A greve dos técnicos de emergência pré-hospitalar que levou na segunda-feira a atrasos no atendimento da linha 112 deixou mais de mil chamadas por atender. O governo não esperava o “impacto da conjugação de duas greves”, mas estava a par do início da paralisação.
Os atrasos no atendimento do Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) do INEM, que poderão ter resultado em pelo menos oito mortes, vão ser investigados pela Inspeção-Geral das Atividades em Saúde.
A paralisação ocorreu em simultâneo com uma outra convocada pelo Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar, que afetava apenas as horas extraordinárias e para a qual não foram indicados serviços mínimos, nota o Público.
Segundo afirma o presidente do sindicato, Rui Lázaro, chegaram a estar menos de 10 técnicos a atender chamadas de emergência em todo o país. Durante todo o dia de segunda-feira foram atendidos apenas 2510 pedidos de socorro — o número mais baixo em mais de uma década, salienta o jornal. As ambulâncias de emergência médica saíram 111 vezes, quando o normal é fazerem 180 a 220 serviços por dia.
Segundo o JN, o INEM deixou mais de mil chamadas por atender durante o período da greve. O presidente do instituto, Sérgio Dias Janeiro, reconhece que muitas pessoas desistiram de contactar o INEM face a tempos de espera “inaceitáveis”, que “chegaram a ser de uma hora”.
Governo apanhado de surpresa
No início da semana, a Ministra da Saúde mostrou-se surpreendida com a greve. “Não estávamos de facto à espera que neste momento os técnicos de emergência pré-hospitalar se recusassem a fazer horas extraordinárias”.
A secretária de Estado da Saúde, Cristina Vaz Tomé, desmentiu as declarações da ministra, reconhecendo que o Ministério da Saúde estava a par das greves dos técnicos de emergência pré-hospitalar, mas admite que não esperava o impacto que tiveram na resposta do INEM na segunda-feira.
“Nós tivemos conhecimento do pré-aviso de greve. Houve greves semelhantes a esta, a última foi em 2023. Não estávamos à espera do impacto que resulta da conjugação de duas greves. Não estávamos à espera do impacto”, disse a governante esta sexta-feira, em declarações aos jornalistas.
“O Governo não esperava o impacto da conjugação de duas greves”, diz a secretária de estado, que lamenta as mortes ocorridas esta semana.
Cristina Vaz Tomé salienta que “ninguém sabe se teriam ocorrido se o socorro do INEM tivesse chegado a tempo”, opinião já manifestada esta sexta-feira pelo primeiro-ministro, Luís Montenegro, que diz não ter a certeza de que as mortes ocorreram por causa do atraso no INEM.
As mortes alegadamente relacionadas com a falta de socorro por parte do INEM já motivaram a abertura de cinco inquéritos pelo Ministério Público — em Bragança, Cacela Velha, Vendas Novas, Almada e Ansião. Um dos casos foi arquivado por ausência de indícios de crime.
O processo de inquérito incide sobre “as situações noticiadas, nos últimos dias, sobre os eventuais atrasos no atendimento realizado pelo Centro de Orientação de Doentes Urgentes do Instituto Nacional de Emergência Médica”, adianta a IGAS na resposta à Lusa.
Pedro Nuno responsabiliza primeiro-ministro
O secretário-geral do PS responsabilizou o primeiro-ministro pela crise no INEM, advertindo que não é um problema exclusivo da ministra da Saúde e exigindo que se retirem consequências políticas.
Numa declaração aos jornalistas, Pedro Nuno Santos considerou que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, tem de retirar consequências políticas da crise dos últimos dias nos serviços de emergências médica, embora nunca tenha exigido a demissão da ministra da Saúde.
“A avaliação sobre a continuidade da senhora ministra não é do líder do PS, deve ser feita pelo primeiro-ministro”, afirmou o líder socialista.
Pedro Nuno Santos frisou que a responsabilidade da crise no INEM já não é só da ministra da Saúde como “também do Governo todo e do primeiro-ministro em particular”.
O primeiro-ministro “optou por desvalorizar” a greve dos profissionais de emergência médica, dizendo que não podem andar sempre atrás de pré-avisos de greve em vez de garantir que a situação iria ser averiguada e daí ser retiradas consequências”.
“Estamos perante um caso muito grave de negligência, irresponsabilidade e incompetência por parte do Governo na gestão da greve dos trabalhadores de emergência médica”, sustentou.
“Sabemos hoje que o Governo sabia — e sabia já há muito tempo — que esta greve, primeiro, poderia ocorrer, e, pelo menos há 10 dias, que a greve ia ocorrer. Sabemos também que o Governo nada fez para evitar a greve, nem para minorar os impactos desta greve”, diz Pedro Nuno Santos.
“Aliás, sabemos que bastava uma reunião para impedir que a greve acontecesse, tal como agora foi sucedido”, salienta o líder do PS.
“Desde logo, não foram decretados serviços mínimos e, ao contrário do que tenho ouvido, os serviços mínimos também podem ser decretados às greves ao trabalho suplementar”, notou Pedro Nuno Santos.
