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Robôs que roubam empregos devem pagar impostos? Bill Gates (e não só) acham que sim

Algumas personalidades acreditam que as empresas devem pagar quando substituem trabalhadores por máquinas. Uma espécie de imposto pelos robôs que “roubam” os nossos trabalhos.

O debate é quente nos Estados Unidos, onde figuras como o fundador de Microsoft, Bill Gates, o senador americano Bernie Sanders e o governador de Nova Iorque, Bill de Blasio, já se manifestaram a favor de um imposto do género. Este último, aliás, já detalhou um plano para implementar o imposto na sua curta campanha presidencial.

Gates disse que o imposto poderia ajudar a financiar empregos que exigem “empatia e compreensão humana”, como cuidar de idosos, ter turmas mais pequenas ou ajudar crianças com necessidades especiais.

“Se um trabalhador humano faz 50.000 dólares de trabalho numa fábrica, essa rendimento é tributado. Se um robô vier para fazer a mesma coisa, seria de imaginar que tributaríamos o robô a um nível semelhante”, disse Gates, ainda em 2017.

No seu novo livro, Bernie Sanders escreve que Bill Gates “não é alguém com quem concorde regularmente”, mas realça que está do seu lado.

“Se os trabalhadores serão substituídos por robôs, como será o caso em muitos setores, precisaremos de adaptar as políticas fiscais e regulatórias para garantir que a mudança não se torne simplesmente uma desculpa para a corrida ao lucro por corporações multinacionais”, escreve Sanders no livro “It’s OK To Be Angry About Capitalism“.

O antigo candidato a Presidente dos Estados Unidos também refere outras ideias, que envolveriam que as empresas pagassem uma parte dos impostos dos salários para um fundo de readaptação para trabalhadores deslocados ou que impediriam que a automação reduzisse a receita tributária.

A ideia do imposto sobre robôs serviria para retardar a automação que alegadamente destrói postos de trabalho humanos e também aumentar as receitas dos governos. Nem todos concordam, no entanto.

Mito da automação

“É uma das ideias mais desmioladas. Quase todos os aspetos estão errados”, diz o economista Dean Baker, ao The Wall Street Journal, argumentando que o país deve incentivar o crescimento da produtividade e não inibi-lo. “O problema que aparentemente estamos a tentar reparar não existe”.

Num texto publicado pelo think tank norte-americano Brookings, Robert Seamens, professor da NYU Stern School of Business, argumenta que apesar da intenção destes imposto poder ser boa, são “uma ideia equivocada que teria consequências negativas para as empresas, para os seus trabalhadores e, em última análise, para economia”.

A ideia de que os robôs estão roubar empregos, defende Seamens, “não é bem fundamentada” e levaria a um menor crescimento económico.

O apresentador do Last Week Tonight, John Oliver, abordou o assunto do impacto da automação nos empregos, em 2019, dando o exemplo das caixa de multibanco. Quando surgiu esta inovação, muitos trabalhos de vários bancos ficaram preocupados com a possibilidade de perderem os seus empregos.

Os seus medos acabaram por não se confirmar — até pelo contrário. O número de postos de trabalho subiu no setor bancário dos Estados Unidos entre 1980 e 2010. “Os seus empregos não se perderam, apenas mudaram”, disse John Oliver.

“No ano de 1900, cerca de 40% da mão de obra estava na agricultura. Se um economista voltasse atrás no tempo e dissesse que dentro de 100 anos, apenas 2% da força laboral iria trabalhar na agricultura, ninguém saberia o que os outros 38% ia fazer“, exemplificou David Autor, economista do MIT.

Isto para explicar que “grande parte dos empregos que hoje temos, há dezenas de anos atrás nem existiam“, acrescentou.

Daniel Costa, ZAP //

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