Isaltino Morais conta num diário confessional, à venda a partir desta sexta-feira, os 429 dias que passou preso depois de ter sido condenado por fraude fiscal. “A Minha Prisão: e Se Acontecesse Consigo?” é o título da obra do ex-presidente da Câmara de Oeiras.
No livro, que será oficialmente apresentado a 4 de Junho, Isaltino Morais faz reparos ao ex-líder do PSD Marques Mendes a à ministra da Justiça Paula Teixeira da Cruz, mas conta também como se fazia aguardente na prisão e como era procurado por outros detidos para lhe fazerem desabafos, como foi o caso de um pedófilo.
Entre estas notas, Isaltino Morais deixa ainda várias confissões mais íntimas enquanto garante, em declarações ao Diário de Notícias, que não vai voltar à política.
O Observador publicou alguns extratos da publicação:
Críticas a Marques Mendes e Paula Teixeira da Cruz
“Luís Marques Mendes pediu-me para o receber e disse-me que a saída de Marcelo Rebelo de Sousa da liderança do partido o tinha deixado de fora da lista para as “europeias”, em 1999, que antes julgava ser certa, tendo já contraído algumas despesas em Bruxelas. Percebi o seu nervosismo e não tive como não o ajudar.
Contribuí para a sua chegada a ministro dos Assuntos Parlamentares do Governo Barroso, em 2002, contra a vontade inicial do primeiro-ministro. Expliquei que, em minha opinião, era melhor termos Marques Mendes dentro do Governo, devidamente domado, do que fora dele em jeito de franco-atirador”.
“A relação de Marques Mendes com Paula Teixeira da Cruz é antiga.
Só após a minha recusa [de poder concorrer a várias câmaras da Área Metropolitana de Lisboa], Luís Marques Mendes lançou a sua deriva moralista contra o que chamou de “candidatos arguidos” (…). Para irritação dos meus adversários, ganhei as eleições em Oeiras e, com a minha vitória, Luís Marques Mendes começou a perder a liderança do PSD”.
Uma busca demasiado íntima
“A noite passada fomos surpreendidos com uma rusga à cela (…). terão na sua origem qualquer denúncia baseada ou em conhecimento de qualquer facto ou mera inveja entre reclusos ou entre guardas prisionais (…). Mandaram-nos sair a todos para o corredor, para entrarmos de seguida, um a um, para revista com desnudamento completo e posterior agachamento para verificar se algo estaria escondido no ânus. (…) O objetivo destas rusgas é a apreensão de droga, telemóveis ou outro material de natureza ilícita. Segundo as conversas, (…) o alvo era eu próprio. Terão estranhado eu só telefonar ao fim da tarde e durante o resto do dia não me verem ao telefone”.
Conversas com Carlos Cruz e Vale e Azevedo
“À chegada ao pátio, às 9 horas, encontrei de novo à porta o Carlos Cruz. Já no pátio, dei algumas voltas com o Vale e Azevedo. Conversámos sobre os processos e fiquei a saber que, dos 700 reclusos da Carregueira, sou o recluso com a mais baixa pena e o único primário condenado a menos de cinco anos – no caso dois – a quem a pena não foi suspensa. Daí o facto de ser o recluso com a pena mais baixa. Noutros casos é sistematicamente suspensa. Mas esta é uma originalidade irreversível com a qual tenho de me conformar”.
O cabrito assado
“A noite de ontem foi especial: partilhámos o cabrito assado entre os cinco [reclusos com quem dividia a cela]. Dizer que estava delicioso é pouco. (…) Acompanhado com queijo de Alcains com gosto a Rabaçal, biscoitos da Guia, que a minha ex-mulher mandou, culminando com cerejas ótimas do Rui. Tudo isto regado com Sumol. Terminei a fumar um charuto de casamentos, à janela da prisão, oferecido por um outro recluso.
O aquecimento do cabrito resultou do empenho do Rui. A embalagem plástica foi colocada no lavatório e aquecida em banho-maria com várias cafeteiras de água a ferver, tudo coberto com uma toalha para conter o calor. Muito bem, Rui!”
O incidente com um muçulmano
“A Patrícia trouxe-me carne de porco (secretos) e peru. Enganei-me e dei os secretos ao Nazir, que é muçulmano e não come carne de porco. À noite disse-me que a carne era muito saborosa, que devia ser vitela muito tenra. Sim, disse-lhe, era vitela barrosã! Não fui capaz de lhe dizer que me tinha enganado”.
O travesti no pátio da prisão
“Ontem, quando regressei da enfermaria, onde tinha ido medir a tensão arterial, vi um grupo que jogava uma partida de voleibol, quando fico surpreso ao ver uma mulher que, para além de jogar com destreza, deslocava-se com gestos e passos elegantes, muito femininos. Na minha surpresa, e ingenuidade, perguntei a dois reclusos que assistiam ao jogo encostados à parede: ‘De onde saiu aquela mulher. Também há mulheres nesta prisão?’ Riram-se a bandeiras despregadas: ‘Então o senhor ainda não reparou? É um homem.'”
ZAP
Para emagrecer dava passeios com o Vale e Azevedo depois de preso vem todo bronzeado ricas férias na prisa passam estes senhores. Porque não o puseram a limpar matas ou apanhar lixo nas praias? Não esteve a passar férias pagas e com ordenado ainda por cima e a cáfila que temos de jornalistas foram logo a correr tirar a respectiva foto e sacar a primeira entrevista, gajos destes iam todos para a sibéria. Mas daqui a uns dias lá estará ele a disparar a pistoleta para o arranque de mais uma qualquer corrida em Oeiras.