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“Imunidade híbrida”. Combinação de dois fatores cria poderosa resposta imunológica contra variantes

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Carlos Ramirez / EPA

Ter estado infetado com covid-19 e ter recebido uma vacina de mRNA é uma combinação poderosa que ajuda na criação de anticorpos que fazem com que a pessoa fique imune à doença.

Ser imune à covid-19 pode ser um dos maiores desejos atuais da maior parte da população do mundo – visto que a doença já tirou a vida a milhões de pessoas.

Com o aparecimento das novas variantes, que têm sido caraterizadas pelos especialistas como mais fáceis de propagar, o número de infeções tem sido mais difícil de controlar, mas ainda assim há pessoas que são imunes ao vírus. Afinal, quem é que beneficia desta “imunidade híbrida”?

Um artigo publicado em junho na revista Science mostra que há humanos que são menos suscetíveis a contrair a SARS-CoV-2: “No geral, a imunidade híbrida parece ser impressionantemente potente”, escreveu Shane Crotty, autor do artigo.

De acordo com o artigo, nos últimos meses, uma série de outros estudos descobriu que algumas pessoas desenvolvem uma resposta imunológica extraordinariamente poderosa contra o SARS-CoV-2 – o coronavírus que causa a covid-19.

Isto deve-se ao facto do seu organismo produzir níveis muito elevados de anticorpos, mas também produzir anticorpos com grande flexibilidade, ou seja, capazes de combater as mais perigosas variantes do coronavírus que circulam no mundo, sendo ainda eficazes contra as variantes que possam surgir no futuro.

“Pode-se dizer que essas pessoas irão estar muito bem protegidas contra a maioria – e talvez todas – as variantes do SARS-CoV-2 que provavelmente teremos de conviver num futuro próximo”, explica Paul Bieniasz, virologista da Universidade de Rockefeller, que ajudou a conduzir alguns dos estudos.

Num estudo publicado no mês passado, Bieniasz e a sua equipa encontraram anticorpos em indivíduos que podem neutralizar fortemente as seis variantes testadas – incluindo a Delta e Beta – bem como vários outros vírus relacionados ao SARS-CoV-2.

“Pode ser um pouco mais especulativo, mas eu também diria que estes indivíduos teriam algum grau de proteção contra os vírus do tipo SARS que ainda não infetaram humanos”, frisou Bieniasz.

Estas conclusões levam-nos a questionar quem são os humanos capazes de criar uma resposta imune tão poderosa. Os especialistas, escreve a NPR, explicam que isto se deve à “imunidade híbrida” que é alcançada quando já se foi infetado com o novo coronavírus e imunizado com uma vacina de mRNA.

“Essas pessoas têm respostas incríveis à vacina“, refere a virologista Theodora Hatziioannou da Universidade Rockefeller, que também ajudou a conduzir vários dos estudos.

“Estas pessoas estão na melhor posição para combater o vírus. Os anticorpos no sangue dessas pessoas podem até neutralizar o SARS-CoV-1, o primeiro coronavírus, que surgiu há 20 anos. E este vírus é muito, muito diferente do SARS-CoV-2”, destaca.

Os anticorpos de pessoas que foram apenas vacinadas ou que só tiveram infeções anteriores por coronavírus eram essencialmente inúteis contra o vírus mutante. No entanto, os anticorpos em pessoas com a “imunidade híbrida” mostraram-se capazes de neutralizá-lo.

Estas descobertas mostram o quão poderosas as vacinas de mRNA podem ser em pessoas com exposição anterior ao SARS-CoV-2, explica a investigadora.

Porém, este “método” híbrido tem uma desvantagem: É que para terem a tão desejada imunidade, os humanos têm primeiro de passar pela doença. “Depois das infeções naturais, os anticorpos parecem evoluir e tornam-se não apenas mais potentes, mas também mais amplos. Assim, tornam-se mais resistentes a mutações dentro do [vírus]”, esclarece a especialista.

Hatziioannou e a sua equipa não consegue garantir que todas as pessoas que estiveram infetadas e, em seguida, tomaram uma vacina de mRNA, terão uma resposta imunológica tão notável, pois os investigadores apenas estudaram o fenómeno em alguns pacientes.

