O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, classificou esta segunda-feira como “um crime económico” a intenção de encerrar a refinaria da Galp de Matosinhos, e criticou o Governo por dar “cobertura a falsos argumentos e mentiras” da empresa.
No encerramento de um encontro com representantes dos órgãos representativos dos trabalhadores da Galp, que decorreu em Lisboa, o líder comunista frisou que “a decisão está tomada, mas não está concretizada”, defendendo que, como aconteceu no passado, “pode ser revogada”.
“Saímos com a convicção reforçada de que estamos perante um crime económico que precisa de ser denunciado e combatido. Um crime que beneficia o grande capital (…) e que responsabiliza o Governo, que não só não impede esta decisão, como dá cobertura aos falsos argumentos e às mentiras que têm sido projetadas, procurando ligar esta decisão aos impactos da covid-19 ou a supostas preocupações ambientais”, alertou Jerónimo de Sousa.
O secretário-geral do PCP defendeu que encerrar a refinaria de Matosinhos “não tem qualquer impacto no ambiente global”, se apenas se tratar de uma deslocalização da produção, podendo até prejudicar o meio ambiente por aumentar a necessidade de transporte pesado para levar combustíveis para o norte do país.
“O encerramento é realizado por opção económica da Galp e dos seus acionistas, a etiqueta ‘ambiente’ serve para que a operação seja financiada com fundos públicos”, apontou, alertando que será o Estado a suportar os custos das indemnizações aos trabalhadores.
Para Jerónimo de Sousa, outra das razões deste anunciado encerramento é o “excesso de oferta da União Europeia”, lamentando que “não se tenha aprendido nada com as lições da liquidação do aparelho produtivo português” ao longo dos anos em setores como a siderurgia ou a ferrovia.
O líder do PCP alertou que, se Portugal passar a contar apenas com a refinaria de Sines, sempre que esta tiver de ser encerrada para manutenção ou por um acidente, “o país passa a ficar totalmente dependente da importação”.
“A alternativa que se desenha no horizonte não é Sines, mas sim a Galiza e a sua refinaria da Repsol em La Coruña”, avisou.
Além das críticas à administração da Galp, Jerónimo de Sousa salientou que “o Governo é o segundo maior acionista da Galp e tem os instrumentos necessários para travar” este encerramento.
“Mas é preciso querer, e não quer. O enfeudamento de PS, PSD e CDS aos interesses do grande capital na Galp é antigo e tem sido bem recompensado ao longo destes anos de gestão privada”, criticou.
Jerónimo de Sousa apelou à luta dos trabalhadores antes de se consumar o encerramento da refinaria — que considerou pode arrastar a destruição de um cluster industrial na região — não só em sua defesa, mas também pela nacionalização da Galp.
Durante cerca de uma hora, vários representantes sindicais e dos trabalhadores da refinaria de Matosinhos apelaram igualmente à mobilização dos trabalhadores num plenário marcado para quarta-feira.
O PCP já tinha requerido, no parlamento, a audição urgente do ministro do Ambiente Matos Fernandes, iniciativa que o deputado Duarte Alves — também presente no encontro — espera ver concretizada na primeira quinzena de janeiro.
A Galp anunciou na semana passada que vai concentrar as suas operações de refinação e desenvolvimentos futuros no complexo de Sines e descontinuar a refinação em Matosinhos a partir do próximo ano.
Em causa estão, segundo os sindicatos, 500 postos de trabalho diretos e mil indiretos. O Estado é um dos acionistas da Galp, com uma participação de 7%, através da Parpública.
// Lusa