10 dias não são 3000 dias de inação
O ministro da Presidência lamentou esta sexta-feira as mortes por alegada falta de socorro do INEM e acusou o PS de inação e de falta investimento no instituto de emergência médica durante oito anos.
“Quaisquer mortes por relação com a atuação do Estado são de lamentar profundamente e merecem avaliação e investigação e essa investigação foi ordenada para perceber os contornos de cada uma delas, para que possamos analisar e decidir em conformidade”, disse António Leitão Amaro.
O secretário de estado, que estava a ser ouvido no parlamento no âmbito da discussão na especialidade do OE 2025, respondia a uma questão da deputada do PS Isabel Moreira, que notou que a ministro da Saúde nada teria feito para impedir o a paralisação — uma vez o sindicato lhe deu 10 dias para iniciar negociações.
“A senhora deputada falou de 10 dias, 10 dias não são 3 mil dias, nem 8 anos de inação”, disse Leitão Amaro, numa referência aos oito anos de governação dos executivos liderados por António Costa..
“Quando faz uma avaliação política das causas para os problemas dramáticos que o INEM enfrenta, o PS precisaria de ter um bocadinho de pudor“, afirmou Leitão Amaro, que acusou os socialistas de terem a “responsabilidade de oito anos de desinvestimentos, de falta de recursos humanos, de desvalorização dos profissionais, de ignorância das reivindicações dos TEPH”.
“Da parte deste Governo, não resolvemos todos os problemas num dia, estamos a tomar a medidas”, acrescentou o governante.
Medidas reduziram tempo médio de espera
As chamadas para os Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) estão a registar um tempo médio de espera inferior a um minuto, anunciou esta sexta-feira o INEM, que atribuiu essa melhoria da resposta às medidas recentemente implementadas.
“Os tempos médios de atendimento dos CODU apresentam melhorias significativas, após a implementação das medidas de contingência com vista à otimização do funcionamento da central médica do INEM”, adiantou o instituto em comunicado.
Segundo a instituição, desde as 00h00 desta sexta-feira que o tempo médio para atendimento de chamadas para o número de emergência se situa nos 17 segundos.
De acordo com os dados disponibilizados pelo instituto, em relação a quinta-feira, o tempo médio a partir das 00h00 foi de um minuto e 11 segundos, desde as 16:00 foi de 52 segundos e, após as 19h00, os CODU passaram a atender as chamadas encaminhadas pela central 112 em 37 segundos.
Apesar desta “evolução positiva”, o conselho diretivo do INEM admite, segundo o comunicado, que os valores “não são ainda os ideais”, pelo que continuará a desenvolver “todos os esforços” no sentido de melhorar estes indicadores.
Do conjunto de medidas anunciadas pelo INEM na quarta-feira, foi implementado, do dia seguinte, o reforço das escalas de técnicos de emergência pré-hospitalar (TEPH) no período diurno, em detrimento do turno da noite.
Na quinta-feira, foi ainda simplificado o algoritmo de triagem nas ocorrências mais graves e prioritárias, alocados TEPH que tripulam as unidades móveis de intervenção psicológica de emergência e as ambulâncias de transporte inter-hospitalar pediátrico ao atendimento das chamadas do CODU e integrados enfermeiros nas equipas do CODU para realização de determinadas funções.
Ainda esta sexta-feira, começaram a ser integrados no atendimento dos CODU técnicos que até agora estavam em serviços de suporte e elementos da coordenação operacional, avançou ainda o instituto.
“O INEM conta implementar, num prazo de dias, o mecanismo de atendimento automático que será acionado apenas em momentos de sobrecarga do sistema do CODU, em que o atendimento de chamadas ultrapasse os três minutos”, refere também o comunicado.
Este mecanismo permitirá, de “forma rápida e automática”, estratificar a gravidade das situações e ativar uma prioridade para o acionamento de meios ou, por outro lado, transferir a chamada para o SNS 24, referiu o INEM, que irá monitorizar o impacto destas medidas diariamente e ajustá-las de acordo com os resultados alcançados.
O instituto alerta ainda que o número europeu de emergência 112 deve ser contactado apenas em situações de emergência, para garantir que os recursos estejam disponíveis para quem realmente precisa.
ZAP // Lusa
Não há profissionais para esta área da saúde. Só António Costa, deixou fugir umas dezenas destes profissionais. Não há milagres. O que me parece é que a estrutura do SNS é grande demais e treme por todo o lado. Deveria ser reduzida a 60%, passando os outros 40% para o privado, gratuito para os utentes . Enquanto assim permanecer não há ministro da Saúde que resista. Tem que haver tempo de coragem para resolver definitivamente esta calamidade nacional.
a solução é dar dinheiro muito dinheiro a toda a gente do setor publico e os outros que se contentem com as migalhas e que paguem impostos por tudo e nada para os sustentar ,a culpa é da ministra ou dos funcionarios do INEM que sabiam perfeitamente o que ia acontecer e que pensaram que quantas mais mortes melhores para nos darem mais dinheiro
Haja uma auditoria ao que se passou. Não basta dizer que houve greve.
o problema é que quantas mais mortes houvesse melhor para eles exigirem mais aumentos quiseram lá saber se podia morrer gente desde que não fosse da familia deles