Ainda assim, a investigadora acredita que esta situação seja comum em muitos casos, já que, num estudo com 14 pacientes, todos eles apresentaram os mesmos resultados.

Por outro lado, vários outros estudos reforçam a ideia de que a exposição ao vírus e a administração de uma vacina de mRNA desencadeia uma resposta imunológica excecionalmente poderosa.

Num estudo publicado no mês passado no The New England Journal of Medicine, os cientistas analisaram anticorpos gerados por pessoas que tinham sido infetadas com o vírus SARS original – SARS-CoV-1 – em 2002 ou 2003 e que receberam uma vacina de mRNA neste ano.

Percebeu-se que estas pessoas também produziram altos níveis de anticorpos e estes poderiam neutralizar uma ampla gama de variantes e vírus semelhantes ao SARS.

Atualmente, as únicas vacinas que utilizam a tecnologia mRNA são da Pfizer e da Moderna.

Este mês, um estudo do Instituto Ricardo Jorge revelou que as vacinas que utilizam a tecnologia mRNA apresentam uma eficácia que pode chegar aos 96% na proteção face à mortalidade da doença, em especial nos idosos.

Ana Isabel Moura, ZAP // Lusa

4 Comments

  1. Façam contas a estas noticias e depois se queixem de voltar apanhar o covid a segunda vez mesmo depois da vacina. Já não é inédito casos de apanhar a doença, ser vacinado a seguir e voltar apanhar a doença outra vez. As novas variantes estão a fazer um trabalho 5 estrelas a inovar a ponto de começarem a iludir as vacinas a partir do virus morto.

    • Não ser inédito não tem nada haver com ser provável, não é inédito ganhar um sorteio 2x ou ser atingido por um raio 3 x
      Mas ninguém vai fazer contas com isso na vida.

      Pessoalmente conheço mais pessoas que foram parar ao hospital da vacina do que do vírus em si.
      Mas a minha experiencia não quer dizer que é a realidade estatística.

      Em toda a verdade, a probabilidade de morrer de cancer, Complicações de Diabetes, AVC ou problemas de coração é quase de 50% e aposto que vive o seu dia a dia sem tomar as devidas precauções, mas preocupa-se com um vírus que só atinge 0,2% da população frágil
      50% vs 0,2% mostra o seu nivel de paranoia.

    • Mas em lado nenhum se lê que a vacina nos impede de apanhar nova infecção por covid… O que a vacina faz é ensinar o corpo a ter “tropas” prepatadas para um vírus sarscov… E quando ele entra no corpo, a resposta gerada pelo sistema imunitário é tão rápida que pode até nem se aperceber que o foi. Mas claro, terá sempre pessoas com sistema imunitário mais fraco, que demorarão mais tempo a reagir, mesmo tendo tomado a vacina. Mas o importante é que já têm a circular no corpo alguma imunidade para ganhar tempo na criação de novos anticorpos de forma natural. É uma vacina… Não é um milagre!

  2. Muito interessantes os vossos comentários. Mas acima de tudo o artigo é interessante. É interessante porque fala em estudos (um deles feito com 14 pessoas, uma amostra credível, portanto) e citando “Os anticorpos de pessoas que foram apenas vacinadas ou que só tiveram infeções anteriores por coronavírus eram essencialmente inúteis contra o vírus mutante” e “um estudo do Instituto Ricardo Jorge revelou que as vacinas que utilizam a tecnologia mRNA apresentam uma eficácia que pode chegar aos 96% na proteção face à mortalidade da doença”. Não estou a entender. Ou é inútil ou é eficaz. Ajudem-me a perceber isto. Por último, estas noticias perturbam-me porque os tais cientistas do estudo não garantem o que estão a dizer porque ainda observaram poucas pessoas, diz esta mesma notícia. Sou de ciências. Quando escrevo artígos científicos baseio-me em evidências. Não olho para 14 pessoas e publico uma teoria! Começo a ter esta leitura, qualquer linha pode ser escrita e publicada se for pró-vacina. Opiniões contrárias, já não é bem assim. De repente, não sei quem é mais negacionista. Mas isto não é ciência.

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