Inês de Sousa Real continua a liderar o PAN. “Escolheram fechar-se”

Estela Silva / LUSA

Inês de Sousa Real, Joaquim Sousa e Nelson Silva

Atual porta-voz vai manter as suas funções, depois de ter conseguido 72% dos votos no congresso do partido. Nelson Silva deixou dois recados.

Inês de Sousa Real foi reeleita porta-voz do PAN, depois de a sua candidatura à Comissão Política Nacional ter conseguido 72% dos votos no IX Congresso do partido, e Nelson Silva conseguiu também lugares naquele órgão.

Os resultados foram anunciados pela presidente da Mesa do Congresso, Alexandra Reis Moreira, depois de a votação, por voto secreto, ter decorrido durante a tarde.

“Foi reeleita Inês Sousa Real como porta-voz do PAN”, foi anunciado em Matosinhos, no distrito do Porto.

Em 133 votos possíveis, a lista A “Pelas causas que nos unem”, conseguiu 97 votos (72%) e a lista B “Mais PAN, Agir para renovar” 35 votos (28%), tendo-se registado também um voto branco.

Com estes resultados, a lista de Inês de Sousa Real conseguiu 20 lugares na Comissão Política Nacional. A outra candidatura, encabeçada pelo ex-deputado Nelson Silva, conseguiu sete mandatos na Comissão Política Nacional, órgão alargado de direção.

No que toca ao Conselho de Jurisdição Nacional, a lista A obteve 98 votos, o que significou dois mandatos, e a lista B 34 votos, um mandato.

Os estatutos em vigor estipulam que o porta-voz do PAN é a pessoa que está em primeiro lugar na lista mais votada para a Comissão Política Nacional.

A deputada única é líder do PAN desde junho de 2021, quando foi a única candidata ao lugar no Congresso que decorreu em Tomar. A atual líder sucedeu a André Silva, o primeiro deputado que o partido teve na Assembleia da República.

Diferença nas europeias

Inês de Sousa Real saudou a lista opositora encabeçada pelo ex-deputado Nelson Silva, “pela sua participação e pela integração na nova Comissão Política Nacional e Conselho de Jurisdição Nacional”.

Contamos com todas e com todos para levarmos mais longe o PAN e o nosso ideário”, garantiu.

E assumiu uma “missão de uma estratégia interna, externa para fazer aumentar e crescer o PAN, com sentido de responsabilidade, com dever de Estado, com sentido de compromisso de levar mais longe as causas” do partido.

No seu discurso de consagração, a porta-voz referiu-se também aos próximos desafios eleitorais, manifestando a intenção de voltar a ter representação na Assembleia Legislativa Regional da Madeira e no Parlamento Europeu.

Daqui a um ano poderemos fazer a diferença e resgatar o lugar que nos foi tirado no Parlamento Europeu, tenho a certeza absoluta que o PAN terá essa oportunidade e que também aí fará a diferença, que na Região Autónoma dos Açores iremos fazer o mesmo”, indicou.

Apontando que a direção eleita este sábado irá igualmente “abraçar eleições autárquicas e legislativas” durante o mandato, que com a aprovação dos novos estatutos passa a ser de três anos, Inês de Sousa Real defendeu que o PAN tem de se “apresentar como uma solução alternativa àquilo que tem sido o status quo e o conservadorismo que tem marcado as políticas públicas”.

“Esta direção vai ter de abraçar diferentes momentos eleitorais que vão testar a nossa capacidade de aumentar a representação. Estou plenamente confiante que seremos capazes de levar um projeto e um caderno de encargos do ponto de vista política que dá respostas às preocupações reais dos portugueses e aos desafios do nosso tempo, como a crise climática, cujo relógio não para e não anda para trás”, afirmou.

Já em declarações aos jornalistas no final do seu discurso, fora do auditório onde decorreu o Congresso, a porta-voz disse ter uma “responsabilidade acrescida” pela “vitória expressiva” que alcançou este sábado e quer “reconquistar a confiança e o voto do eleitorado”.

Referindo que a lista opositora conseguiu representação na Comissão Política Nacional, Sousa Real considerou que isso mostra que o PAN “não só está vivo, como tem uma democracia interna bastante plural“.

“Acredito que vamos sair mais unidos e mais coesos deste Congresso, é fundamental que o PAN não se perca em questões internas. Temos que saber refletir, trabalhar em conjunto, porque em democracia também tem que se saber respeitar os resultados eleitorais e a vontade expressiva da maioria do partido” que deu “um sinal claro que confia nesta direção”, realçou, voltando a dizer que conta “com todas e com todos os filiados que queiram trabalhar em prol do PAN”.

