente. Para além da questão dos documentos, da investigação ao ataque ao Capitólio ou do caso de fraude fiscal na Trump Organization, o comité político criado por Trump após a derrota nas presidenciais está agora também sob investigação.
Um grande júri federal está a investigar em Washington a formação e os gastos do comité “Save America”, que arrecadou milhões de dólares alegando sem provas que aquelas eleições, que deram a vitória ao democrata Joe Biden, foram fraudulentas, noticiou esta quinta-feira o The New York Times.
As intimações emitidas mostram que o Departamento de Justiça está interessado no funcionamento do comité. O grande júri convocou meia dúzia de assessores de Trump, quer na Casa Branca, quer na campanha presidencial do ex-presidente republicano (2017-2021), como William Russel, que actualmente faz parte da sua equipa.
A intimação faz parte da investigação sobre as atividades que levaram ao ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021, que ocorreu enquanto a vitória eleitoral de Biden estava a ser certificada.
A estação ABC também especificou esta quinta-feira que estas intimações procuram entender tanto a formação do “Save America” e suas iniciativas de captação de recursos, quer o uso que foi dado a esse dinheiro.
Trump declarou em maio de 2021 que o “Save America” se baseava nas conquistas do seu governo para “apoiar os bravos conservadores” que, na sua opinião, definiriam o futuro do movimento “America First”.
O ex-presidente acrescentou na altura que o seu objetivo era “garantir” a “manutenção” do “America First” na política externa e interna do país e ensinar “a verdade” sobre a história norte-americana.
A ABC observou esta quinta-feira que, desde a sua criação, a ‘Save America’ arrecadou mais de 135 milhões de dólares, também através de transferências de comités afiliados. No final de julho, o PAC disse que tinha menos de 100 milhões de dólares em dinheiro.
Adriana Peixoto, ZAP // Lusa