Inês Sousa Real acusa CAP de fazer “ataque gratuito” por estar “incomodada” com o PAN. Partido mantém confiança na líder

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Manuel de Almeida / Lusa

Inês Sousa Real, porta-voz do PAN

Inês Sousa Real, porta-voz do PAN

Inês Sousa Real acusa a CAP de estar a aproveitar-se da polémica sobre a sua participação em empresas por não gostar das propostas do PAN. O partido já reforçou a confiança na líder e acredita que o caso não vai ter impacto nas legislativas.

A polémica sobre as participações da líder do PAN em empresas agrícolas continua, com Inês Sousa Real a responder às críticas da Confederação de Agricultores de Portugal. Em entrevista à TVI esta amanhã, a líder partidária defendeu que a “CAP devia estar preocupada em juntar-se ao PANe repete que nunca recebeu “qualquer valor” das empresas em questão.

Inês Sousa Real repetiu que a cessão de quotas na Berry Dream já aconteceu e que “está em processo” o fim das suas quotas na Red Field, para se poder “dedicar em exclusividade” ao trabalho no parlamento.

“A partir do momento em que assumi o desafio como deputada na Assembleia da República não tenho tempo para acompanhar as empresas da forma como desejaria, mesmo não sendo sócia-gerente nem nunca tendo recebido qualquer valor por parte das mesmas. Neste momento não é exequível, deixei a participação nas empresas e estou neste momento a cessar também a participação na Red Fields para que não esteja relacionada com as empresas e para que me possa dedicar em exclusividade”, afirmou.

Luís Mira, secretário-geral da CAP, já teceu duras críticas à deputada e líder do partido ambientalista, dizendo tem de se demitir “se tiver o mínimo de vergonha” por ser “inaceitável que as pessoas do ponto de vista ideológico e político critiquem aquilo que depois do ponto de vista particular executam”.

Sousa Real respondeu aos comentários da CAP, afirmando que “diabolizar quem tem boas práticas é oportunismo, ataque gratuito e injustificável”. “A CAP devia estar preocupada em juntar-se ao PAN e defender as boas práticas e os nossos produtores. Não cometi nenhum crime, tenho o maior orgulho naquele que foi o nosso percurso”, disse a deputada, que acrescenta a CAP está “incomodada” por representar interesses que o PAN tem contrariado.

“É com alguma tristeza que vejo oportunismo e aproveitamento. Há mais de 9 anos que tenho estas empresas, sempre foi do conhecimento público que as detive. Quando assumi funções preenchi declaração de interesses de forma transparente. Isto não é escrutínio é ataque político”, defendeu-se, lembrando que não é proibído que os deputados tenham quotas em empresas.

A líder ambientalista acredita que o caso não abala a sua imagem no partido. “Tenho recebido muitas palavras de empatia por ter sido empreendedora, por colocar na práctica o que defendemos com modos de produção mais sustentáveis”, disse, justificando o uso do plástico nas embalagens da produção de framboesas como uma imposição do comprador.

Ainda não conseguimos fazer a transição para que não haja plástico”, justificando, sublinhando que já se usa cartão no caso dos mirtilos.

Entretanto, o partido saiu em defesa da líder. Em declarações à Rádio Observador, Albano Lemos Pires afirmou que o PAN mantém “total confiança”. “Tanto hoje como na semana passada, como há duas semanas. É exatamente igual. Aliás, cada dia mais“, reforça o dirigente partidário que considera os pedidos de demissão “completamente disparatados”.

“Não fazem sentido. Para usar uma expressão que nos poderia ser cara: é-se preso por se ter cão e não ter. Um dia somos urbano depressivos, no dia seguinte somos agricultores e portanto somos uns demónios? Francamente não há palavras para isto. É do mais baixo possível”, criticou.

Sobre a polémica, “é uma não história, um não caso”, já que Inês Sousa Real e o marido “têm um projeto agrícola exemplar, biológico, sustentável, essencialmente local que é exatamente aquilo que o PAN defende”.

Lemos Pires recusa que o caso cause estragos nas eleições legislativas e critica que os órgãos de comunicação que “estão ao serviço de determinados partidos a quem o crescimento do PAN incomoda”. “Os seus leitores talvez acreditem, mas esses leitores de qualquer maneira já não gostam do PAN, da agricultura biológica, da defesa da natureza e preocupa-os movimentos ecologistas e, portanto, para eles já era mau e era portanto não era por aí”, acusou ainda o dirigente.

As perguntas que continuam sem resposta

Apesar das justificações de Inês Sousa Real à TVI, o Observador avança que já tinha enviado questões à deputada que ficaram por responder. A polémica rebentou no sábado, quando uma carta anónima que denunciou as quotas da líder do PAN nas empresas Berry Dream e Red Fields, ambas agrícolas chegaram às redacções.

As acusações de hipocrisia surgiram devido ao recurso destas empresas a túneis que se assemelham a estufas usadas na agricultura intensiva. O Observador, que visitou os terrenos das empresas, avança que existem algumas dezenas de túneis e uma outra parte sem estruturas, o que é importante na consideração sobre se a práctica é intensiva ou não.

A líder partidária continua actualmente a deter quotas nas empresas, mas a sua versão dos factos relativamente às datas levanta questões. Sousa Real disse inicialmente que tinha cessado a participação na Berry Dream em 2013, mas o registo de interesses entregue pela deputada no início da legislatura revelou o seu marido continuava a deter 8.900 euros de participação na empresa.

Quanto à Red Fields, Inês Sousa Real admite que ainda detém uma parte da empresa, mas que está no processo de cessar as quotas para se dedicar em exclusividade ao trabalho político.

Sobre a certificação biológica da produção das empresas, a deputada revela que está toda certificada “do ponto de vista nacional quer internacional” e que têm de ser feitos testes frequentes ao solo e à água. Esta afirmação confirma-se relativamente à Berry Dream, mas não há informações sobre a Red Fields.

Relativamente ao uso de plástico nas embalagens, a líder do PAN refere que é exigido por alguns compradores e que os produtores não podem fazer nada para o prevenir.

Há também acusações sobre o pagamento de salários baixos e contratações precárias, o que Inês Sousa Real nega. “Temos contratos permanentes e também contratos de trabalho agrícolas sazonais”, vinco.

No entanto, a deputada admite que as empresas usam mão de obra estrangeira, principalmente do Nepal e do Bangladesh, o que é uma práctica comum nas explorações de frutos vermelhos em Portugal.

ZAP //

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