Questionada sobre o alargamento do mandato dos órgãos do partido de dois para três anos, a líder defendeu que o objetivo é “garantir maior estabilidade aos mandatos e uma possibilidade de execução da visão estratégica, quer interna, quer externa, quer ideológica do partido”.

A deputada único do Pessoas-Animais-Natureza respondeu também a outra crítica da oposição sobre o relacionamento do partido com o PS, indicando que vai continuar a fazer na Assembleia da República uma “oposição responsável, comprometida com as causas e, ao mesmo tempo, crítica do ponto de vista político quando o Governo falha”, e voltou a defender uma “reformulação do Governo”.

País refém

A porta-voz do PAN, reeleita hoje para mais um mandato, considerou hoje que o país “está refém de muita instabilidade política” e exigiu ao Governo “vontade política e foco” e que leve a cabo “reformas estruturais”.

“Lamentavelmente, nas últimas semanas e no último ano o país tem estado refém de muita instabilidade política, que tem deixado em suspenso as reformas estruturais que não podemos perder oportunidade de fazer”, criticou Inês Sousa Real no discurso de encerramento do nono Congresso do PAN, no qual foi reeleita com larga maioria dos votos dos delegados.

Inês de Sousa Real afirmou que “Portugal tem neste momento uma oportunidade de aceder a fundos comunitários absolutamente estruturantes para o país, para a reforma e transição energética que é preciso ser feita, para promover a economia verde, para garantir uma fiscalidade também ela verde”.

“E, acima de tudo, que garantimos e construímos uma sociedade mais justa e que damos a quem precisa, ao invés de vermos milhões de euros a irem para quem mais polui e quem mais lucra. Isto não é justiça fiscal e não é a sociedade que almejamos construir”, apontou.

Considerando que o Governo tem “faltado às famílias, e isto não pode acontecer”, Sousa Real salientou que “tem de existir vontade política e foco”.

“Não podemos estar perdidos na instabilidade que temos vivido”, defendeu.

Nelson Silva e os “fechos”

O candidato à liderança do PAN derrotado no IX Congresso disse hoje esperar que possam ser criadas pontes com a porta-voz reeleita, mas alertou que se manterá como oposição “se a democracia continuar a ser atacada”.

Em declarações aos jornalistas no final da reunião magna, que decorreu hoje em Matosinhos (distrito do Porto), Nelson Silva e felicitou Inês de Sousa Real pela reeleição como porta-voz e disse esperar que as “pontes possam ser criadas”.

Inês de Sousa Real foi reeleita líder do PAN com larga maioria e conseguiu 20 mandatos na Comissão Política Nacional. A candidatura encabeçada por Nelson Silva, apoiada pela corrente interna “Mais PAN”, conseguiu sete lugares naquele órgão alargado de direção.

“Eu saio deste Congresso com um sentimento agridoce. Foi muito importante termos conseguido apresentar esta candidatura, independentemente dos obstáculos que tivemos ao longo do caminho. Foi muito importante também dar hipótese de escolha aos nossos militantes, e o PAN merecia já ter um debate de ideias em Congresso, que é algo que tem faltado ao partido”, afirmou.

O ex-deputado disse, no entanto, ter ficado “triste com o chumbo da proposta de alteração de estatutos” que subscreveu, e “a aprovação da proposta de alteração dos estatutos A, porque claramente o PAN escolheu um caminho de fecho à sociedade e de fecho aos seus militantes”.

“As pessoas que foram eleitas do movimento ‘Mais PAN’ vão trabalhar de certeza com afinco para garantir a democraticidade do PAN, a pouca que ainda nos resta, para elevarmos o partido. Está na altura de trabalhar em conjunto, de dialogar e concentrarmo-nos no futuro”, considerou.

O membro eleito da Comissão Política Nacional, órgão que já integrou, indicou que estará “presente sempre que o partido assim necessitar, sendo um apoio fervoroso da direção se achar que a direção está a fazer o caminho que deve ser feito”, mas “sendo também seu opositor fervoroso se a democracia continuar a ser atacada”.

“Seremos oposição sempre que seja necessário”, garantiu, indicando que “tal como a posição do PAN no parlamento é sempre muito aberta e olhar medida a medida, proposta e proposta, essa é a postura” que o seu grupo vai manter na Comissão Política Nacional.

Sobre os próximos desafios eleitorais, Nelson Silva apontou que “o PAN tem ideias muito próprias, tem uma mensagem muito forte, muito positiva, e tem que ter resultados com base nessa mensagem”.

“Nós não podemos ficar dependentes daquilo que os outros partidos nos deixam ou não nos deixam fazer”, defendeu.

“Cá estaremos para trabalhar, para tentar de alguma forma durante estes três anos [de mandato] que o PAN tenha resultados eleitorais o mais positivos possível par o partido. Bons resultados para o PAN são bons resultados para o país”, salientou.

// Lusa

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